Disponível na HBO Max, “Nasce uma Estrela” é um filme sutil. Mas apresenta uma intensidade de emoções que o tornam impactante, marcante e forte em todas as linguagens apresentadas. Esta é a quarta versão da história clássica e traz a diva pop Lady Gaga num papel que já foi de grandes atrizes, como Janet Gaynor, Judy Garland e Barbra Streisand. Assim, o longa-metragem de 2018 tem como um de seus diferenciais as performances impecáveis de Gaga e Bradley Cooper, que também assina a direção. Afinal, recorte na vida da personagem de Gaga é interessante ao mostrar que o sucesso não garante o equilíbrio (como podemos observar por seu par romântico), mas, que no caso da personagem dela, o equilíbrio é o que garante o sucesso. Este contraponto interessante está na espinha dorsal da obra.
Assim, Jackson Maine (Bradley Cooper) é um cantor no auge da fama. Um dia, após deixar uma apresentação, ele para em um bar para beber algo. E é quando conhece Ally (Lady Gaga), uma insegura cantora que ganha a vida trabalhando em um restaurante. Então, Jackson se encanta pela mulher e seu talento, decidindo acolhê-la. Mas, ao mesmo tempo em que Ally ascende ao estrelato, Jackson vive uma crise pessoal e profissional devido aos problemas com o álcool.
Dessa forma, Lady Gaga encarna Ally como uma mulher que traz uma benevolência intensa perante às dificuldades e a dependência química do parceiro. Essa simplicidade começa mesmo quando a personagem ainda é muito humilde, mesmo ela já sendo uma estrela em sua capacidade de expressão. Ou seja, Ally demonstra um equilíbrio surpreendente em todas as situações, desde o primeiro momento em que ela se apresenta a uma plateia grande à convite de Jackson. E mesmo com vestes humildes, ela demonstra autoconfiança sem ser arrogante. Esse equilíbrio emocional impresso pela atuação de Gaga é marcante durante todo o processo. Porém, há um único momento de fragilidade da personagem, representado por sua insegurança com relação ao nariz, como se este fosse barreira para o seu sucesso. E quando Jackson se fragiliza no ciúme, é nesse ponto que ele vai tocar para abalá-la.
O que nos traz a também brilhante composição de Bradley Cooper. Afinal, embora sejam similares no talento e na simplicidade, o casal difere na força dela e na fragilidade dele para encarar a vida. Então, a afinidade e empatia de um com o outro são inegáveis. Mas Jackson é fraco, visto o ciúme demonstrado quando Ally começa a fazer sucesso. Neste ponto, novamente merece destaque a atitude da moça, que se mostra firme sem dar muito importância ao comportamento do namorado. Aliás, a química do casal é outro ponto forte do filme, revelando-se intensa sem ser melosa. E Cooper ainda é hábil ao sugerir que, embora seu personagem considere-se um caso perdido devido à sua trajetória familiar e também por ter sido acostumado a ser cuidado pelos outros, a troca entre Jackson e Ally, com um cuidando do outro, é algo que faz bem para o seu personagem.
Além disso, é interessante notar como a cor de cabelo de Gaga muda para um ruivo durante a projeção e depois volta ao normal. O que pode ser considerado como preservação da essência de uma personagem que manteve a simplicidade e a possível autenticidade mesmo apos toda a ascenção. Também, os figurinos são relevantes ao sugerirem a mudança de status de Ally sem perder a coerência com seu jeito de ser, e inclusive a diferenciando da Lady Gaga cantora e performer a quem estamos acostumados.
Já cenas de show focalizam sempre os protagonistas e o público, dando destaque às figuras humanas ao invés de todo o glamour ilusório da profissão. Ao mesmo tempo, o uso do vermelho sugere, simultaneamente, paixão e perigo. Inclusive, a luz vermelha exerce papel fundamental num dos mais belos momentos do filme, que corta de uma cena chocante focalizando várias vezes o som de um cinto para uma cena de palco, numa belíssima ligação dramática. Neste instante, a solidariedade do público dialoga com a verdade transmitida pela letra cantada.
Sophia Mendonça é uma youtuber, podcaster, escritora e pesquisadora brasileira. Em 2016, tornou-se a pessoa mais jovem a receber o Grande Colar do Mérito em Belo Horizonte. Em 2019, ganhou o prêmio de Boas Práticas do programa da União Européia Erasmus+.
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Gostei muito do filme Até hoje fico arrepiado com a atuação de lady gaga