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O cérebro neurodivergente dos autistas

Selma Sueli Silva

Respostas sensoriais são mais rápidas. Já a região do cérebro ligada ao aprendizado e ao controle de impulsos motores funciona mais devagar.

Vida de autista (e da família de autista) é assim. Uns dias mais, outros menos. Nós que somos tão apegados a rotinas, vivemos em um looping de emoções. Nesse momento de estranheza em que a gente tem o mundo todo tentando entender o que está acontecendo, o mesmo acontece no nosso interior. Nossa cabeça não para. Tentamos entender por que tudo mudou. O mundo então, não é seguro. As regras podem mudar do nada.

São tantas variáveis que tentamos encaixar (desde a criança autista até o adulto) que ficamos exaustos e podemos até nos desorganizar. Dizem que crianças típicas sentem o humor dos pais. Para a criança com o cérebro neurodivergente é assim também, em uma intensidade muito maior. Se a criança ou adolescente autista não é oralizado, essa emoção é passada em forma de depressão, gritos ou até reações mais violentas.

Atualmente, os pais tentam adequar os pequenos a essa nova rotina, mas sem saber como funciona o cérebro nessa desorganização, geralmente a tentativa de adequação que os pais oferecem se transforma em demandas para alguém que já se sente tumultuado demais.

Estudos da Universidade de Utah, nos Estados Unidos, mostram que, no cérebro de pessoas autistas, as conexões persistem por períodos mais longos do que nos cérebros de indivíduos neurotípicos. Em outras palavras, o cérebro neurodivergente tem mais dificuldade na alternação entre os processos, pois as conexões cerebrais permanecem sincronizadas por até 20 segundos, enquanto desaparecem mais rapidamente em indivíduos típicos.

A descoberta pode explicar por que os autistas sentem angústia quando expostos a vários estímulos de uma só vez, já que pessoas autistas não gostam de estímulos inesperados. A resposta pode estar no fato de que o cérebro não seja tão eficiente em mudar rapidamente entre ideias ou pensamentos.

Mais recentemente, em 2019, outro estudo, desenvolvido por cientistas britânicos e japoneses, descobriu que o cérebro de autistas é mais rápido em certas áreas, e mais lento em outras. Por exemplo, respostas sensoriais são velozes, mas a região ligada ao controle motor opera mais devagar.

Para entender a descoberta, é preciso lembrar que as áreas sensoriais do cérebro típico que processam informações ligadas aos reflexos humanos, vindas dos olhos, pele e músculos, têm períodos de processamento curtos, rápidos. Já áreas que processam informações mais complexas, como a memória, a inteligência e a tomada de decisões, respondem naturalmente de forma mais lenta.

Entretanto, o novo estudo mostra que essa hierarquia de “tempos neurais” é diferente em pessoas autistas. O cérebro dos autistas processa sinais sensoriais mais depressa que o normal. Já as respostas do núcleo caudado direito, região do cérebro ligada ao aprendizado e ao controle de impulsos motores, são mais lentas.

Portanto, muita calma durante a quarentena. Enquanto tudo que for sensorial é sentido rapidamente e está à “flor da pele” para os autistas, entender o que está acontecendo no mundo e reorganizar comportamento e estratégias para isso é um processo mais lento. Vamos lembrar, então, o que diziam nossas avós: paciência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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sax
sax
6 meses atrás

ta ,mais como eu faço para compreender um altista que n sabe falar por que ainda n desenvolveu a fala