2023 foi um dos anos mais complexos e duros da minha vida. Isso porque ele veio depois de 2022, que foi o ano em que conquistei o que tinha como meta para a minha existência. Ou seja: além de concretizar materialmente o encontro com a minha identidade, o que solucionou a maior dor de toda a minha trajetória, eu me tornei mestre em Comunicação pela UFMG. Além disso, percebi o “Mundo Autista” (2015-atual) tendo picos de repercussão e ainda lancei um best seller, o livro “Autismo no Feminino“ (2022), que teve centenas de avaliações cinco estrelas na Amazon.
Tudo isso parecia ser um final feliz para a história daquela menina que nunca teve sua voz ouvida nem respeitada e, agora, efetivamente podia usar a própria experiência como um meio de criação artística capaz de tocar a vida de muitas pessoas. Nesse sentido, considero 2023 o meu primeiro ano como adulta, um pouco tardia. Afinal, ele renovou as parcerias da minha trajetória de uma maneira dolorosa demais para ser suportável.
Em 2023, eu me vi lutando contra uma doença que resolvi não tornar pública, mas poderia colocar até a minha existência em risco. Eu me vi sendo xingada das piores ofensas apenas porque reivindiquei o direito de ter a minha trajetória reconhecida, nunca no sentido de prestígio, apenas validada como alguém que existiu em meio a um contexto de produção de conteúdo de autistas. Eu me vi sofrendo assédios de homens na rua em uma cidade em que acabei de chegar. Então, eu me vi tentando curar as sequelas de uma experiência de violência doméstica em meio a isso tudo.
Talvez ninguém nunca vá compreender a profundidade disso, mas em meio a toda essa dor eu não ter mais aquela infelicidade extrema de me forçar a ser quem não sou, me deu forças para simplesmente ser. “Eu me vi” e isso me proporcionou a curtir muito mais cada momento de respiro em meio ao caos e cada alegria compartilhada em meio às amizades reais que se solidificaram ou surgirem neste ano. Dessa forma, 2023 tornou-se o ano da cura e do triunfo de uma mulher aos problemas que tentaram impedi-la de existir e conviver.
Inspirada pelo trabalho do querido Leo Cunha, resolvi fazer uma retrospectiva literária da minha obra em 2023. O objetivo é comemorar que, apesar dos desafios dolorosos, esse ano trouxe novos frutos à minha trajetória:
LITERATURA
Metamorfoses (Páginas Editora)
Autismos (Juruá Editora)
Nem Tudo é o que Parece (ebook kindle)
AUDIOVISUAL
Gêmeas Trans (HBO Max/Discovery)
Desvendando mitos sobre o autismo (Shopping Boulevard)
Mundo Autista (Youtube)
PALESTRAS
II Simpósio Internacional de Inclusão no Ensino Superior (USP)
Poética Autista (Ufpel)
A estética como política (Ufpel)
Congresso Extraordinário (Genial Care e Revista Autismo)
Roda de Conversa do Dia do Orgulho Autista (Mundo Autista)
PREMIAÇÕES
Quinto prêmio de influenciadores digitais do Portal da Comunicação (canal Mundo Autista)
PARCERIAS
Selma Sueli Silva (Autismos, Nem Tudo é o que Parece e Mundo Autista)
Gabriela Guedes (Desvendando mitos e verdades sobre o autismo)
Marcella Miranda (Gêmeas Trans)
Pierpaolo Negri (II Simpósio Internacional de Inclusão no Ensino Superior)
Laís Braga e Gustavo Rückert (Poética Autista)
Alfeu Sparemberger (A estética como política)
Radija Ohanna (Mundo Autista)
James Cruz e Myriam Letícia (Congresso Extraordinário)
Sophia Mendonça é uma jornalista, escritora e pesquisadora brasileira. É mestre em Comunicação, Territorialidades e Vulnerabilidades (UFMG) e doutoranda em Literatura, Cultura e Tradução (UfPel). Em 2016, tornou-se a pessoa mais jovem a receber o Grande Colar do Mérito em Belo Horizonte. Em 2019, ganhou o prêmio de Boas Práticas do programa da União Européia Erasmus+
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