No filme ‘Saneamento Básico’ (2007), os moradores de Linha Cristal, na serra gaúcha, uma pequena vila de descendentes de colonos italianos, reúnem-se para tomar providências a respeito da construção de uma fossa para o tratamento do esgoto. Eles elegem uma comissão, que é responsável por fazer o pedido junto à subprefeitura. Entretanto, a secretária informa que não terá verba para realizá-la até o final do ano. Mas a prefeitura dispõe de R$ 10 mil para a produção de um vídeo. Se o dinheiro não for usado, deverá ser devolvido ao governo federal.
A comissão fazer um vídeo sobre a própria obra, para conseguir o dinheiro para a obra. Porém, a retirada da quantia depende da apresentação do roteiro e do projeto do vídeo. Além disso, deve ser ficção. Dessa forma, os moradores se reúnem para elaborar um filme, que seria estrelado por um monstro que vive no esgoto da cidade.
O cinema independente no filme Saneamento Básico
O filme tem direção de Jorge Furtado. O mesmo diretor de “Ilha das flores” (1989), “O Homem que copiava” (2003) e “Meu tio matou um cara” (2004). O que já é, em si, uma referência para a qualidade da obra, por trás de uma aparente simplicidade.
Então, acompanhamos os moradores na construção do filme ‘O Monstro do Fosso. O uso da metalinguagem enriquece a obra, com muito humor e crítica forte, porém sutil, à esperteza dos políticos e empreiteiros e a ignorância mesclada à ingenuidade de nosso povo. Nem os profissionais que fazem cinema para poucos e criticam os filmes comerciais foram poupados.
Leveza e profundidade na obra de Jorge Furtado
Exemplo de pequenos detalhes que fazem a diferença é a cena em Joaquim, personagem de Wagner Moura, pede ‘fogo’ para rapaz que não tem. Ele vê uma criança, sentada no banco da praça e pede a ela, mesmo que incrédulo de que ela possa ajudar. Joaquim se surpreende, pois, a criança não só tem ‘fogo’, como oferece um isqueiro Zippo para acender o cigarro dele.
A sutileza reside no fato de a marca ser, atualmente, considerada item de colecionador e pertencer a uma criança. Em outras palavras, não podemos duvidar nem mesmo daquilo que parece impossível.
Desse modo, ao final do longa percebemos que é possível fazer filme inteligente para grandes plateias, sem ser comercial. Assim, a obra vai além da comédia. Ou seja, é uma crítica social muito afiada sobre abandono, burocracia e aquelas dificuldades enfrentadas pelas pequenas comunidades no Brasil. Mas, tudo isso com leveza, sem perder a profundidade.
Avaliação

Selma Sueli Silva é criadora de conteúdo e empreendedora no projeto multimídia Mundo Autista D&I, escritora e radialista. Especialista em Comunicação e Gestão Empresarial (IEC/MG), ela atua como editora no site O Mundo Autista (Portal UAI) e é articulista na Revista Autismo (Canal Autismo). Em 2019, recebeu o prêmio de Boas Práticas do programa da União Europeia Erasmus+. Prêmio Microinfluenciadores Digitais 2023, na categoria PcD. É membro da UNESCOSOST movimento de sustentabilidade Criativa, desde 2022. Como crítica de cinema, é formada no curso “A Arte do Filme”, do professor Pablo VIllaça.
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