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O que é hiperfoco em pessoas?

Sophia Mendonça explica uma nuance pouco explorada sobre o que é o hiperfoco no autismo: a obsessão por pessoas, famosas ou do dia a dia.

Capa do episódio do Mundo Autista Hiperfoco em Pessoas, sobre como é o hiperfoco em pessoas no autismo

O hiperfoco em pessoas é um assunto controverso na comunidade do autismo. Aliás, o hiperfoco em si é o interesse restrito e intenso por alguns temas específicos que as pessoas autistas têm. Porém, neste texto me proponho a direcionar o olhar para outra faceta desta característica. Ou seja, vou falar sobre um lado pouco explorado do hiperfoco. 

Existe hiperfoco em pessoas?

Afinal, muitos seguidores apresentam dúvidas frequentes sobre o tema: esse hiperfoco, necessariamente, vai ser algo do dia a dia? Ou seja, vai estar ligado a assuntos cotidianos, como filmes e desenhos animados. Ou este conceito refere-se a interesses mais excêntricos, a exemplo de data de morte das pessoas ou outras noções estatísticas e peculiares? Contudo, o questionamento mais comum é: existe hiperfoco em pessoas. E a resposta que vem depois de um cruzamento de estudos e vivências pessoais e coletivas é que sim, ele existe e não é tão incomum quanto pode parecer em uma observação mais superficial dos critérios diagnósticos do autismo. 

Portanto, o hiperfoco em pessoas é relativamente frequente em autistas. Inclusive, esse traço pode ser mal interpretado. Afinal, há casos em que o comportamento do autista se assemelha ao de um stalker ou perseguidor. Ou seja, a pessoa autista quer saber absolutamente tudo sobre aquele indivíduo que é alvo do seu interesse, de modo a não deixar lacunas ou brechas nas informações que colhe sobre ele.

Diferenças entre autistas e neurotípicos

É que, enquanto as pessoas neurotípicas tendem a procurar a troca de vivências e experiências em suas interações cotidianas, o que move o autista nessa relação não é necessariamente essa via de dupla. Então, em muitos casos, a pessoa com TEA que conhecer tudo sobre a pessoa do seu interesse sem que essa busca tenha uma finalidade específica.

Aliás, o hiperfoco em pessoas é uma característica que compartilho com outros autistas. Inclusive, ele pode se evidenciar de maneiras variadas. Por exemplo, eu tenho um interesse muito além do comum por celebridades que me inspiram e que guardo como referência. Então, posso citar como exemplos a CEO de uma empresa de tecnologia e atriz Angelica Ross e a cantora e também excelente atriz Lucy Hale. Portanto, estou sempre acompanhando e pesquisando o máximo possível sobre elas. Isso vai da vida pessoal e projetos profissionais a posicionamento político e religioso.

Os riscos do hiperfoco nas interações cotidianas

Porém, o hiperfoco em pessoas também pode aparecer nas interações cotidianas. Aliás, ele costuma a ter como direção quem a gente possui como referência. Por isso, pode ser o pai, a mãe ou marido ou a esposa. Mas os casos mais problemáticos são os que também envolvem interesses românticos. Por exemplo, eu conheço o caso de um seguidor que chegou a mudar o curso que ele fazia na faculdade por causa de determinada paixão não correspondida. 

Aliás, este internauta passou por uma obsessão tão grande que queria copiar documentos dessa jovem. Afinal, ele desejava ter todo o controle sobre a vida da moça por quem que ele estava interessado. Isso pode parecer perigoso, e em alguns casos é de fato.

Então, a gente tem que dialogar com a pessoa autista sobre até que ponto esse hiperfoco deve ser incentivado. Afinal, em alguns casos, pode ser um comportamento inadequado e até abusivo e assedioso. Já em outros movimentos, o hiperfoco em pessoas é um forte aliado na compreensão das relações pessoais e profissionais.

Sophia Mendonça é uma youtuber, podcaster, escritora e pesquisadora brasileira. Em 2016, tornou-se a pessoa mais jovem a receber o Grande Colar do Mérito em Belo Horizonte. Em 2019, ganhou o prêmio de Boas Práticas do programa da União Europeia Erasmus+.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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Jason
Jason
1 ano atrás

Cadê as referências bibliográficas? O q fundamenta essa texto? Falta

Miguel
Miguel
4 meses atrás

Olá, sou miguel, um autista de 22 anos.
Isso explica muita coisa… eu pensava que eu era uma pessoa ruim por agir como um stalker quando minha namorada terminou comigo. Eu pensava que eu era aquelas pessoas nojentas e desprezíveis que não passavam de maníacos. Eu recentemente passei por outro término de relacionamento, onde fui acusado de ser “dependente amoroso” e agora lendo isso, sabendo que a culpa não é minha, estou chorando copiosamente em uma crise.

Eu não queria ser desse jeito, eu não queria nascer assim… ser autista é a pior coisa da minha vida e ainda tem gente que acha fofo