Ninguém é de Ninguém é uma adaptação do romance espírita de Zíbia Gasparetto. Essa versão cinematográfica do best-seller se destaca na obra do cineasta Wagner de Assis. Afinal, o diretor especializou-se em trazer às telas de cinema obras marcantes do kardecismo. Com isso, ele assinou filmes como “Nosso Lar 2: Os Mensageiros” (2023) e “Kardec” (2019). Porém, aqui o realizador consegue entregar um produto mais próximo às reflexões coletivas.
Dessa forma, Ninguém de Ninguém evidencia a perspectiva kardecista sobre os relacionamentos abusivos. Este é um tema importante para os debates contemporâneos. Então, é interessante conhecê-lo sob uma base filosófica espiritual e complexa. Com isso, o filme guia os espectadores a reflexões que o convidam a moldar o próprio comportamento. Nesse sentido, vale esclarecer que a minha análise que se segue vem de uma perspectiva budista da história. Ou seja, enxergo os espíritos que aparecem na narrativa como uma metáfora para as manifestações complexas da mente humana.
Assim, Ninguém é de Ninguém segue o casal Gabriela (Carol Castro) e Roberto (Danton Mello). Eles têm dois filhos e encontram-se em um momento difícil já que Roberto perdeu o emprego. Então, quem sustenta a casa é Gabriela. Porém, ele se vê preso a um ciúme doentio pela esposa. Ou seja, segue-a em qualquer lugar, fantasiando que ela está tendo um caso com o chefe dela. Este é o Dr. Renato (Rocco Pitanga), que também passa por dificuldades com a esposa Gioconda (Paloma Bernardi). Com isso, a vida dos dois casais se entrelaça por mentiras, relacionamentos desgastantes e tragédias.
Em Ninguém é de Ninguém, Wagner de Assis oferece uma narrativa sobre a violência contra a mulher e os relacionamentos de posse e subjugação. Dessa forma, o cineasta é hábil ao sugerir aspectos complexos dos relacionamentos humanos. Além disso, mostra-se um diretor de atores competente. Assim, Carol Castro provoca empatia por uma mulher profissionalmente bem-sucedida e eficiente. Porém, o faz sem esquecer que muitas mulheres nessa posição acabam sendo tão vítimas do abuso e da própria desvalorização como qualquer outra. Isso ocorre muito em função do imaginário sobre o papel da mulher em relação ao homem. Assim, acompanhamos a força e a vulnerabilidade da protagonista.
Já Danton Mello traduz bem o lado sedutor de um homem possessivo e com um claro desvio de caráter. Ao mesmo tempo, o ator consegue manipular os pontos fracos da plateia, provocar ódio e pena e convencer de que ninguém é de todo o mal. Portanto, a presença do personagem é incômoda e nos leva a questionar os motivos de ele aparecer tanto ao longo do filme. Tudo isso culmina em uma bela reviravolta ao final.
Sophia Mendonça é uma youtuber, podcaster, escritora e pesquisadora brasileira. Em 2016, tornou-se a pessoa mais jovem a receber o Grande Colar do Mérito em Belo Horizonte. Em 2019, ganhou o prêmio de Boas Práticas do programa da União Européia Erasmus+.
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