Tenho recebido, no consultório, autistas adultos que foram diagnosticados de forma errada. Ou seja, diagnóstico de TAB – Transtorno Afetivo Bipolar e TEA – Transtorno do Espectro do Autismo. Como resultado, eles saem da internação abalados e sem fé. Aliás, muitas vezes, o Transtorno Afetivo e Autismo favorecem o suicídio.
A nota técnica do Governo Federal, complementar ao Programa de mudanças em Saúde Mental, trouxe esperança, é verdade. Assim, numa avaliação superficial, o aumento de leitos e tratamentos modernos podem parecer maravilhosos. Contudo, não são.
Por exemplo, a ECT – eletroconvulsoterapia, procedimento que utiliza corrente elétrica. Ela provoca convulsão generalizada. E é feita sob anestesia geral. Além disso, a ECT é um recurso usado para diversas condições psiquiátricas. Mas, é preciso analisar os contextos públicos e sociais para o sucesso das medidas. Certamente, a Nota Técnica, não deve ser usada como meio de controle social e maior exclusão.
O debate sobre os riscos da perda de conquistas e dos direitos da pessoa com deficiência causa grande apreensão à sociedade. Além disso, ainda temos o medo do retorno dos manicômios. Principalmente para pessoas com deficiência psicossocial.
Aliás, dentro do espectro autista, muitos desenvolvem depressão. Então, esse fato é risco real para a internação. Por causa dos momentos de crise aguda. Em suma, crises são indicadores frequentes das internações e tratamentos de prognósticos difíceis. Por exemplo, a depressão e o TAB. Dessa maneira, é preciso considerar a possibilidade de diagnóstico duplo, de TEA e de TAB.
Problemas de saúde mental é a causa nº 1 para o suicídio. Dados da OMS, Organização Mundial de Saúde. E, no no espectro autista temos 60% a mais chances de desenvolver a depressão. Conclusão, 60% de chances a mais para o autista cometer suicídio.
Transtorno afetivo bipolar e autismo, não são diagnósticos excludentes. Assim, devem ser considerados com maior atenção.
Para o autista, é importante a integração de diversos saberes e experiências sobre a TAB. Essa é a razão de se buscar profissionais especializados. E, claro, dispensar aqueles que se baseiam em pseudociência. O tratamento eficaz, só é possível, se o diagnóstico for preciso.
Adrianna Reis de Sá é psicóloga clínica e professora universitária, com mestrado em Bioética pela UnB – Universidade Federal de Brasília. É especialista em saúde mental e autismo. Estuda questões de gênero e direitos humanos. É palestrante sobre temas como autismo feminino, direitos humanos e maternidade típica e atípica. Adrianna é mãe de três filhas neurodiversas. A mais velha, a ativista Amanda Paschoal.
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