The Traitors: Um Jogo de Engano e a Complexa Camada do Masking, uma estratégia de dupla face para participantes autistas.
“The Traitors” conquistou o público com sua premissa eletrizante: em um grupo de participantes, alguns são secretamente designados como “Traidores”, enquanto os demais são os “Fiéis”. O objetivo dos Fiéis é descobrir e banir os Traidores antes que sejam eliminados. Os Traidores, enquanto isso, tramam nas sombras para chegar ao fim e levar o prêmio em dinheiro. Inspirado em jogos clássicos como Máfia e Lobisomem, o reality show tece uma teia fascinante de suspense psicológico e estratégia pura.
Um dos elementos mais cativantes do programa é a atmosfera de desconfiança onipresente. A dúvida sobre quem é sincero e quem esconde um segredo paira sobre cada interação. Cria-se, dessa forma, um ambiente de paranoia palpável. As dinâmicas sociais são levadas ao limite. Assim, as alianças nascem e se desfazem, impulsionadas por intuição, observação e, muitas vezes, meras suposições. Em The Traitors, a leitura das pessoas e a capacidade de discernir a verdade da mentira são habilidades cruciais para a sobrevivência no jogo.
Ao analisarmos o conceito de masking dentro do contexto de The Traitors, podemos vislumbrar como essa prática, comum em algumas pessoas autistas, poderia se manifestar e quais seriam suas implicações no intrincado jogo de engano e detecção.
Masking, ou camuflagem social, refere-se ao conjunto de estratégias, conscientes ou inconscientes, que indivíduos autistas utilizam para mascarar ou suprimir características autísticas e se adequarem às expectativas sociais de pessoas neurotípicas. Essa adaptação pode envolver desde imitar comportamentos sociais e forçar o contato visual até suprimir maneirismos (como o stimming) e internalizar o desconforto em situações sociais.
Em The Traitors, o masking poderia se apresentar como uma ferramenta complexa e paradoxal para um participante autista:
Em resumo, o masking em The Traitors representaria uma faca de dois gumes para um participante autista. Embora possa oferecer uma forma de se integrar superficialmente e evitar a detecção inicial, o alto custo energético e a dificuldade em manter a máscara sob pressão poderiam torná-lo uma estratégia insustentável e potencialmente prejudicial a longo prazo. A capacidade de um jogador autista de prosperar no jogo dependeria de uma complexa interação entre suas habilidades de masking, sua capacidade de análise lógica e a percepção e compreensão dos outros participantes. A experiência certamente lançaria luz sobre os desafios adicionais que pessoas autistas podem enfrentar em ambientes sociais complexos e repletos de expectativas neurotípicas.
Sophia Mendonça é jornalista, professora universitária e escritora. Além disso, é mestre em Comunicação, Territorialidades e Vulnerabilidades (UFMG) e doutoranda em Literatura, Cultura e Tradução (UfPel). Ela também ministrou aulas de “Tópicos em Produção de Texto: Crítica de Cinema “na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), junto ao professor Nísio Teixeira. Além disso, Sophia dá aulas de “Literatura Brasileira Contemporânea “na Universidade Federal de Pelotas (UfPel), com ênfase em neurodiversidade e questões de gênero.
Atualmente, Sophia é youtuber do canal “Mundo Autista”, crítica de cinema no “Portal UAI” e repórter da “Revista Autismo“. Aliás, ela atua como criadora de conteúdo desde 2009, quando estreou como crítica de cinema, colaborando com o site Cineplayers!. Também, é formada nos cursos “Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica” (2020) e “A Arte do FIlme” (2018), do professor Pablo Villaça.
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