Pai atípico e um pouco da nossa história: Na infância, fui a única das netas (e neto) a pedir para conhecer o meu avô, de quem a Vovó Irene se separou nos anos 1960. O desejo talvez venha da perspectiva de minha mãe sobre ter crescido sem a presença próxima do pai. Em uma visão que diverge do senso comum, mamãe nunca considerou a vovó ‘pai e mãe’ e sim uma ‘super mãe’, visto que o papel do pai era bem específico e estava ausente. Aliás, ver minha mãe resgatar essa presença há algum tempo foi uma das coisas mais lindas que presenciei. Por isso, mesmo quando ela e meu pai Roberto se separaram, em 2008, ela batalhou tanto para que não perdêssemos o contato.
Meu Pai Atípico
Lembro-me até hoje da conversa: “às vezes, a família precisa se separar para ficar unida”. E foi o que aconteceu. Eu, que até então achava o Papai muito “diferente” (pobres neurotípicos…), passei a ver minha relação com ele com outros olhos. Meu pai é a companhia perfeita para me acolher e incentivar em momentos de descontrole. E talvez seja a única pessoa que tolera meus monólogos sobre hiperfocos quando eles se estendem para além do esperado. Isso ocorre mesmo ele não sendo autista.
Hoje, no Dia dos Pais, desejo que cada família de pai e filho com autista(s) possa descobrir, como a gente, as delícias do contato com o diferente e o amor inabalável que surge daí. Parabéns a todos os papais! Parabéns, pai atípico! Vocês são nossos heróis! <3
Sophia Mendonça é jornalista e escritora. Também, atua como youtuber do canal “Mundo Autista” desde 2015. Além disso, é mestre em Comunicação, Territorialidades e Vulnerabilidades (UFMG) e doutoranda em Literatura, Cultura e Tradução (UfPel). Assim, em 2016, tornou-se a pessoa mais jovem a receber o Grande Colar do Mérito em Belo Horizonte. Já em 2019, ganhou o prêmio de Boas Práticas do programa da União Européia Erasmus+.
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