Uma explosão sensorial no autismo é o tema da minha coluna hoje. É que hoje vou falar da dificuldade que alguns autistas enfrentam com o excesso de estímulos presente em shoppings e feiras. Muitos, por vezes, preferem o ambiente online. No entanto, eu apresento um problema oposto. Ou seja, a superestimulação causada pela enxurrada de anúncios e notificações.
Isso ocorre em datas como Black Friday e 11/1, que é uma espécie de Black Friday chinesa, mas que o mundo inteiro participa. Afinal, essa profusão de ofertas, banners piscando e pop-ups atrapalha a concentração e o foco. Assim, dificulta a tomada de decisão e me leva a compras impulsivas ou equivocadas.
As pessoas falam tanto que sair de casa, fazer compras e ir ao shopping center são coisas difíceis para um autista. Tudo isso, afinal, envolve uma rua cheia de gente, com muitas pessoas, bastante conversa e uma sobrecarga de estímulos para processar. Claro, a gente sabe que o autista processa esses estímulos de um modo diferente. E às vezes até com um certo atraso. Então, pode ser mais difícil de a gente lidar com essa profusão de sensações que vão surgindo.
Tais vivências vêm em decorrência do Transtorno de Processamento Sensorial (TPS). Este traço integra a lista de critérios diagnósticos para o autismo desde o DSM-V, de 2013. O TPS diz respeito a alterações no processamento das informações e de estímulos do sistema nervoso no cérebro. Por exemplo, a dificuldade pode ser percebida quando a autista reclama de luz, odores, toques ou sons. Estes são casos de hipersensibilidade sensorial.
Porém, também há casos de hiposensibilidade sensorial no autismo. Uma criança que corre ou se balança demais é um exemplo clássico disso. O TPS, no entanto, não é apenas uma característica do TEA. Na verdade, trata-se de um transtorno distinto que usualmente se manifesta nas pessoas autistas.
Por outro lado, eu tenho muita dificuldade em algo mais específico. Ou seja, fazer compras pela Internet. Em datas como a Black Friday, eu não consigo comprar nada. Isso, por mais estranho que apareça, acontece porque eu de fato quero comprar. Então, tenho um foco. Mas, com tantas promoções e anúncios, além de marketing
em redes sociais, eu não consigo filtrar o que eu tenho que comprar. Assim, sempre acabo comprando errado. Em outras palavras, sempre compro itens para mais ou para menos. Enfim, dá sempre algum problema.Claro que a minha experiência pode não ser universal entre os autistas. Afinal, cada pessoa tem suas próprias preferências e dificuldades sensoriais. Contudo, o meu relato destaca um ponto importante. Em outras palavras, existe a necessidade de as plataformas digitais oferecerem opções de personalização para filtrar o excesso de informações.
Isso deve acontecer especialmente em períodos de grande apelo comercial. Portanto, ferramentas que permitam ao usuário controlar a quantidade de notificações e anúncios recebidos, ou mesmo a possibilidade de navegar em um ambiente mais “limpo” visualmente, podem ser cruciais para tornar a experiência de compra online mais acessível e agradável para pessoas autistas.
Sophia Mendonça é jornalista e escritora. Também, atua como youtuber do canal “Mundo Autista” e é colunista da “Revista Autismo/Canal Autismo“ e do “Portal UAI“. Além disso, é mestre em Comunicação, Territorialidades e Vulnerabilidades (UFMG) e doutoranda em Literatura, Cultura e Tradução (UfPel). Assim, em 2016, tornou-se a pessoa mais jovem a receber o Grande Colar do Mérito em Belo Horizonte. Já em 2019, ganhou o prêmio de Boas Práticas do programa da União Européia Erasmus+.
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