Autismo na Adolescência

O que são os gatilhos na vida dos autistas?

Hoje eu vou falar de um assunto que preocupa tanto educadores quanto a própria família da pessoa autista, principalmente da criança ou adolescente no espectro. Ou seja, de repente, você está com uma criança, um adolescente, ou mesmo um adulto. E a pessoa se desorganiza e tem um colapso. Assim, a primeira pergunta de alguém que entende um pouco mais é: Mas, lembra aí, o que está diferente, qual que é o gatilho? O que aconteceu?

O que são os gatilhos na vida dos autistas e de qualquer pessoa?

Hum… Gatilhos! O que são gatilhos? Gatilhos, na vida de qualquer pessoa, são lembretes que a gente tem de uma forte emoção. Portanto, neste caso, de uma situação desconfortável ou triste. Então, alguns gatilhos nos remetem a essa situação. Ou seja, quando um autista, independentemente se criança, adolescente ou adulto, se desorganiza e você tenta imaginar o gatilho, você pode ter dificuldade porque você vai analisar o contexto.

– Poxa, o que está rolando? O que eu fiz? O ambiente está muito iluminado, está com muito apelo sensorial, tem alguma música alta? O que está acontecendo?

Porém, nem sempre o gatilho é a causa de uma desorganização, crise ou colapso. Então, uma pessoa que conhece mais a criança autista, o adolescente autista, vai falar assim:

Como perceber os gatilhos na vida dos autistas

– Nossa, essa pessoinha teve uma experiência muito ruim em determinada sala de aula que tinha uma composição igual a essa, que nós chegamos aqui. Então ela se lembrou dessa situação e se desorganizou. Ou então, quando chegam muitas pessoas na casa e já chegam gritando: “Ah… Que… Vocês estão aí?!”, aquela coisa toda, aí a pessoa também lembra de quando teve uma festa na casa e que foi horrível porque ela não conseguia dormir, teve barulho, enfim…

Isso é fácil? Não. Mas, a pessoa autista, adolescente ou adulta, requer da gente a atenção dela. Afinal, é um funcionamento diferente. Logo, o nosso olhar sobre essa pessoa tem que ser um olhar diferente.

Exemplo do que são os gatilhos na vida dos autistas

Assim, para vocês terem uma ideia, eu iria à minha dentista, que é minha amiga. Então, eu disse: “Ah, me atende com urgência! Etc e tal“. Porém, ela mora num bairro oposto ao meu aqui em Belo Horizonte. Daí, já surge o primeiro problema: eu não conheço muito. Então, o que eu fiz, como adulta? É que, quando criança ou adolescente, os pais normalmente tentam traçar e fazer isso que eu estou falando aqui. Isso, de modo a tornar a vida da pessoa autista o menos imprevisível que puderem.

Então, eu analisei horário, analisei trânsito, analisei que horas chegar, analisei se tinha estacionamento perto. Ou seja, analise tudo para que não ocorresse o estresse. Portanto, saí muito mais cedo da minha casa e já tinha feito o reconhecimento do trajeto. Assim, cheguei ao estacionamento e coloquei meu carro. Portanto, tinha aí uns quarenta minutos que eu ia ficar sem fazer nada, daí eu resolvi andar no bairro. Nossa! E aí, eu fui olhando aquele bairro, que me lembrou um bairro da minha infância que era de um poder aquisitivo maior que o meu, à época.

Como lidar com os gatilhos de crises nos autistas

Dessa forma, eu me senti perdida e desamparada nesse bairro. É que a rua tinha muito apelo visual, como esse que eu estava naquele momento. Assim, era muita cor cinza. Mas com muita pixação. Portanto, não era nem grafite, e sim pixação mesmo. E muitos fios! Gente, em pleno século vinte e um, a energia elétrica das cidades, a iluminação da cidade, é pensada ainda com fiação aérea. E aquele tantão de fio, com fio de não sei o quê…

Assim, eu fui olhando aquele lugar cinza. E fui olhando a rua estreita. E quando eu vi, eu comecei a respirar… Porque eu estava com aquela sensação que eu já conheço, que não era boa. Por isso, fiz o caminho de volta, respirando profundamente. E entrei no prédio em que eu deveria ir, que era um iluminado, com cores modernas. Ou seja, era uma outra vibe. Assim, eu comecei a me sentir um pouco melhor. E o que é mais importante: eu comecei a me sentir segura. E aí cessou o gatilho.

Como agir para evitar gatilhos de crises em crianças autistas

É que, como adulta que sou, consegui respirar e me acalmar antes de vir a crise que fatalmente iria me desorganizar completamente. Porém, a criança e o adolescente nem sempre fazem isso. Então, quem está à volta é que vai fazer esse papel. E aí, não adianta tentar consertar o ambiente em si. Afinal, o gatilho pode ser uma causa lá atrás.

Mas, eu descobri que no diálogo entre adultos ou mesmo das pessoas típicas, às vezes você está discutindo com a sua mãe ou com seu namorado, com o seu amigo, com a sua amiga e você toca no gatilho de uma pessoa. Assim, você a leva para uma situação de desconforto e a pessoa te devolve uma fala que também pode acionar um gatilho em você. Isso falando de pessoas neurotípicas. Esse diálogo nunca vai dar certo, porque a gente já atingiu a zona de desconforto. Portanto, quando notar algo assim e que, possivelmente, a pessoa vai começar a se justificar, a falar, a agredir com coisas que não tem nada a ver, é melhor pular fora. Afinal, às vezes você aciona um gatilho que não tem nada a ver com aquela conversa e o diálogo então fica muito mais difícil. Portanto, não vamos complicar a vida. Afinal, de complicação a gente já está cheio.

Vídeo

Selma Sueli Silva é uma youtuber, escritora, podcaster e radialista brasileira. Em 2019, ganhou o prêmio de Boas Práticas do programa da União Europeia Erasmus+.

Mundo Autista

Ver Comentários

  • Olá!
    Achei essa explicação sobre gatilhos extremamente confusa!!! Rsrsrs
    Poderia ser mais objetiva. Enfim…
    Serviu para despertar meu gatilho.

    • Claro: Segue um pequeno resumo. Abraço
      1. Autistas podem ter colapsos ou crises.
      2. Gatilhos são lembranças que nos remetem à uma experiência ruim ou não resolvida.
      3. É difícil perceber o que (gatilho) levou o autista a lembrar dessa emoção ruim, porque não sabemos qual ela é e nem o contexto em que ocorreu.
      4. Uma música pode ser o gatilho mas não a causa de uma crise, pois no contexto lá atrás, na hora que o coleguinha mordeu a criança, por exemplo, estava tocando essa música.
      Assim, a música é o gatilho da crise e a lembrança das emoções da situação vivida é a causa

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