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Pra não dizer que não falei das flores

O ano era 1968. O Brasil viveu um dos momentos mais conturbados da história, desde o golpe, em 1964. A opressão aos movimentos sociais e culturais foi se intensificando. O ápice se deu com o AI-5. Foi quando Geraldo Vandré compôs a música Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores. Aliás, ela é também conhecida como Caminhando. Mas, essa música foi censurada. Então, o cantor precisou sair do país, em exílio, para se proteger.

Por que dizer que não falei das flores?

Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Caminhando e cantando
E seguindo a canção

O verso descreve uma manifestação pacífica: ‘caminhando e cantando e seguindo a canção’. O compositor se refere a todos como iguais. Afinal, estão dentro de um mesmo contexto. E lutam por algo em comum: o direito à liberdade. Mas, atualmente, minha flor é outra. E, claro, ela só cresce no jardim da liberdade.

A flor da inclusão

Os amores na mente, as flores no chão
A certeza na frente, a história na mão
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Aprendendo e ensinando uma nova lição

Não podemos retroceder em nossa história pela busca da inclusão de Pessoas com Deficiência – PCDs. Temos de estar atentos ao Decreto 10502, do Governo Federal. Ele instituiu a “Política Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da Vida”. Bonito? Não! A proposta do decreto parece atraente, ao oportunizar à família e ao educando o direito de escolher a alternativa educacional mais adequada às suas necessidades. Mas não é bem assim.

Desde a promulgação da Constituição Federal, de 1988, avançamos na inclusão. Foi o resultado de um conjunto de leis e de políticas inclusivas. Por exemplo, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação e a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Essas leis reforçaram o direito de acesso e permanência na escola para todos os cidadãos. Ou seja, era garantido às pessoas com deficiência o atendimento educacional especializado, preferencialmente, na rede regular de ensino.

Sim, sabemos de onde viemos, o que reforça em nós, a certeza de para onde queremos ir.

Pode ser que alguns de nós, pessoas consideradas ‘normais’, ainda não saibamos conviver com a diferença do outro. Dessa maneira, ora adotamos uma postura de vitimá-los e ora de segregá-los. As escolas comuns ou especiais não conseguirão corrigir a deficiência do outro.

A deficiência está na sociedade. E não na pessoa. Quando as limitações de alguém se encontram com barreiras, a deficiência surge. Isso por causa da perda que traz ao indivíduo a falta de condições adequadas para que ele expresse o máximo de seu potencial.

Vem com a gente

Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer

Para a jornalista e mestre em educação, Meire Cavalcante, “a história construiu nossas convicções sobre a educação inclusiva”. Por isso, a visão sobre a deficiência não comporta mais a ideia de tragédia, superação, clínicas escolas. Meire insiste que precisamos da leitura correta do contexto presente. Assim, saberemos a que temos direito e o que reivindicar.

A resposta não está em um Estado protetor. Antes disso, a questão é sobre o Estado avançar nas políticas públicas, que garantam os direitos a todos cidadãos e ponto! Não podemos manter a ideia de que precisamos nos especializar nas deficiências, para normalizar as pessoas. É preciso, isto sim, conhecer os recursos possíveis. Sim, tudo que temos ou podemos criar a partir das habilidades da pessoa. E não das barreiras que ela encontra ao longo da vida.

Provocações da Mestra e Educadora Meire

Por fim, uma pergunta que pode nos levar a ações produtivas: “A deficiência é grave demais para o acesso à escola regular? Ou nosso desconhecimento sobre ela é que é grave e nos limita?”

Texto da jornalista Selma Sueli Silva

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