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O que é o apagamento da História?

A primeira etapa para compreender o apagamento da História vem com a percepção de que um texto não se trata uma imitação de coisas presentes no mundo. Na verdade, ele é um gesto de comunicação. Portanto, é intencional e aberto. Assim, é preciso reconhecer que os dispositivos midiáticos funcionam como uma espécie de agendamento. Ou seja, eles atuam a partir de uma interação entre determinados grupos sociais. Portanto, são os interesses deles que pesam em como determinados fenômenos devem entrar para a agenda pública. Esta é uma relação intrincada entre dispositivos, sejam eles midiáticos ou não.

O que é o apagamento da História nas mídias?

Por isso, é importante lembrar que mídias são locais de manifestações de apreço e de ódio, assim como compaixão e preconceitos. Portanto, estão abertas a sentimentos contraditórios que podem se manifestar em torno de um mesmo acontecimento. Logo, as mídias devem ser compreendidas também a partir da perspectiva dos atores sociais. Estes são agentes que estão sujeitos às construções, reconstruções e rearranjos das dinâmicas socioculturais, políticas, econômicas e ideológicas. Além disso, também fazem parte da diversidade de interessados que ao mesmo tempo constroem e vão construindo o social.

Dessa forma, textos são prática de representação e significação do mundo. Ou seja, eles o constituem e constroem como significado. Portanto, jamais podem ser vistos como dados. Afinal, são instituídos e configurados pela ação da linguagem em situação de troca social. Assim, os textos e signos são relações e ocasiões para interpretar fenômenos sociais.

Como ocorre o apagamento da História por textos?

Além disso, conceitos enraizados e os movimentos por mudanças levam à reflexão sobre a “heterogeneidade constitutiva”. Isso significa que, por mais que a realidade exista, é preciso uma concretude nos discursos para que seja apreendida. Porém, os autores desses discursos não têm controle racional das vozes culturais e históricas que atuam nessa construção.

Essas reflexões encontram eco nas definições sobre as narrativas. Afinal, estas buscam dar conta de sintetizar o heterogêneo. Assim, conferem aos fenômenos uma lógica de trama. Ou seja, unem pontos que nem sempre dialogam entre si. Dessa forma, ocorre uma espécie de reprodução da ação. O que, embora nunca consiga ser fiel, é uma ferramenta potente para lidar com a insuficiência da linguagem que ela mesma traz.

Tudo isso dialoga com os conceitos de “escrevibilidade” e “legibilidade”. Isso porque toda narrativa é legível em algum grau. Portanto, une aspectos previstos e não previstos. Com isso, provoca choques entre os universos de autores e receptores em meios aos intricados processos de interpretação. Desse modo, a construção histórica das mídias são frutos de negociações que não sempre pacíficas ou igualitárias. Porém, esses dispositivos carregam linhas de fissura e subjetivação. Então, mesmo que haja uma tentativa de apagamento de determinado grupo histórico, ele continuará produzindo. Ainda que não seja visto. Ou que seja percebido como aquele que não produz discursos relevantes ou notórios.

Texto adaptado de artigo de Sophia Mendonça para o livro Ainda Assim nos Levantamos

Autora do artigo

Sophia Mendonça é uma youtuberpodcasterescritora e pesquisadora brasileira. Em 2016, tornou-se a pessoa mais jovem a receber o Grande Colar do Mérito em Belo Horizonte. Em 2019, ganhou o prêmio de Boas Práticas do programa da União Européia Erasmus+.

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