Camila Marques
Como foi conviver com o Victor na sala? Ao exercer a inclusão de forma genuína e respeitando as individualidades de cada um, quem ganhou foi a minha sala, e eu também.
A faculdade é um universo muito novo porque, se você sai do ensino médio e vai diretamente para uma, significa um salto de amadurecimento. Se não, você no mínimo, irá conviver com pessoas diferentes de você. Diferentes em classe social, criação e valores. Assim foi comigo, em 2015. E, provavelmente, foi com o Victor.
O Victor foi uma das pessoas com quem, intuitivamente, eu simpatizei. Mas, não me aproximei. Não em um primeiro momento. Não lembro exatamente o que aconteceu, mas na época houve as primeiras divisões de grupo e acabei enturmando com outras pessoas, embora eu sempre tivesse me simpatizado pelo Victor. Eu achava incrível ter um autista na sala, embora eu não enxergasse as potencialidades do Victor (não naquele momento). Frequentemente, vemos as pessoas pelas características e não vemos a essência. Assim como não quero ser vista apenas como ”a negra”, tenho certeza que o Victor não quer ser visto como ”o autista”.
O Victor foi muito acolhido na nossa turma. O grupo que fez trabalhos com ele permaneceu junto do primeiro ao sétimo período. E, mesmo assim, ele nunca se “escorou” nos colegas, sempre ajudando na criação e contribuição dos trabalhos, dentro da metodologia dele e com o auxílio da orientadora. Mesmo de fora, eu e os demais enxergávamos isso. Assim, tive a chance de desfazer os estereótipos que eu e tantos temos de que o autista é antissocial, não gosta de afeto e os demais rótulos. Quando o Victor lançou o livro “Outro olhar”, ficamos todos muito orgulhosos. Só me aproximei do Victor melhor e pude quebrar o gelo (fico nervosa perto de quem admiro) algum tempo depois. Tivemos uma conversa no Zito (clássica lanchonete do UniBH) e pude falar um pouco da minha vida para ele, rs. Em um determinado momento, achei que estivesse falando demais e que estivesse cansado de mim, mas aí ele começou a me falar sobre as origens da Selma. Ali quebrou o gelo para mim. E desde então, ficamos mais próximos.
Aos poucos, então, pude desfazer alguns mitos que eu mesma tinha com relação ao Victor e ao autismo. Sempre conversávamos, mesmo com a correria do semestre. Teve uma ocasião em que a turma estava muito agitada (eu me incluo nisso). Os líderes de turma chamaram a atenção da sala, pois sabíamos que precisávamos fazer do ambiente o melhor possível para todos. Na época, pensamos no Victor também e decidimos melhorar. Só pude ver que o autismo é uma possibilidade através do Victor, ainda que ele não fizesse as provas com a gente na sala, ele também era cobrado nas disciplinas e ia bem com as provas. A ideia de “mão na cabeça” cai por terra aí. Além de participar das festas, ele participava interagindo e não apenas estando presente.
O autismo não isolou o Victor; por ele ter se colocado para a turma, ajudou a mim e aos demais nessa “desconstrução”. Para mim e para a turma, o Victor é exemplo de admiração, não querendo reforçar o capacitismo que bloqueia tantos, mas sim de que as possibilidades são possíveis desde que sejam exploradas.
Você sabia que a música Firework, de Katy Perry, é um hino budista? Confira a…
Enfeitiçados parte de uma premissa inovadora e tematicamente relevante. O filme traz uma metáfora para…
Sophia Mendonça resenha o especial de Natal A Nonsense Christmas with Sabrina Carpenter, com esquetes…
O autismo na série Geek Girl, uma adaptação da Netflix para os livros de Holly…
Os Fantasmas Ainda se Divertem funciona bem como uma fan service ancorada na nostalgia relacionada…
Ainda Estou Aqui, com Fernanda Torres, recebeu duas indicações ao Globo de Ouro e está…