TEArte, o encontro da dança com o autismo - O Mundo Autista
O Mundo Autista

TEArte, o encontro da dança com o autismo

TEArte, o encontro da dança com o autismo. a foto da professora Anamaria com seu aluno

No encontro, "arrisquei aproximações, toques, espaços, saídas, desconstruções de rituais fechados, objetos, sons, silêncios."

Quem conversar com a professora doutora Anamaria Fernandes Viana vai, certamente, se encantar com seu trabalho dentro do TEA – Transtorno do Espectro do Autismo. É o TEArte, o encontro da dança com o autismo. Ela transformou toda a sua trajetória nesse livro. Ele é uma adaptação de sua tese de doutorado. Aliás, mais que isso, o livro é fruto do meu trabalho da professora com pessoas autistas na França.

Assim, foram 18 anos de encontros efêmeros, de sincronias precárias, de tentativas, de questionamentos intensos, de construções e desconstruções constantes, nas palavras de Anamaria. Tudo começou com o trabalho com pessoas com deficiências e pessoas do espectro autista sem referências teóricas. Ou seja, sem referências sobre o que poderia caracterizar as condições daquelas pessoas.

A universalidade da dança e do autismo

Anamaria que é também dançarina e coreógrafa, usou o próprio corpo como proposta para esse encontro. Dessa maneira, tudo aconteceu sem ficha médica, sem técnica, sem método. A bagagem da professora se resumia em uma curta formação com a mestra francesa Chantal Sergent. Além disso, claro, havia a dança de Anamaria que sempre habitou seu corpo e um imenso desejo de interação.

Em outras palavras era o desejo do encontro pela dança com pessoas que nunca haviam dançado. Aliás, pessoas que dificilmente teriam acesso a essa prática. Desejo, ainda, de se deixar levar pelo outro, de bagunçar a própria casa, de desestabilizar seus alicerces. Para Anamaria, “a dimensão empírica foi de suma importância para a escrita deste livro: TEArte – Poéticas do Encontro em Dança e Autismo.

O começo desse TEArte, o encontro da dança com o autismo

Quando iniciou as leituras sobre autismo, já existia em seu corpo, 14 anos de experiência. Ou seja, a professora já havia compartilhado momentos dançantes com dezenas de pessoas do transtorno do espectro autista.

Desse modo. ela afirma que, das leituras que fez sobre o tema durante o doutorado, “muitas me pareciam distantes do que eu vivenciava.” A impressão de Anamaria era de que, quem havia escrito aquelas palavras nunca havia, de fato, havia encontrado um sujeito autista. Ainda mais, para ela, “Outras leituras me permitiram entender melhor minha proposta, enriquecê-la, questioná-la, ter uma distância maior dela, uma outra perspectiva.

Foi assim, que o livro TEARTE pode nos trazer reflexões sobre a prática do encontro da dança com o autismo. Certamente, o livro propõe não um método, mas alguns princípios encontrados, uma abordagem metodológica que permita compartilhar elementos importantes na experiência de Anamaria.

Caminhos do encontro da dança com o autismo

Assim, Ana maria esclarece que não deseja, com o livro, propor uma cartilha com um passo a passo do que fazer ou não fazer. Em outras palavras, criar uma cartilha caminha na direção oposta do que a professora doutora acredita nesta prática que se faz no encontro com cada sujeito e que se dá num espaço-tempo específico.

Então, TEArte sugere caminhos possíveis e entrelaça as observações, reflexões, sensações, emoções, da profissional com autores de diferentes áreas de conhecimento. Dessa forma, nas palavras de Anamaria: “O título é a junção de TEA (Transtorno do espectro autista) com Arte. Esse encontro, que vivi no corpo, trouxe para mim uma outra perspectiva de dança, de arte e posso dizer da minha própria vida.

Na galeria abaixo, você acompanha um pouco do trabalho dessa professora, bailarina e coreógrafa.

Para ela,


“Enquanto corpos políticos dançantes, acredito na nossa responsabilidade em promover espaços de emergência da diversidade, espaços que acolham a poética de cada sujeito, que abram territórios da subjetividade.”
“Pois é considerando cada pessoa como única e exemplar na sua multiplicidade evolutiva que nos reconhecemos como semelhantes e como diferentes. É esta dança que me proponho fazer. Ela que faz do meu corpo dançante um corpo político. É ela que me ensina a viver através dos encontros que me oferece.”

Acompanhe as fotos abaixo:

Anamaria Fernandes Viana é dançarina, coreógrafa e professora do Curso de Licenciatura em Dança na UFMG. Desde 1998, tem se dedicado de forma particular à dança com pessoas com deficiência mental (leve, média ou severa), tendo como diferencial de seu trabalho junto a este público a abordagem da dança pelo viés da arte.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

Subscribe
Notify of
guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments