Arte e entretenimento

Os dez melhores filmes de 2023

2023 trouxe alguns feitos importantes para o cinema. Nessa lista, traço a minha análise sobre os dez melhores filmes de 2023 lançados no Brasil em circuito comercial.

1. Barbie, de Greta Gerwig

Toda a maravilhosa criação visual de Barbie encontra-se afinada com as reflexões e temáticas propostas, de modo a revelar-se fundamental para o desenvolvimento da narrativa, que aos poucos vai desvelando percepções sobre o que é ser mulher na contemporaneidade. Tudo isso ocorre com uma energia e ritmo incríveis. Além de que, o elenco capitaneado por Margot Robbie e Ryan Gosling é perfeito na difícil missão de evocar as complexidades e arestas de cada personagem sem esquecer-se da natureza arquetípica e estereotipada deles.

2. A Noite das Bruxas, de Kenneth Branagh

A Noite das Bruxas é uma rara adaptação de romance de Agatha Christie que consegue se aproximar do mistério intrincado e envolvente das obras da escritora. Trabalhos, aliás, que sempre foram difíceis de se adaptar. Além disso, o filme traz personagens de personalidade forte, um ótimo elenco e elementos de cinema de terror. Tudo isso torna a narrativa densa e deliciosamente divertida. Ao mesmo tempo, o filme revela-se uma observação empática do trauma pós-guerra. Essas cicatrizes psíquicas se refletem nos dramas dos personagens. Dessa forma, a abordagem proporciona um clima de terror mais verossímil e eficaz.

3. Entre Mulheres, de Sarah Polley

Os dilemas de Entre Mulheres vem da inspiração em uma história real, que aconteceu na Bolívia em 2009. Porém, há um quê familiar e universal na narrativa. Assim, é possível estabelecer diálogos entre o filme e diversas outras questões que afetam mulheres. Isso tudo se materializa no filme de maneira ao mesmo tempo perturbadora e emocionante. Essa dicotomia também aparece no senso de humor amargo que marca a relação entre as personagens. Então, todo o impacto se fortalece nas interpretações impetuosas e na força da trilha sonora, que combina elementos antigos e modernos. Ou seja, realça o caráter atemporal e universal da narrativa.

4. Assassinos da Lua das Flores, de Martin Scorsese

Assassinos da Lua das Flores é um drama histórico perturbador. Afinal, o filme retrata a história de homens que trataram o assassinato quase como algo cotidiano. Dessa forma, o renomado cineasta caminha na linha tênue entre contar uma história específica de um casal no centro de uma tragédia e comentar sobre a natureza mais ampla do mal. Com isso, a obra ao mesmo tempo nos aproxima da veracidade dos personagens e aprofunda-se em discussões que não se restringem a uma época ou lugar apenas.

5. Saltburn, de Emerald Fennell

Saltburn revela-se um conto sobre a natureza humana em suas tendências mais mundanas. Isso inclui desde o desejo pelo prazer e a posse até o egoísmo e a superficialidade de objetificar pessoas e experiências. Então, por meio de diálogos surreais, ambientes luxuosos e reviravoltas cruéis, o filme desconstrói as crenças e expectativas do senso comum de uma maneira deliciosamente divertida e perversamente incômoda.

6. Os Fabelmans, de Steven Spielberg

O protagonista observa que uma câmera pode ser usada não apenas para contar histórias e tirar fotos bonitas. Mas sobretudo, ela tem um poder intangível. Ou seja, pode ser responsável para inspirar ou depreciar pessoas, manipular informações ou ser uma grande aliada para a socialização. Dessa forma, o filme também é um recorte de parte da trajetória do próprio Steven Spielberg. E além desse caráter autoral, Os Fabelmans também envolve interpretações carismáticas e eficientes.

7. Oppenheimer, de Christopher Nolan

Oppenheimer acerta ao trazer uma perspectiva mais humana à história da explosão da primeira bomba atômica. Essa opção narrativa, inclusive, pode ser observada nos closes de um elenco expressivo em quantidade e qualidade de interpretação. Assim, ao final das esmagadoras mais de três horas de projeção, temos uma dimensão do poder destruidor de uma invenção dessas. Afinal, além dos impactos terríveis e imediatos, há um clima de medo e ameaça que paira sob a humanidade e parece irreversível depois da primeira explosão.

8. Vermelho, Branco e Sangue Azul, de Matthew Lopez

Vermelho, Branco e Sangue Azul é um conto de fadas apaixonante sobre a história de amor entre dois homens jovens e belos. Nesse sentido, as atuações fofas e densas de Nicholas Galitzne e Taylor Perez, assim como a química impecável entre a dupla, é o trunfo da produção. Isso se fortalece graças ao background bem construído dos protagonistas. Afinal, conhecer sobre a história e as relações familiares deles conferem ao casal propósitos e compromissos a honrar.

9. Pânico VI, de Tyler Gillett e Matt-Betinelli Olpin

Em Pânico VI, percebemos as piadas de terror nerd, com muitas referências a artistas, filmes e produção de conteúdo voltados ao horror slasher. Mas, o legal é que essas citações nunca surgem apenas como curiosidade ou alívio cômico. Afinal, elas também são parte do desenvolvimento da história e dos personagens. Dessa forma, a narrativa mantém as qualidades de todo conjunto da obra idealizada por Kevin Williamson e Wes Craven nos anos 90, como diálogos espirituosos e personagens carismáticos. Além disso, é incrível como a obra se equilibra entre momentos calorosos e cenas de forte tensão. Ou seja, Pânico VI ainda é capaz de assustar como um bom filme de terror ao mesmo tempo em que consegue se estabelecer como uma brincadeira divertida e não ofensiva.

10. Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes, de Francis Lawrence

Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes parte de uma premissa muito interessante ao contar como o vilão soberano da franquia tornou-se um tirano na juventude. Com isso, o filme discute criticamente noções como status e poder, desigualdade social e a violência como espetáculo. Porém, o mérito está na maneira divertida e sem sensacionalismo como as reflexões são suscitadas, deixando a possibilidade do público desenvolver as próprias percepções. Além disso, todo o elenco está excelente e envolve em composições ricas e diversas. Ainda, a obra tem uma bela trilha sonora de canções regionais do Apalache e ótimas intervenções musicais na interpretação da co-protagonista Rachel Zegler.

Autora

Sophia Mendonça é uma jornalista, escritora e pesquisadora brasileira. É mestre em Comunicação, Territorialidades e Vulnerabilidades (UFMG) e doutoranda em Literatura, Cultura e Tradução (UfPel). Em 2016, tornou-se a pessoa mais jovem a receber o Grande Colar do Mérito em Belo Horizonte. Em 2019, ganhou o prêmio de Boas Práticas do programa da União Européia Erasmus+

Mundo Autista

Posts Recentes

A música Firework, de Katy Perry, é um hino budista?

Você sabia que a música Firework, de Katy Perry, é um hino budista? Confira a…

15 horas atrás

Crítica: Enfeitiçados (2024)

Enfeitiçados parte de uma premissa inovadora e tematicamente relevante. O filme traz uma metáfora para…

2 dias atrás

Crítica: A Nonsense Christmas with Sabrina Carpenter

Sophia Mendonça resenha o especial de Natal A Nonsense Christmas with Sabrina Carpenter, com esquetes…

2 dias atrás

O autismo na série Geek Girl

O autismo na série Geek Girl, uma adaptação da Netflix para os livros de Holly…

5 dias atrás

Crítica: Os Fantasmas Ainda Se Divertem (2024)

Os Fantasmas Ainda se Divertem funciona bem como uma fan service ancorada na nostalgia relacionada…

5 dias atrás

Crítica: Ainda Estou Aqui (2024)

Ainda Estou Aqui, com Fernanda Torres, recebeu duas indicações ao Globo de Ouro e está…

1 semana atrás

Thank you for trying AMP!

We have no ad to show to you!