Rompendo com o Estigma do Abandono na Paternidade Atípica é tema do podcast Mundo Autista D&I, abordando casamento e empreendendorismo.
No mais recente episódio do podcast “Mundo Autista D&I”, uma conversa profunda e necessária trouxe à tona o tema da “Paternidade Atípica”. Conduzido por Sophia Mendonça e Selma Sueli Silva, o episódio mergulhou nas histórias de Francisco Paiva Jr., editor-chefe da Revista Autismo, e Wagner Yamato, criador do aplicativo “Matraquinha”. Ambos são empreendedores e pais de crianças autistas. E suas jornadas mostram como o diagnóstico, em vez de um ponto final, se tornou o ponto de partida para a transformação e a inovação.
Para a maioria, a chegada de um filho é cercada de idealizações. No entanto, para Francisco e Wagner, a realidade trouxe desafios inesperados. Francisco recorda a data exata em que a suspeita sobre seu filho, Giovan, surgiu: 26 de março de 2009. Afinal, com quase dois anos, o menino não falava, mas o problema era mais profundo. “Ele queria a mamadeira e tentava escalar a pia, em vez de me cutucar ou apontar“, recorda. Ainda assim, palavra “autismo”, sugerida por um primo, o assustou, remetendo à imagem severa que via em comerciais de TV.
Por sua vez, Wagner enfrentou um caminho duplamente desafiador. Após um diagnóstico de infertilidade e quatro anos na fila de adoção, ele e a esposa receberam Gabriel, com 10 meses. Porém, a alegria deu lugar à mesma inquietação quando perceberam que o desenvolvimento da fala não acontecia. E o diagnóstico veio aos dois anos e meio. “A visão que tínhamos era a dos casos mais severos da televisão. Eu olhava para o meu filho e pensava: ‘impossível, ele não é autista’“, conta Wagner, que, no auge do choque, chegou a cogitar processar a médica.
Ambos os pais se depararam com uma “cobrança social enraizada” sobre a masculinidade. “O homem tem que ser o provedor, o forte, que não chora. Essa construção traz uma cobrança enorme”, reflete Francisco. Essa pressão se reflete em estatísticas alarmantes. Selma Sueli Silva, co-anfitriã do programa, destacou que 90% dos pais abandonavam a família. Então, ela ressaltou a importância da parceria que Wagner e Francisco representam.
Contrapondo-se a essa triste realidade, eles mergulharam de cabeça no universo de seus filhos. “Minha negação durou minutos“, afirma o pragmático Francisco. “Sou de encarar a realidade e pensar no que fazer”. Para Wagner, a ideia de deixar a família nunca foi uma opção. “Em nenhum momento me passou pela cabeça algo que não fosse ficar em família, acolher o Gabriel e minha esposa“, diz.
Foi desse compromisso que nasceram dois projetos transformadores. Por exemplo, Wagner, ao observar Gabriel se comunicar por meio de pranchas com figuras (PECS), notou as limitações do método: as figuras se perdiam e o transporte era difícil. A solução, então, veio da tecnologia. Isso porque ele criou o Matraquinha
, um aplicativo gratuito de comunicação alternativa.“Lançamos o app para que todos pudessem instalar: eu, os tios, os amigos”, explica Wagner. O aplicativo viralizou nas salas de espera de terapias, em grupos de WhatsApp e ganhou destaque na mídia. “Hoje, são 50 mil usuários ativos. Crianças e adolescentes podendo dizer ‘eu te amo’, ‘estou com dor de garganta’ ou ‘aqui está muito barulho‘”.
Da mesma forma, Francisco, frustrado com a falta de informações confiáveis sobre o autismo, usou sua experiência como jornalista para agir. Então, primeiro, escreveu um livro. Depois, pensando em democratizar o acesso ao conhecimento, fundou a Revista Autismo, uma publicação gratuita e pioneira que se tornou referência nacional. “Pensei: qual minha responsabilidade social? A informação que obtive foi tão difícil de conseguir“, justifica.
Sobre a maior lição de suas jornadas, a resposta foi unânime. “Eu aprendi a não agendar a felicidade”, afirma Francisco. “Aprendi que tenho que ser feliz hoje, com o que eu tenho hoje, com o Giovane de hoje“.
Wagner concorda, lembrando os sustos que passou com a saúde do filho. “A expectativa que a gente cria é muito grande. Depois do diagnóstico, entendemos que o hoje é o que importa. Chegar de noite, dar um beijo no filho, ficar abraçado. O que está valendo é o agora“.
Suas histórias são um poderoso testemunho de que um diagnóstico pode abrir portas para um crescimento profundo e para a construção de um legado. Wagner e Francisco não apenas se tornaram pais excepcionais para seus filhos, mas também figuras de inspiração para toda uma comunidade, provando que o verdadeiro papel de um pai é estar presente, transformar desafios em oportunidades e, acima de tudo, celebrar o filho que se tem, hoje.
Crítica Wicked - Parte 2. Entenda a mudança de tom do diretor Jon M. Chu…
As metáforas em Um Truque de Mestre 3: crítica do filme aborda os cavaleiros e…
Uma crônica de Sophia Mendonça sobre a garota autista na Bolha, inspirada em Wicked e…
O Livro que Devolveu a Voz ao Autismo no Brasil. completa 10 anos "Outro Olhar:…
O Significado de "Bandaids Over a Broken Heart" e a evolução emocional de Katy Perry…
Presidente da Autistas Brasil debateu o diagnóstico tardio, a mercantilização das terapias e o preconceito…