Hoje vou explicar sobre o que é o Budismo. Afinal, pratico desde os 18 anos esse híbrido entre filosofia e religião não-teísta. Mas, muito antes de mim, minha avó tornou-se praticante em 1981, enquanto minha mãe abraçou a atuação budista em 2005. Ou seja, é algo antigo em minha família. Porém, muitas pessoas no contexto brasileiro ainda tem no imaginário uma visão do senso comum do que isso seria. Portanto, veem o exercício budista como uma meditação dissociada dos eventos cotidianos.
É que, na verdade, existem várias linhagens budistas desde que Sidharta Gautama fundou essa doutrina há cerca de 3000 anos. Isso ocorreu na região que hoje é o Nepal. Inclusive, Shakyamuni é o nome pelo qual conhecemos Sidharta após a fundação. Ele observou os sofrimentos do nascimento, envelhecimento, doença e morte. Isso porque, embora ele próprio fosse jovem e saudável, percebeu que eram aspectos inevitáveis da vida humana. Portanto, renunciou à vida secular e embarcou na busca de uma filosofia sólida. Então, Shakyamuni estudou tanto os ensinamentos tradicionais quanto os novos ensinamentos da época. Ele também praticou meditação e percebeu meios de superá-lo.
Afinal, Shakyamuni percebeu que as pessoas estavam sofrendo devido à ignorância sobre a dignidade das próprias vidas. E também, por causa do egocentrismo decorrente do apego a desejos indescritíveis e egoísmo destrutivo. Portanto, ensinou que, ao despertar para a Lei universal, a pessoa pode se libertar do eu inferior e manifestar seu estado de vida puro. Assim, explicou que esse estado de vida é a qualidade mais digna e essencial necessária para viver uma vida humana plena.
Shakyamuni tinha como objetivo o florescimento da vitalidade humana e o despertar da dignidade insuperável na vida dos indivíduos. Assim, visava à liberação do potencial interior por meio do exercício da sabedoria. Além disso, ele enfatizou que a consciência da dignidade da própria vida deve levar ao respeito pela dignidade de todas as outras vidas Porém, após a morte de Shakyamuni, os ensinamentos, que tiveram como centro a compaixão e a sabedoria, receberão documentação em vários sutras. Estes registros se tornaram a base para o estabelecimento de um sistema de doutrinas e escolas de budismo.
A prática budista que eu sigo vem cerca de 500 anos após a morte de Shakyamuni. Este pensamento tem origem com o movimento Budismo Mahayana, que apresenta um maior enfoque na compaixão e no altruísmo. Com essa outra linhagem, há o surgimento de várias linhas de Budismo, por meio de estudiosos como Tientai, que direciona um olhar mais profundo sobre o Sutra do Lótus. Este ensinamento descreve o juramento de Shakyamuni para elevar o estado de vida de todos os seres vivos ao mais elevado nível de consciência.
Tal perspectiva ganhou novo fôlego no Japão do século 13, por meio de Nichiren Daishonin. Isso porque Nichiren estudou a densidade da obra e concluiu que ela trazia em si toda a essência dos pensamentos de Shakyamuni. Além disso, Nichiren revelou a recitação do Nam Myoho Renge Kyo, cuja repetição em cântico chama Daimoku. Esta frase em sânscrito revela ideogramas que se desdobram em complexos significados. Porém, o que ela representa em síntese é o compromisso de desempenhar ações, palavras e pensamentos benevolentes para obter efeitos igualmente positivos para si e o coletivo.
Afinal, o Budismo não traz um conceito personificado de Deus. Nem tampouco crê em mundos que não sejam o físico. Portanto, limita as ideias de céu e inferno a metáforas a respeito do comportamento humano. O que o budismo prega é a existência de dez possibilidades de manifestação dessas atitudes, que interagem entre si. Ou seja, são como se fossem oscilações de humor. Assim, o Estado de Buda seria o maior nível de percepção dos fenômenos. Dessa forma, simboliza uma condição de felicidade plena.
Por meio da prática budista diária, as pessoas são capazes de desafiar vários obstáculos, refletir profundamente sobre si e despertar esperança e espírito de desafio e coragem. Com isso, são capazes de abraçar valores firmemente fundamentados na humanidade e construir uma personalidade inabalável. Este é o processo que, na organização Soka Gakkai, chamamos de Revolução Humana.
Sophia Mendonça é uma youtuber, podcaster, escritora e pesquisadora brasileira. Em 2016, tornou-se a pessoa mais jovem a receber o Grande Colar do Mérito em Belo Horizonte. Em 2019, ganhou o prêmio de Boas Práticas do programa da União Européia Erasmus+.
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