O pastor da Assembleia de Deus de Tucuruí Washington Almeida foi alvo de críticas nas redes sociais. Isso por dizer em uma pregação que a causa do autismo é uma visita do diabo no ventre materno. Ele afirmou que: “As crianças hoje, de cada 100 nós temos aí quase 30% de autistas. O diabo está visitando o ventre das desprotegidas“.
Essa ideia é problemática por uma série de razões. Afinal, elas vão desde a utilização da fé para contradizer reflexões científicas mais consolidadas até a associação da condição autista como algo demoníaco. E pelo que conheço da perspectiva cristã, penso que esse seria o nível mais baixo a que uma coisa negativa pode chegar. Sem contar que, ao associar a igreja a esse tipo de comentário, o pastor acaba depondo contra pessoas que praticam o evangelho de maneira mais fiel aos ensinamentos de Jesus Cristo.
Então, eu entendo a dor que uma declaração infeliz dessas provoca em quem a ouve. Mas, também me preocupa a dor que pode levar alguém a acreditar ou mesmo a afirmar algo assim. Afinal, a gente sabe que ser autista ou conviver no dia a dia com autismo pode ser muito doloroso. Essa vivência não acontece geralmente por causa do autismo em si. Mas, principalmente por interação com a falta de acessibilidade social.
Enfim, a sociedade ainda sabe muito pouco e a tentativa de enquadrar autistas em modos de comportamento mais pasteurizados tende a trazer um sofrimento ainda maior. Então, agir com agressividade, como se fosse um demônio a ser combatido, é algo que já foi feito com o uso de palavras menos literais. E isso nunca deu certo!
Então, houve até uma nota de repúdio assinada pelo procurador de Justiça Waldir Macieira, a Associação Nacional dos Membros do Ministério Público de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência e Idosos.
O ativista Ivan Baron também criticou no Twitter as declarações do pastor. Ele destacou que, não importa a crença religiosa, tais afirmações são criminosas e promovem desinformação. “Você tem noção da gravidade desse discurso? Independente da sua religião, isso aqui é CRIMINOSO e gera uma gastura imensa só de ouvir
“, escreveu.E depois de toda a repercussão negativa, Washington se retratou: “Fui muito infeliz quando fiz uma colocação. E esse não é o meu caráter, não é o meu perfil. Jamais, jamais, no meu coração, passa coisa dessa natureza“, disse.
E a igreja, em uma nota pública, declarou: “Afirmamos que autoria da mensagem é do Pastor Washington o qual é um indivíduo autônomo com responsabilidades próprias, qual a Assembleia de Deus não comunga com essas pronúncias malfadadas. As afirmações do supracitado estão contra nossa doutrina e ideário que norteiam a Assembleia de Deus em Tucuruí“.
Porém, tais posições do pastor são mais do que controversas ou percepções distorcidas, enviesadas. Isso porque há, por trás do discurso, muita desinformação para lidar com o sofrimento. E isso é algo extremamente perigoso. E mesmo que o pastor tenha se desculpado, o mínimo que se espera de uma pessoa pública é uma responsabilidade ética com a mensagem que transmite. De qualquer forma, espero que ele tenha aprendido com a situação e seja mais cuidadoso daqui para a frente.
Sophia Mendonça é jornalista e escritora. Também, atua como youtuber do canal “Mundo Autista” e repórter da “Revista Autismo“. Além disso, é mestre em Comunicação, Territorialidades e Vulnerabilidades (UFMG) e doutoranda em Literatura, Cultura e Tradução (UfPel). Assim, em 2016, tornou-se a pessoa mais jovem a receber o Grande Colar do Mérito em Belo Horizonte. Já em 2019, ganhou o prêmio de Boas Práticas do programa da União Européia Erasmus+.
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Penso que mais do que preconceito desse pastor, seja sua notória ignorância, ou má-fé para pegar desinformados. Se as pessoas em geral estudassem o especialista Padre Quevedo, nada disso que esse charlatão falou as assustaria.
Faz sentido o que você diz. É isso.
estou cnvencido que o demônio é o próprio pastor.
Se não for, a fala certamente é demoníaca. Coitado.
Nossa! Será que esse pastor é ignorante por falta de oportunidade ou é desinteligente mesmo? Coitado! Como é limitado !
Há pastores e pastores. Eu já ouvi que se fosse evangélica, não teria tido filha autista.
boa noite eu so acho que colocar as crianças com autismo nas ecolas com crianças sem autismo podem gerar danos aos autistas.,
Sim, não é só colocar. É colocar, acompanhar (mediadora) e acolher. A gente aprende com os nossos diferentes. Com nossos iguais, reforçamos o que Já conhecemos.
Sou mãe de dois. Acredito hoje que Autismo não é coisa boa, destrói famílias, afasta as pessoas. A minha mãe e meu marido me acusa o tempo todo, fala que
era pra ter abortado o segundo. Me xingam e diz que eu e meus filhos somos demônios, passei a sofrer de depressão. É complicado...