"Nada sobre nós, sem nós"

Ressaca Social no Autismo

Hoje queremos falar sobre a ressaca social no autismo. Isso mesmo, porque a gente sabe que ser autista não é algo simples e nem banal, não! A gente entende que os diagnósticos tem aumentado. Afinal, as pessoas tem se identificado mais e, hoje, têm mais ferramentas para se descobrirem autistas. Isso ocorre por meio de avaliações psiquiátricas e neuropsicológicas.

O que é a Ressaca Social no Autismo?

Mas a gente sabe que a vivência de ser autista, independentemente do grau, é muito desafiadora. Mesmo na nossa experiência com o nível 1 de suporte e, no meu caso, um pouco mais próxima ao nível 2. Afinal, situações que são pequeninas para outras pessoas, para nós se tornam desafios complexos.

Isso não acontece de repente, não! O autista adulto e alguns autistas adolescentes, quando mais cobrados, ficam em um estado de alerta permanente. Isso acaba por compreender a saúde deles. Mas, quando o autista é mais cobrado? A resposta não é assim tão legal. Mas é vida, e a gente precisa lidar com isso. Ou seja, o autista está sempre sendo muito cobrado para viver e viver bem em uma sociedade.

Ressaca Social no Autismo e o mito de “nem parece autista”

Só que, no caso de muitas pessoas autistas, essa pessoa interage muito bem. E, em alguns casos, recebe o rótulo de “nem parece autista” porque fala bem e tem amigos. Mas, qual o preço dessa interação? Claro que a gente tem que saber equilibrar o custo e o benefício. Eu gosto de sair, de interagir, de ver pessoas.

Minha mãe também, mas ela não dá conta! Quando alguém a convida para ir ao cinema, por exemplo, ela sempre torce para a pessoa desistir. No lazer é a mesma coisa, quando alguém a convidada para ir a um local onde não está acostumada. Ainda mais se esse lugar tem estímulos que possam impactá-la, como barulhos ou movimentações.

Então, imagina tudo isso no contexto de um novo ano, que está todo mundo com gás e uma vibe de vida nova. Ou seja, o clima aparentemente perfeito para viver novos momentos. Só que, o início do ano vem justo depois do final do ano anterior, que é sempre uma época que requer muita exposição à socialização. Tudo isso com mais saídas e interações, maior demanda de cuidado com o outro, compra de presentes, e festas carregadas de luzes e sons diversos.

Sair de perto é a solução para crises no autismo

Eu adoro tudo isso. Mas, até a página dois. Recentemente, eu saí de onde minha mãe estava para ficar em outro lugar, mais ensimesmada. Esse distanciamento foi importante para a gente se permitir se trabalhar. Afinal, quando a gente tromba nessa circustância, a gente não tem a comunicação mais efetiva. Então, só conseguimos trazer à tona o nosso sentimento mais primitivo. Essa situação pode resultar em uma crise.

A gente reage de maneiras diferentes para a mesma questão, como pode ser observado no vídeo que acompanha esse texto. Nós estamos vivendo esse momento. Com a ressaca social muito forte, eu fico mais agitada. Já minha mãe é o contrário. Ela começa a falar mais pausadamente e devagar. Assim, fica mais “na dela”. MInha madrinha até inventou um termo para isso: “só no visual

“.

Sobre incluir o autista na conversa

Muita gente, quando percebe o autista com o comportamento mais “na dele”, deseja incluí-lo na conversa. Nossa! Como eu tinha ódio disso quando era adolescente! Acontece assim: a pessoa te percebe mais introspectiva e te faz uma pergunta do tipo, “como foi o seu final de ano?” Então, você dá uma resposta mais monossilábica (“foi bom!“) e outra pessoa, munida pelo desejo de que o autista participe, insiste em querer saber mais.

A pessoa autista começa a dar um nó e, aí, começa a dificuldade na comunicação. A gente já gastou tanto a nossa energia social buscando ler, decodificar, interagir e responder as pessoas. Esse é um processo intuitivo para todas as pessoas, mas para nós não é! A gente já gastou todas as nossas forças e precisa se recuperar, ou seja, precisamos de um tempo só nosso.

Por que acontece a ressaca social no autismo?

Existem, afinal, muitos estímulos visuais e sonoros que as pessoas não percebem, mas que fazem parte do ambiente. Tem também a questão de ter que pensar em uma reação, as figuras de linguagem, tudo isso costuma trazer essa ressaca muito forte em nós. Fazer discurso para a pessoa, além de interragatórios, é a pior coisa que se pode fazer nessa hora. A regra é a mesma para quando alguém está bebâdo: é melhor não dizer nada, porque só vai piorar a situação.

Vídeo

Apresentadoras

Selma Sueli Silva é criadora de conteúdo e empreendedora no projeto multimídia Mundo Autista D&I, escritora e radialista. Especialista em Comunicação e Gestão Empresarial (IEC/MG), ela atua como editora no site O Mundo Autista (Portal UAI) e é articulista na Revista Autismo (Canal Autismo). Em 2019, recebeu o prêmio de Boas Práticas do programa da União Europeia Erasmus+. Prêmio Microinfluenciadores Digitais 2023, na categoria PcD. É membro da UNESCOSOST movimento de sustentabilidade Criativa, desde 2022.

Sophia Mendonça é jornalista, professora universitária e escritora. Além disso, é mestre em Comunicação, Territorialidades e Vulnerabilidades (UFMG) e doutoranda em Literatura, Cultura e Tradução (UfPel). Ela também ministrou aulas de “Tópicos em Produção de Texto: Crítica de Cinema “na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), junto ao professor Nísio Teixeira. Além disso, Sophia dá aulas de “Literatura Brasileira Contemporânea “na Universidade Federal de Pelotas (UfPel), com ênfase em neurodiversidade e questões de gênero.

Atualmente, Sophia é youtuber do canal “Mundo Autista”, crítica de cinema no “Portal UAI” e repórter da “Revista Autismo“. Aliás, ela atua como criadora de conteúdo desde 2009, quando estreou como crítica de cinema, colaborando com o site Cineplayers!. Também, é formada nos cursos “Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica” (2020) e “A Arte do FIlme” (2018), do professor Pablo Villaça.

Mundo Autista

Posts Recentes

O suporte do autismo nível 1 é para a vida toda

Em 2013, a síndrome de asperger passou a compor o Transtorno do Espectro do Autismo.…

1 dia atrás

Crítica: Silvio (2024)

Silvio mistura uma narrativa frágil de filme policial com alguns toques biográficos sobre o personagem-título.…

4 dias atrás

O autismo nível 3 de suporte no filme Quem Vai Ficar com Mary?

O autismo nível 3 de suporte no filme Quem Vai Ficar com Mary?

6 dias atrás

Luto e empatia

No autismo não há regra de como será vivido o luto e empatia. Desde 2008,…

6 dias atrás

Mãe autista – Nem tudo é o que parece

Nem Tudo é o que parece foi o último livro lançado por mim e minha…

1 semana atrás

A natureza do mal em Wicked

A natureza do mal em Wicked é tema de análise budista. Com isso, Sophia Mendonça…

1 semana atrás

Thank you for trying AMP!

We have no ad to show to you!