“Tinha tudo para dar errado mas, Arthur demonstrou que quem estava errada era eu.” – Roberta Colen
Uma linda história sobre o autismo e 1m75cm de coragem e resiliência
Ontem, o autismo. Hoje, 1m75cm de coragem e resiliência. Recordo dos eletrodos coloridos na cabeça, no rosto, no peito e nas pernas. Medidores de batimento cardíaco e respiração ligados ao tórax. E o de saturação no dedo indicador. Um sem número de fios conectados a um aparelho de nome estranho. Todos presos ao corpo por uma espécie de cera, ‘gelada’, segundo Arthur me disse.
Só de imaginar a cena, eu desistia de marcar o exame. Ainda por cima, teria que dormir em uma cama, em um quarto de um lugar desconhecido. Além disso, com sons e cheiros nada familiares. Assim, todo monitorado. E ele dormiu. Pouco. Mas, dormiu. Surpreendendo a todos os prognósticos imaginados na minha mente fértil de mãe calejada. Daquelas que repete o famigerado “gato escaldado…”.
Um dos desafios do autismo
Um menino que eu esperava dormir para cortar o cabelo dele. Aliás, com todo cuidado do mundo para ele não acordar. Ou seja, a hipersensibilidade tátil era como uma montanha gigante. Intransponível como aquelas dos contos de fadas. O corte ficava digamos, “estilizado”, o lado direito nunca ficava igual ao do esquerdo. O resultado era uma verdadeira obra de arte! Eu como cabeleireira (não a Leila) era uma ótima sei lá o quê!
O privilégio de ser amigo de uma criança autista
Enfim, quem não dormiu fui eu. Mas, como eu não me canso de repetir, tem sempre o ser humano para fazer a diferença. E lá, na clínica, tinha a Daiane. Uma jovem habilidosa, com jeito carinhoso de ser e falar. Ela explicava e conversava com Arthur sobre cada detalhe que ele perguntava. Uma mulher que também é mãe. E mais, é amiga de uma outra que tem um filho autista. Daiane conhece e convive com o autismo por meio de uma criança de 10 anos. Ela é interessada, curiosa, estudiosa. E ainda é aberta ao novo, ao diferente, ao diverso.
Daiane não tratou Arthur como incapaz, como coitado, como alguém invisível. Pelo contrário, ela não foi capacitista. Sorte nossa! E da a amiga da Daiane! E, claro, sorte da Daiane e dos seus filhos que são amigos de uma criança autista! Todos ganhamos enquanto sociedade. Ou seja, renovamos nossa fé na humanidade. Recarregamos nossa bagagem com esperança e fé. E, claro, com a certeza de que vale a pena todo o esforço, todo o investimento, cada leitura, cada curso, cada minuto.
O autismo e 1m75cm de coragem e resiliência
Portanto, nem em meus mais lindos sonhos, imaginei um dia que seria testemunha ocular de tamanha evolução em Arthur. Capacitismo meu de cada dia? Pois é. Autistas crescem, amadurecem, surpreendem. Autismo não é sentença de morte. E nem um calabouço escuro, solitário, sem saída. Na verdade, é a chave que abre portas. Portas que levam a outras portas, a corredores, a escadas que alcançam andares acima. E que nos transportam para o lado de fora do muro do preconceito, do mesmismo.
É preciso coragem e resiliência. E isso, meu filho tem em abundância!
Roberta Colen Linhares, natural de Belo Horizonte – MG, casada, mãe de Arthur e Isis, contadora de histórias pelo Instituto Aletria, e atualmente é graduanda do Curso de Letras na PUC Minas.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.