"Nada sobre nós, sem nós"

Sou autista, sou ansiosa e não sei relaxar

Capa do livro Neurodivergentes, autismo na contemporaneidade de Sophia Mendonça.

Eu recebi o diagnóstico já adulta e não tive acesso aos estímulos necessários para aprender algumas habilidades, como relaxar, por exemplo. A ansiedade é presente na maioria das pessoas dentro do TEA – Transtorno do Espectro do autismo, no meu caso, ela veio como condição coexistente. Desde pequena, eu considerava dormir uma perda de tempo, estava sempre fazendo duas ou mais tarefas ao mesmo tempo, como ler e assistir TV, fazer as unhas e ouvir um podcast ou até mesmo, escovar os dentes, enquanto faço xixi.

Ansiedade e sintomas físicos

Eu tinha sintomas físicos de ansiedade como taquicardia, palpitação, sudorese, mal estar, enjoo e tontura, toda vez que tinha prova na escola, ou estava diante de uma situação nova, em lugares públicos, ao falar ao telefone. Passei a adolescência ouvindo piadinhas sobre essas situações. Coisas do tipo, “parece que você está grávida.” Hoje sei que se a ansiedade não for tratada, ela pode levar o autista à automutilação ou mesmo depressão.

A entidade britânica National Autistic Society, que é referência internacional no TEA, orienta para os sintomas:

  1. Suor em excesso
  2. Dificuldade para dormir
  3. Ataques de pânico
  4. Hiperventilação (quando a respiração fica acelerada)
  5. Pensamentos negativos e de que tudo vai dar errado
  6. Automutilação (quando a pessoa causa dor ou ferimentos em si mesma) em autistas mais graves e com dificuldade de entender e expressar o que estão sentindo.

Gatilhos que podem provocar a ansiedade

  1. Podem ser gatilhos, o processamento sensorial quando o autista é mais ou menos sensível a barulhos, cheiros, luzes, cores, sabores, entre outros.
  2. Dificuldade de prever ou de se adaptar a algumas situações, sejam sensoriais ou sociais.
  3. Situações sociais prejudicadas pela falta das habilidades ou falta de interesse.
  4. Alexitimia, que é a dificuldade de identificar e nomear as próprias emoções. Portanto, fica bem mais difícil se autorregular.
  5. Preocupação com tudo que saia da rotina, o que é incerto, com as mudanças, com as transições.
  6. A cobrança e a tentativa de “se encaixar”. Diante de uma situação social, o autista pode esconder tudo que está sentindo apenas para parecer como as outras pessoas. O que, certamente, é um gatilho para um colapso.
  7. Ser cobrado ter um desempenho específico, como na escola ou no emprego também é fator de muito estresse para o autista

Como evitar a ansiedade

Das alterações sensoriais até os desafios de interação social, tudo é muito estressante para a pessoa autista. Existem alguns aliados contra a ansiedade como a meditação, tipo mindfullness, técnicas comportamentais como a terapia da exposição, que é quando a pessoa vai se expondo, aos poucos, às situações que causam a ansiedade, programações visuais com histórias sociais que funciona muito bem para crianças.

Além disso, é importante a participação em grupos de habilidades sociais e treinamento de vocação, que vão ensinar o autista a lidar com situações estressantes mais específicas.

Como lidar com a ansiedade do autista

Existem várias formas de lidar com a ansiedade de pessoas autistas. Inicialmente, é preciso entender de onde surgem os motivos que levam à ansiedade. Para isso, você pode manter um diário para anotar os principais acontecimentos e como você se sente naquele momento.

Dizer, simplesmente, para a pessoa autista relaxar, é como pedir calma durante situações de nervosismo. É preciso, primeiro, aprender a relaxar.

Aprendendo a relaxar

Anote também, em outro diário, tudo aquilo que você faz e que deixa você leve e feliz. Sempre que possível, o ambiente em que o autista está deve ser adaptado para diminuir os impactos sensoriais. Se, por exemplo, o incômodo for com sons, dá para usar fones que abafem os ruídos, em casa ou mesmo no transporte público.

Há objetos que podem servir como verdadeiros calmantes e acabam virando algo dos quais o autista não se desgruda por um bom tempo, até mesmo na vida adulta. Eu tenho um cachorrinho, com enchimento de pequenas bolinhas, que eu vou apertando até me sentir relaxada.

Cachorrinho de pelúcia, com um tapa olhos que traz o desenho do Mickey e Minnie, sobre um cobertor roxo.

Um bom planejamento do dia também ajuda, desde que não vire uma demanda, um engessamento. É preciso ensinar ao autista que, algumas vezes, tudo bem mudar um item. Escolha itens de treinamento que não sejam ações imprescindíveis ao autista.

Selma Sueli Silva

Selma Sueli Silva é jornalista, radialista, youtuber, escritora, cineasta, relações públicas e pós-graduada em Comunicação e Gestão Empresarial. Foi diagnosticada com TEA (Transtorno do Espectro Autista) em 2016. Mantém o site “O Mundo Autista” no Portal UAI. É autora de três livros e diretora do documentário “AutWork – Autistas no Mercado de Trabalho”.

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Mundo Autista

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  • Descobri que sou autista aos 26 anos, fiz 27 em dezembro. Sofro com ansiedade intensa em qualquer situação em que sou exposta a sons altos (pra mim) e estímulos que não estou preparada. Situações normais da vida adulta me deixam extremamente nervosa. Preciso sair da casa da família e morar sozinha pois não respeitam minhas limitações, mas todas as obrigações que vou ter, o estar por conta própria e entender sobre burocracia e coisas do gênero, só agravam minha ansiedade e adiam essa decisão.
    Não é certo, mas tomo Clonazepan todos os dias para ajudar na ansiedade e parecer minimamente normal no meu trabalho e para as pessoas ao meu redor. Não é fácil, é uma luta em que quase sempre saio derrotada. Gostaria de receber conselhos de pessoas neurodivergentes que passam por situações semelhantes e possam me ajudar.

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