“Na praça quem dá milho aos pombos são as prostitutas e os vagabundos — filhos de Deus mais do que eu. Que vontade de fazer uma coisa errada. O erro é apaixonante. Vou pecar. Vou confessar uma coisa; às vezes, só por brincadeira, minto. Não sou nada do que vocês pensam. Mas respeito a veracidade: sou pura de pecados.” (Um Sopro De Vida – Clarice Lispector)
Esse breve pensamento de Clarice Lispector, diante dos pecados humanos, faz pensar sobre como vivemos em nossa sociedade em que o lugar de solidariedade, passa pela mão daqueles que estão em situação de vulnerabilidade. Isso se nos atermos apenas a primeira frase de sua reflexão. Na sequência, somos instados a pensar sobre nossas misérias humanas.
A compreensão comum que se busca, sobre os problemas nacionais, evidencia que muito do que se chama de miséria ou miserabilidade não tem apenas contorno financeiro, mas moral. Afinal, estamos diante de uma sociedade elitista e desigual.
Os números da miséria, evitáveis com políticas públicas e melhor distribuição de renda, apontam que os mais pobres como pessoas desprovidas de conhecimento sobre seus direitos e cidadania mais elementar. Muitas vezes, estão dispersas as possibilidades de ter dignidade diante dos infortúnios trazidos pela vida em sociedade.
Nada é feito para reduzir os números da miséria, entra e sai governo. Mas precisamos pensar como, de fato, reduzir a desigualdade entre aqueles que são muito ricos e os que são miseráveis. Esses últimos, são pessoas completamente invisíveis diante da sociedade. A sociedade não olha e nem reconhece os pobres e miseráveis como humanos. São os que dão milho aos pombos, em praças públicas!
Preocupa reconhecer que a miséria aumentou nos últimos anos. Na verdade, ela nunca deixou de existir, somente deu uma trégua por alguns anos, graças a políticas sociais. Mas ainda estamos chafurdados em pobreza extrema e miséria.
Os números indicam o real tamanho da ausência de perspectivas de alguns cidadãos brasileiros. O Banco Mundial, adotou como medida para a situação de miséria, todas as pessoas que tenham renda inferior a 1,9 dólares por dia. Por aqui consideramos em reais medidas, ou seja, R$ 10,00 – nas contas de hoje. Esses somam 14 milhões de pessoas em 2021. Temos, ainda, os que estão em situação de pobreza, quase no limite, que são mais 2,8 milhões de famílias, que vivem com valores em reais entre R$ 90,00 a 179,00. Números crescentes, em função da pandemia e da crise econômica que se mostra contundente ao longo dos anos.As pessoas que podem e fazem algo pelos menos afortunados, numa atitude solidária, ouvem gritos de ‘Não os alimente! Não cuide deles!’ Estaríamos colaborando com a preguiça, indolência e o crime!! Mas isso aponta apenas para os conseguem se alimentar de forma digna.
Pelo lado das humanidades, não temos números reais que possam expressar as múltiplas falas de horror em relação a essa situação calamitosa. Cuidemos daquilo que há de melhor em nós – humanos – a caridade e solidariedade, como forma de minimizar a dor da fome, elevar a dignidade e cidadania na medida em que nos tornamos, por isso mesmo, vivos.
Andreia dos Santos – socióloga e professora universitária (Curso de Ciências Sociais – PUC Minas), mestrado e doutorado em Sociologia pela UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais.
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