Sophia Mendonça e Ana Flávia Pascotto
O adoecimento mental durante a graduação é um tema muito recorrente, mas nem sempre é tratado de forma adequada. Hoje, a psicóloga Ana Pascotto fala sobre a importância de reconhecer e solicitar a ajuda profissional em casos de exaustão mental.
Sophia Mendonça: Ana, um assunto que pesa muito na vida das pessoas com autismo ou mesmo, na vida de qualquer pessoa, é o adoecimento psíquico durante a graduação e a pós-graduação, seja ela no mestrado no doutorado ou no pós-doutorado. Realmente, há uma pressão, um esgotamento nesses momentos e eu queria saber da sua visão sobre isso.
Ana Flávia Pascotto: O principal ponto é que, na entrada da graduação, há muitas mudanças na vida da pessoa. Ela está saindo do ambiente da escola, que é mais controlado, com o professor ali o tempo todo e o processo não depende tanto do aluno. Na faculdade, a autonomia vem meio que “obrigado”, você vem e faz. Sem contar com a pressão em casa, no trabalho. São muitos os fatores estressores, aliados a esse período de estudo e isso gera muita carga muito grande para o psíquico da pessoa que, às vezes, não vai ter tempo nem para o lazer. Essa pressão por mudança, essa saída de uma zona de conforto onde o indivíduo estava para uma outra, é que pode gerar um adoecimento.
Sophia Mendonça: Eu tive esse sentimento quando comecei a graduação, e agora eu estou com esse sentimento no mestrado. Embora eu adore o mestrado, adore pesquisar, embora sejam temas que vão ao encontro de questões da minha personalidade, eu acabo, às vezes, esquecendo um pouco de mim.
Ana Flávia Pascotto: É um processo até cultural. A gente tem que olhar o contexto social, porque antigamente não tinha tanto acesso à universidade e suas possibilidades. A graduação era mais voltada para o trabalho. Agora, além de dar conta de uma graduação, as pessoas têm que trabalhar para sustentar a casa e aí se sentem culpadas por não darem conta de estudar tanto quanto o outro colega, tem ainda essa comparação dentro da faculdade. São muitos fatores que podem gerar esse adoecimento. E a falta de procura por profissionais que possam ajudar também complica a situação.
No mês passado, o setembro amarelo, foi reforçada a necessidade de conscientização sobre a procura por esses profissionais, pois o adoecimento mental acontece, é real e não tem nada de frescura. Essa falta de procura profissional aumenta o índice de suicídios. Na UFMG, o índice é muito alto. (*Em 2017, foram noticiados três casos de suicídio na UFMG, vários outros casos foram noticiados em 2018 e a instituição lançou, dentre várias outras iniciativas de assistência e prevenção ao suicídio, a Universidade lançou o site Saúde Mental.) .
Sophia Mendonça: Realmente, a depressão não é frescura e a gente tem que buscar meios de lidar com isso. Eu, por exemplo, sou uma pessoa muito ansiosa, tenho transtorno de humor, então, eu sempre volto ao psiquiatra, à minha psicóloga para aprender a manejar tudo isso. O acompanhamento profissional é uma coisa importante.
Ana Flávia Pascotto: Atualmente, não podemos falar que em todas as faculdades há o apoio psicopedagógico, mas já é um fator bem importante ter começado a ter em várias delas. A procura por um profissional tem que ser um pouco desmitificada. Você não tem que ir ao psicólogo só quando você está em depressão ou por um transtorno de humor ou algo mais grave. Às vezes, em uma situação onde você não está vendo saída, o psicólogo, junto com você, pode encontrar essa saída para acabar o sofrimento. Não precisa, necessariamente, de tomar alguma medicação, e nem ter um *CID para procurar o psicólogo. O psicólogo não é coisa só de quem está doente ou coisa de “gente doida”. Esse profissional está ali para te ajudar a ver o problema de outras formas, e enxergar suas potencialidades para resolver o que deve ser resolvido.
Sophia Mendonça: O psicólogo te dá ferramentas para você ter a possibilidade de resolver seus problemas. Tem gente que fala assim: “Ah, mas é só conversar com um amigo”, mas o amigo não vai ter o distanciamento de um psicólogo.
Ana Flávia Pascotto: Exatamente, a proximidade pode prejudicar o processo. Porque você pode não falar de coisas importantes para o processo por medo de perder a amizade ou coisas do tipo. É essencial a ajuda do psicólogo porque ele tem a formação, a capacitação e a teoria para isso.
Sophia Mendonça: É preciso valorizar esses profissionais que são tão importantes em nossas vidas.
*O CID, sigla para a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde, é uma lista que determina e classifica as doenças.
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