Disponível na Disney+, “Pantera Negra – Wakanda para Sempre” é a continuação do filme imensamente popular Pantera Negra, que quebrou paradigmas tanto ao trazer uma representatividade afrofuturista para as telas quanto por ser uma narrativa de super heróis da Marvel indicada ao Oscar de Melhor Filme. Assim, até eu que não sou das maiores fãs do estúdio aprendi a desenvolver respeito e carinho pelo primeiro longa-metragem da franquia.
Este segundo filme, portanto, traz uma homenagem mais que bem-vinda ao saudoso Chadwick Boseman no centro do enredo. Afinal, foi ele o Pantera Negra original e faleceu de maneira trágica e surpreendente para uma grande parcela do público. Mas, mesmo que este clima de saudação seja genuíno, o filme como um todo parece artificial e não consegue reproduzir a força do antecessor.
Desse modo, Pantera Negra – Wakanda Para Sempre começa com um funeral para o recentemente falecido Rei T’Challa. Assim, Shuri (Letitia Wright) e Rainha Ramonda (a sempre perfeita Angela Bassett) estão vestidas de branco, seguindo o caixão preto. Aliás, o topo dele apresenta um emblema prateado da máscara do Pantera Negra e os braços cruzados da saudação de Wakanda. Porém, esta memória tem como contraste as fotos em câmera lenta da dança em memória do rei.
Então, depois que o caixão chega a uma clareira, onde sobe cerimoniosamente ao céu, cortamos para uma montagem emocional e séria de Boseman como T’Challa. Logo, o solene e doloroso compilado de imagens forma o logotipo da “Marvel Studios”, com o tom mais comercial possível. Assim, estes paradoxos narrativos mostram-se o símbolo perfeito das problemáticas em torno deste filme.
Aliás, o problema se agrava porque “Pantera Negra” existia fora do Universo Cinematográfico da Marvel. Afinal, a obra funcionava como produção autoral. Assim, o humor existia entre os personagens, não como referências aleatórias a outra produção. E a maioria dessas figuras era específica da história. Dessa forma, as preocupações raramente se voltavam para as aspirações de construção de sagas cinematográficas.
Porém, o cineasta Ryan Coogler, que também co-escreve o roteiro com Joe Robert Cole, não possui o mesmo tipo de liberdade com esta sequência melancólica. Claro, algumas limitações não estão sob seu controle, como a trágica morte de Boseman. Mas outras, que são escolhas, dão a este filme uma cara de produto Hollywoodiano ainda bem maior do que no primeiro filme.
Por exemplo, o roteiro está repleto de ideias e temas. Assim, em vez de lutar contra o inimigo comum (colonos brancos), dois reinos governados por pessoas de cor se enfrentam e o filme tenta mergulhar na dor cultural que ainda existe desde a aniquilação histórica da Central e os reinos indígenas da América do Sul. Além disso, tenta enfrentar uma série de outros requisitos, como criar a série de TV da Marvel “Ironheart”, que terá Dominique Thornevai lamentando a morte de Boseman e encontrando um novo Pantera Negra. Aliás, esses interesses conflitantes não são menos suavizados pelas demandas de sucesso de bilheteria do MCU
.Além disso, “Pantera Negra – Wakanda Para Sempre” é falho como cinema autoral e como entretenimento. Assim, há participações especiais e subtramas que sobrecarregam todo o filme com expectativas de franquia. Porém, o filme quase se sustenta pela força de Angela Bassett, que mais uma vez mostra-se firme em fazer história para mulheres negras no universo das premiações décadas após a viver a inesquecível Tina Turner em um desempenho aclamado.
Dessa forma, a primeira grande cena de Ramonda é ela advertindo as Nações Unidas por esperarem que ela compartilhe o vibranium com o mundo, mesmo quando eles tentam roubar o recurso de sua nação. Logo, a voz dela ressoa e o olhar é fixo e implacável. Mas é uma pena que a obra, ao se posicionar entre o luto e uma profusão de arcos dramáticos, não atinja o mesmo impacto nem o mesmo equilíbrio.
Sophia Mendonça é uma youtuber, podcaster, escritora e pesquisadora brasileira. Em 2016, tornou-se a pessoa mais jovem a receber o Grande Colar do Mérito em Belo Horizonte. Em 2019, ganhou o prêmio de Boas Práticas do programa da União Européia Erasmus+.
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