A contadora de histórias e crítica literária Roberta Colen comenta sobre o romance juvenil Danielle e o autismo na adolescência. Afinal, Danielle é um livro de 2016 da autora autista Sophia Mendonça.
Danielle é uma adolescente de 16 anos diagnosticada com Síndrome de Asperger aos 8 anos de idade, que na infância era considerada uma criança problemática e briguenta, mas na verdade, ela estava apenas sendo sincera e defendendo suas convicções. Danielle além de ter de enfrentar o limbo natural da idade (não ser mais criança e nem ser adulto ainda), trava uma luta pessoal de autoceitação.
Observadora, ansiosa e muito autocrítica, ela tem colapsos mentais constantes, sofre com sua baixa autoestima mas surpreende com a capacidade de admirar um outra pessoa que é publicamente criticada por seus tropeços na vida, e entende que ainda assim é possível ser amada.
Seu sofrimento é incompreendido e subestimado, sua fobia social é confundida com timidez, mesmo seguida da anorexia, da bulimia e de depressão profunda. Seu autismo é considerado “leve”, fardo pesado que a faz querer dormir e nunca mais acordar.
Em casa ela pula em cima da cama, anda em círculo em busca de palavras, pode assistir e rever sua novela preferida quantas vezes quiser, ali ela pode ser ela de verdade. Fora do seio familiar aprendeu que tem que ser “normal” e conhece as regras. Tudo o que quer é ser aceita, aliás tudo o que todo mundo quer é ser aceito. Mas, todo mundo foge dela…
Como a maioria das garotas da sua idade, ela tem sonhos e um ídolo, e já se imaginou estrela de cinema em Hollywood, ou pelo menos atuando ao lado de sua atriz favorita: a vilã da novela! Ah! Ela adora os vilões! Talvez por se identificar com o fato de ninguém gostar deles, ou por serem os mais divertidos da trama.
Para Danielle, sua mãe é sua parceira, está sempre ao seu lado e incentivando. Mas há momentos em que se sente um peso, um problema, justo na vida de quem ela mais ama… Os pais não deram certo como casal, mas como amigos eles são ótimos! O pai negava veementemente o diagnóstico dela, com o tempo, aos poucos, está mudando de opinião.
Danielle assim como eu, considera a literatura um mundo mágico para o qual nos transportamos e vivemos as mais diversas emoções, nos mais variados lugares, sem sair de casa. Aliás para ela, estar em contato com um produto artístico e de entretenimento é infinitamente melhor do que estar em contato com o outro. A obra não rejeita, não trata mal nem finge que a pessoa não existe.
Então, se ficasse rica da noite para o dia, se mudaria para um lugar isolado e pacífico, com coelhinhos e gatos, muitos gatos. Eles assim como ela, são mais “na deles”, não gostam muito do toque.
Ultimamente, Danielle tem evitado se encontrar com pessoas que ela tem pouco contato, o estresse para tentar parecer “normal” não compensa. Tem taquicardia, treme muito, sente um turbilhão de emoções!
Emoções…engraçado! Nunca em hipótese alguma, ela poderia imaginar o que estava por vir. Haja coração!
Roberta Colen Linhares é natural de Belo Horizonte – MG. Além disso, é casada e mãe de Arthur e Isis. Também é contadora de histórias pelo Instituto Aletria e graduada no Curso de Letras na PUC Minas.
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