Na saúde mental, não existe fórmula mágica. Embora haja sempre o especialista de plantão pronto para nos orientar sobre nossa saúde mental. Já em 1976, a música ‘Para o Mundo Que Eu Quero Descer’, de Silvio Brito, lançada no final da década de 1970, é um desabafo sobre as frustrações e desilusões com a sociedade da época. O artista expressou, de forma irônica, o desejo de ‘descer’ de um mundo insuportável.
Em outro trecho, o autor reforça: “Tá tudo errado. Tá tudo errado. Desorientado sigo o mundo mas não posso mais ficar aqui parado.” De lá para cá, a sociedade não mudou tanto. Evoluiu em vários pontos. Agora temos mais conhecimento para diagnosticar o TEA – Transtorno do Espectro do Autismo. Entretanto, desafios com a saúde mental, no geral, têm aumentado. Mas é bom que se diga: em Saúde Mental, não existe fórmula mágica.
Contudo, com o crescimento no número de diagnósticos de algumas condições cerebrais, os “especialistas de plantão” apressam-se a nos fornecer fórmulas para melhorar a vida da pessoa ansiosa, do autista, da pessoa TDAH e por aí vai. Chegou ao ponto que não temos sequer o acolhimento empático. Mesmo que a pessoa autista saiba que naquele momento, ela manifesta um efeito de seu cérebro neurodivergente.
No dia 02 de julho, saí de Belo Horizonte, com algumas malas e nenhuma cuia, (alusão à expressão popular, “mudei de malas e cuia”.) Minha filha já morava, desde o segundo semestre de 2023, em um flat alugado. Assim, trouxe algumas coisas para morar junto com ela. Então, poderia cuidar melhor da saúde dela. Como boa autista que sou, me desorganizei com a mudança de minha rotina.
Mesmo que a cidade seja diferente e as pessoas também, não é propriamente falta de adaptação à nova realidade de diferenças. É sim falta de adaptação à nova rotina. Com isso, sinto-me um pouco como uma zumbi. Levanto, faço o que tem de ser feito, mas a cabeça está estranha, aérea
. Além do mais, já citei aqui que tenho hipersensibilidade ao frio. O inverno de BH chegava a 14 graus em dias mais frios. Aqui, em Pelotas, chegamos a 3 graus.Em dias que me sinto assim, tendo a ficar mais voltada para mim mesma que o comum. Via de regra ouço: “Calma, tudo isso vai passar.” “Fique tranquila, ore bastante.” “As coisas são assim mesmo, você vai ver.” E depois desse tipo de abertura lá vem “faça isso, faça aquilo. “Aja assim, aja assado!” O que será da gente se determinadas reações não forem aceitas como parte do processo? Acontece também com pessoas típicas, eu sei. A diferença é que quando acontece com pessoas com o cérebro neurodivergente, a intensidade é bem maior.
Não me venham com alguma fórmula mágica. Aceitem determinadas reações de pessoas autistas, como parte do processo. Autistas crescem e podem aprender a se autoconhecer. E assim, aprendem a acolher algumas fases da vida como naturais e parte de um processo. Não há nada de errado nesses momentos. E nem com nossos cérebros neurodivergentes e suas reações potencializadas.
Selma Sueli Silva é criadora de conteúdo e empreendedora no projeto multimídia Mundo Autista D&I, escritora e radialista. Especialista em Comunicação e Gestão Empresarial (IEC/MG), ela atua como editora no site O Mundo Autista (Portal UAI) e é articulista na Revista Autismo (Canal Autismo). Em 2019, recebeu o prêmio de Boas Práticas do programa da União Europeia Erasmus+. Prêmio Microinfluenciadores Digitais 2023, na categoria PcD. É membro da UNESCOSOST movimento de sustentabilidade Criativa, desde 2022.
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