O autismo é um transtorno, afinal? Ou melhor, é correto chamar o TEA com essa nomenclatura? A resposta é: depende da área de conhecimento!
Recentemente, no Instagram, acompanhei uma discussão interessante sobre a percepção de autismo como transtorno. Se, para algumas pessoas uso de prefixo com T é incômodo e estigmatizante, para outros o uso de tal terminologia parece traduzir com maior fidelidade as dores e desafios que vem com a vivência autista.
Porém, em uma comunidade marcada por características peculiares, que vão da rigidez ao pensamento literal, é preciso compreender que a resposta na maioria das vezes não se encontra em perspectivas extremas. Podemos aprender com um lado ou outro, mas é na intersecção que nos aproximamos mais da verdade.
Portanto, entender se a palavra Transtorno é adequada ou não para definir o autismo, depende do contexto. Ou, mais precisamente, da área do conhecimento que temos como base. Por exemplo, na seara do Jornalismo e das Ciências Médicas, não há problema. Isso porque, enquanto as perspectivas biomédicas tem como foco uma análise mais dura de características, sem trazer um olhar tão humanizado, o Jornalismo em geral aborda uma visäo mais consensual do que seria o autismo (ou TEA).
Por outro lado, se a abordagem ocorre sob um viés de estudos culturais ou mesmo no senso comum, o uso do termo TEA já traz um alerta. Palavras, por si só, são apenas um conjunto fonético e semântico. Mas elas carr egam conotações, significados, visões de mundo, estigmas e até preconceitos.
Além disso, linguisticamente, escrever a história também é criá-la. Assim, a repetição de uma palavra pode trazer uma validação de tudo que ela não engloba nem valida, mas vem com ela nesse todo de interpretações socioculturais. Então, o T de TEA não tem a ver apenas se o autismo configura como Transtorno ou não em um sentido abstrato. Mas, principalmente, da experiência que queremos que as pessoas autistas vivam ou não no mundo real, no que se refere às consequências de estigmas, como preconceitos e discriminações.
Enfim, a produção de conhecimento sobre autismo é mesmo multidisciplinar. Podemos, sim, nos beneficiar do contato com perspectivas outras. Mas que isso ocorra sem permitir a ingerência de uma área em um saber que näo é dela.
Sophia Mendonça é jornalista e escritora. Também, atua como youtuber do canal “Mundo Autista” e é colunista da “Revista Autismo/Canal Autismo“ e do “Portal UAI“. Além disso, é mestre em Comunicação, Territorialidades e Vulnerabilidades (UFMG) e doutoranda em Literatura, Cultura e Tradução (UfPel). Assim, em 2016, tornou-se a pessoa mais jovem a receber o Grande Colar do Mérito em Belo Horizonte. Já em 2019, ganhou o prêmio de Boas Práticas do programa da União Européia Erasmus+.
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