Um bebê, uma criança podem demandar muito das mães e dos educadores. O cansaço virá, certamente. Mas nada que não seja administrado de forma serena, pois, certamente, a resposta vem. É muito trabalho sim, mas ver aquele serzinho evoluir, ganhar sua autonomia de maneira responsiva e eficaz, faz tudo valer. Mas, infelizmente, nem todos os relacionamentos são assim e, por isso, há que se ter o cuidado com o outro.
Por exemplo, se você precisa ficar mais atenta a um adulto, tudo pode mudar. Aliás, é o esperado pois o adulto é cheio de si e de suas certezas. Portanto, se ele precisa de seus cuidados essa relação tende às facetas escravidão. Principalmente, quando se trata de mães de pessoas autistas. É que esse cuidado não é uma contribuição acordada, decidida pelas duas partes. Conclusão: não é conduzida pela via de mão dupla. Não é um crescer em conjunto, ao passo de todas as descobertas.
Escrevo esse relato, com o coração cercado de tristeza. Afinal, são muitos relatos sofridos de mães cujos filhos avançam pela adolescência e a vida adulta, continuam a ser pessoas com deficiência, mas tem autonomia para, inclusive, destratar a mãe. Dessa forma, a relação revela-se uma imposição, regada a covarde tirania.
O adulto precisa, ainda, de certos cuidados mas tem de ser sempre do jeito que ele concebe. Uma mãe de um rapaz de 21 anos, desabafou que o filho diz a ela: “Eu preciso disso…” Ela vai providenciar e o filho questiona a forma como ela está fazendo. Ela não entende, pergunta e ele completa: “Faça, do jeito que eu quero, na hora que eu quero, como eu quero, onde eu quero e porque eu quero.”
É assustador? Muito. Mais ainda por ser real. A mãe cuidou do bebê, depois da criança. Sem qualquer apoio que não fossem as terapias que ela levava o filho. Agora, ao que parece pelo relato, o filho decide para o que estar apto e no que ainda precisa da mãe. Conselhos para deixá-lo sozinho, ela conta, vem dos familiares, dos profissionais. E é o que ela deseja. Sabe que já cumpriu sua missão. No entanto, ela está tão debilitada que não consegue seguir.
Em nossas vidas, parece claro que, compartilhar nossas dúvidas e angústias, torna nosso desafio mais leve. No caso de mães de pessoas com deficiência, até isso pode ser um problema. Afinal, o que dizer do entorno? Uma casa, que deveria ser um lar, reduz-se apenas ao lugar onde esse filho acessa o que quer. Aliás, na hora que deseja e da forma que escolhe.
Entretanto, deixa rastros para trás que não o incomodam. Isso, pela certeza de que terá alguém, para deixar tudo em ordem novamente. Quando questiono porque o filho não foi ensinado a cuidar da casa, o olhar aflito da mãe passa por mim, como punhal cortante. E ela vomita as palavras, contrariada: “Como? Era tanta demanda para eu resolver. Uma coisa ou outra, claro, ficou para trás.”
Relacionamentos – o cuidado com o outro. Confesso que esse relato mexeu comigo. Existe um pouco dele em cada história de mães comprometidas, que trouxeram, até a vida adulta, a tarefa de criar valores humanos para a sociedade. Meu coração fica apertado. Imagino até quando uma relação assim, se sustenta?
Mesmo que a mãe esperneie, xingue, grite, a submissão ao outro (o filho) existe. Algumas até acreditam que é assim que deve ser e não dá mais para mudar. Certas mães, nessa altura do campeonato, não reagem mais de maneira efetiva. Há muito, elas se distanciaram de todos. Ou, quem sabe, foram abandonadas por eles.
A maioria da sociedade sequer percebe que essa mãe, já não vive, finge viver. Age, somente o suficiente para continuar respirando, para satisfazer seu algoz. Quando o filho se tornou isso para ela? A verdade é que se ele impõe, ela aceita, num ciclo vicioso, que não faz bem a ninguém e que, por fim, sufoca o amor.
Assim, nos relacionamentos vamos ter cuidado com o outro. Mas como fazer a trajetória do filho que agora é formado, possa valer toda a construção? É preciso parar, respirar e arregaçar as mangas. Seu filho não é cruel. Mas a vida pode ser. Para os dois. Então, procure um psicólogo e/ou uma rede de apoio para traçar, com sabedoria, todo o caminho. Se for preciso, grite. Mas não se cale. Não seja cúmplice desse papel que o vitimismo nos impele a desempenhar.
Certamente, o amor ainda existe, mesmo que há muito, esteja sufocado por uma relação abusiva. Considere se você também, já não devolve atitudes igualmente abusivas. E aí? A ajuda terá de vir de fora? Ou de dentro? Como reagir para não causar o estrangulamento da vida por uma relação tóxica travestida de rotina familiar? Procure ajuda. E rápido!
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