Sabrina, a Aprendiz de Feiticeira antiga: Entenda como sitcom de bruxas dos anos 1990, com Melissa Joan Hart, virou sucesso absoluto.
Quando a primeira temporada de Sabrina, a Aprendiz de Feiticeira estreou em 1996, a série tinha como objetivo ser o antídoto cômico, fantástico e charmoso para a angústia adolescente que dominava outras séries da época. Quase três décadas depois, é evidente que a série foi um sucesso absoluto em sua missão. Dessa forma, ela se mantém como um artefato perfeito dos anos 90. Assim, trata-se uma sitcom extravagantemente boba e, ao mesmo tempo, surpreendentemente eficaz em usar a magia como uma metáfora direta para os horrores da puberdade.
A premissa se estabelece com eficiência no piloto. No seu aniversário de 16 anos, Sabrina Spellman (Melissa Joan Hart) descobre a verdade: ela é uma meia-bruxa, enviada para morar com suas tias Hilda (Caroline Rhea) e Zelda (Beth Broderick) para treinar seus poderes. Essa notícia chocante vem acompanhada de um primeiro dia desastroso na nova escola, que culmina com ela transformando a “garota má” Libby em um abacaxi. Com a ajuda das tias e de seu falante gato Salem, ela aprende a reverter o feitiço e a navegar sua nova realidade dupla.
A primeira temporada acerta em cheio ao estabelecer a dinâmica familiar como o pilar cômico e emocional da série. Melissa Joan Hart, recém-saída de Clarissa Sabe Tudo, transita perfeitamente para o papel. Ela é carismática, tem um timing cômico excelente e consegue vender a confusão de uma adolescente que lida com álgebra e feitiços simultaneamente. No entanto, o molho secreto da série são as tias. Isso porque Caroline Rhea (Hilda) é o caos impulsivo e amante de trocadilhos, enquanto Beth Broderick (Zelda) é a cientista racional e sofisticada. Aliás, a química entre as três é imediata e crível.
Claro, nenhuma análise estaria completa sem mencionar Salem Saberhagen. Dublado com perfeição sarcástica por Nick Bakay, o gato preto — um ex-bruxo condenado a 100 anos de felinidade por tentar dominar o mundo — é a fonte das melhores piadas. Isso porque seu humor seco, egoísta e levemente deprimido corta o açúcar da série. Com isso, dá aos adultos algo para apreciar enquanto as crianças riam da magia.
O que realmente diferenciava Sabrina de outras sitcoms familiares era sua construção de mundodeliciosamente absurda. Concebida pela criadora Nell Scovell para sua própria identidade “peculiar” de adolescente, a magia nesta série é caótica, baseada em trocadilhos e estranhamente burocrática. Dessa formma, o “Outro Plano” é um lugar fantástico acessível através de um armário de linho, mas que funciona com a eficiência de um departamento de trânsito.
A série também evitou clichês narrativos, focando em dilemas éticos incomuns para o formato. Em um episódio, Sabrina ignora os avisos para não usar magia para ajudar os amigos, o que quase atrai a ira de Drell, chefe do Conselho das Bruxas. Em outro, as tias invocam um juiz do Outro Plano para punir um professor rude. Dessa forma, a primeira temporada de Sabrina estabeleceu as bases de uma série que entendia perfeitamente seu propósito: ser divertida, inteligente e, acima de tudo, mágica.
Sophia Mendonça é jornalista, professora universitária e escritora. Além disso, é mestre em Comunicação, Territorialidades e Vulnerabilidades (UFMG) e doutoranda em Literatura, Cultura e Tradução (UFPel). Idealizadora da mentoria “Conexão Raiz”. Ela também ministrou aulas de “Tópicos em Produção de Texto: Crítica de Cinema “na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), junto ao professor Nísio Teixeira. Além disso, Sophia dá aulas de “Literatura Brasileira Contemporânea “na Universidade Federal de Pelotas (UfPel), com ênfase em neurodiversidade e questões de gênero.
Atualmente, Sophia é youtuber do canal “Mundo Autista”, crítica de cinema no “Portal UAI” e repórter da “Revista Autismo“. Aliás, ela atua como criadora de conteúdo desde 2009, quando estreou como crítica de cinema, colaborando com o site Cineplayers!. Também, é formada nos cursos “Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica” (2020) e “A Arte do FIlme” (2018), do professor Pablo Villaça. Além disso, é autora de livros-reportagens como “Neurodivergentes” (2019), “Ikeda” (2020) e “Metamorfoses” (2023). Na ficção, escreveu obras como “Danielle, asperger” (2016) e “A Influenciadora e o Crítico” (2025).
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