Selma Sueli Silva
Assisti ao programa “Bem Estar” dia desses e fiquei triste. Mostraram um jovem de 18 anos que, após um ano de terapia ABA e muito dinheiro depois, aprendeu como um autista deve se comportar para ser inserido na sociedade.
Sou autista e vivi a maior parte de minha vida sem saber do diagnóstico. Quando soube, foi uma libertação porque descobri várias coisas: por que eu era do meu jeito, por que me sentia inadequada, por que muitas vezes fui inconveniente, por que minha mãe não conseguia ver as coisas como eu via, por que me sentia tão exausta com as atividades da vida diária, por que não sei andar de ônibus, por que ao conhecer meu futuro marido falei que o amigo dele que se parecia muito com ele era bonito e que ele era o rascunho desse amigo.
E o que mudou com o diagnóstico já que, para a sociedade, eu “venci” na vida? Leveza, minha gente, leveza. Ao saber do meu cérebro neurodivergente, eu me entendi melhor e passei a respeitar meus limites. Eu descobri que a frase “todo mundo dá conta, então você também dá” é um discurso cruel. Assim como a frase “aceite suas limitações”. Quem sabe de mim sou eu, e como respondeu Miguel Falabella na peça “O Sim e a Sílaba”: não é o caso de dar um passo maior que a perna. Eu é que sei o tamanho da minha perna.
Sofri horrores, eu e meu filho Victor, que também é autista. Mas tenho um cérebro neurodivergente com inúmeras possibilidades. E é uma delícia descobrir cada uma delas.
Mas, como a visão que foi mostrada no “Bem Estar” é de que autismo é doença, o diagnóstico do adulto surpreende, pois o senso comum não associa o autista à pessoa vitoriosa e independente.
Então, vou adaptar a resposta que dava aos meus colegas de escola na infância, quando me chamavam de esquisita: “Eu sou esquisita de nascença, você é esquisito de doença”.
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