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Um papo com a escritora Andrea Taubman sobre literatura infantil

Victor Mendonça e Andrea Taubman

Victor Mendonça conversa com a escritora Andrea Taubman sobre a escrita com sensibilidade para crianças e como elas podem ser a solução para o mundo.

Victor Mendonça: A Andréa Taubman é uma pessoa e uma escritora incrível, porque ela faz algo que eu amo. Ela escreve com sensibilidade, profundidade e delicadeza, livros para o público juvenil. Quando um autista gosta muito de um assunto, ou de uma pessoa, ele tende a falar demais, então eu vou deixar a Andrea se apresentar e responder o que a move para ser essa escritora incrível.

Andrea Taubman: Olha, eu tenho um amor profundo, uma dedicação muito grande à infância e o que me move é querer escrever aqueles livros que eu gostaria de ter lido na infância e que ninguém tinha escrito. Eu vejo que a infância é um período que se coloca como sendo muito mágico, muito feliz, mas não é bem assim não.

O mundo é feito para os adultos e as crianças, muitas vezes, sofrem pelas emoções que elas não conseguem entender muito bem e o mundo adulto não tem tanta paciência para sentar, conversar, ter uma escuta ativa para a criança. De alguma forma, a literatura vai ao encontro dessa falta que me fez na infância para poder me entender emocionalmente e eu quero escrever para transformar lágrimas em letras.

Victor Mendonça: Eu super me identifico com o que você fala porque você tocou em um ponto muito importante: o ser humano em geral tem um ponto em que não consegue elaborar 100% suas emoções, os sentimentos que permeiam a vida deles. Nas crianças, a dificuldade passa pela falta de experiência mesmo e, como você disse, os adultos não têm essa paciência de explicar para elas. Fale um pouco sobre suas obras.

Andrea Taubman: Eu inaugurei a minha carreira literária com o livro O menino que tinha medo de errar e que já está na segunda edição. A capa mudou comparada à capa de 10 anos atrás, e atualmente é publicado pela editora Zit. O livro fala sobre o menino Pedro, um menino que tem muito, mas muito medo de errar. E, por causa disso, ele não brinca, ele só fica dentro de casa sozinho na frente da televisão. Tudo isso porque ele morre de medo de as outras crianças zombarem dele. Ele vai para a escola e é aí que a coisa fica pior ainda: quando ele começa a alfabetização, ele não quer errar de jeito nenhum. Então, como diz o trecho aqui: “Hoje vamos aprender uma nova lição. Seus colegas ficavam curiosos, na maior agitação, mas Pedro ai ai, só sofria.

. E o pior de tudo era o pavor de ser motivo de gozação.Então, quando os amigos dele o chamam para jogar bola, ele não vai. Ele sofre muito, claro, uma criança assim sofre demais.

Victor Mendonça: Existem vários Pedros por aí.

Andrea Taubman: Não é só criança, tem vários Pedros adultos também.

Victor Mendonça: Até na terceira idade.

Andrea Taubman: Eu já vi adultos chorarem

de escorrer lágrimas lendo esse livro. É bem impressionante porque é algo que a gente carrega, muitas vezes, desde a infância, desde pequeno. Algumas vezes, quando a gente chega com o boletim com a nota 9,5 em casa e alguém pergunta por que você não tirou 10, isso acontece. E aquela criança vai se sentindo inadequada, inadequada e paralisa a vida. Então, esse é O menino que tinha medo de errar e eu amo muito esse menino que inaugurou a minha vida de escritora. Tem até O Menino que tinha medo de errar com pequenos escritores, com a criança reescrevendo. É um projeto em que a criança reescreve a história com as suas palavras.

Victor Mendonça: Que maravilha! A arte é realmente transformadora. Eu sou suspeito para falar, mas é sim.

Andrea Taubman: A gente sabe que é. E assim, eu escolho, de um modo geral, temas um pouco mais delicados. Por exemplo, o meu livro Meu amigo partiu está fora de catálogo. Antes da pandemia, a gente estava vendo com uma editora. O livro foi escrito em 2011. Eu moro em Teresópolis, no Rio de Janeiro. E em 2011, nós tivemos uma tragédia natural que ceifou muitas vidas. Naquela ocasião, uma das vidas ceifadas foi a de um colega de turma do meu filho caçula. Foi algo terrível porque, quando fala do vovô que partiu, geralmente ele já é muito velho, a vovó também, são pessoas mais idosas. É mais natural falar do desaparecimento físico dessas pessoas. Ou os animais, que duram menos do que nós, de um modo geral. Mas, para uma criança elaborar a morte de um amigo da mesma idade, é muito mais difícil.

Victor Mendonça: E é aí que entra o poder transformador da sua escrita, por isso te admiro tanto. Você pega temas delicados e os transforma com uma beleza que toca o coração da pessoa, a ponto de ela elaborar isso ainda criança e não se tornar aquele adulto que nós falamos anteriormente, com coisas mal resolvidas.

Andrea Taubman: Eu acho Victor que o mundo adulto precisa começar a ter olhos e ouvidos para o que as crianças pensam e sentem, cada vez mais. É muito necessário, é vital. Neste momento, em que nós precisamos pensar as nossas estratégias, as crianças podem apontar a solução. Elas não são o problema, elas são parte da solução.

Victor Mendonça: Perfeito! Vamos fazer uma série quinzenal com a Andrea Taubman. Nosso próximo papo será sobre ‘O menino só’. Siga com a gente!

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