“Mudança de Hábito” é um clássico das comédias dos anos 90. Assim, o filme discute de forma bem-humorada o conservadorismo religioso e como as instituições podem se atualizar mantendo seus ideais. Este curioso argumento é bem explorado e serve de mote para situações bastante divertidas. Porém, o grande mérito do filme é a atuação de Whoopi Goldberg, uma atriz que sabe como ninguém combinar comédia e drama no mesmo papel. Aliás, ela recebeu uma indicação ao Globo de Ouro pelo trabalho.
Assim, em Reno, Nevada, Deloris Van Cartier (Whoopi Goldberg) é uma cantora que acidentalmente testemunha um brutal assassinato cometido pelo seu namorado, Vince LaRocca (Harvey Keitel), um gângster. E enquanto tentam capturar Vince, um detetive, Eddie Souther (Bill Nunn), se encarrega de protegê-la. Então, Deloris é colocada no programa de proteção às testemunhas e vai para um convento em São Francisco disfarçada de freira, usando o nome de irmã Mary Clarence. Mas seu jeito extrovertido, que não é aprovado pela Madre Superiora (Maggie Smith), acaba fazendo ela dar uma nova vida ao coral, chamando a atenção das pessoas e de Vince.
Portanto, um dos pontos fortes da produção é que, embora trate-se de uma comédia despretensiosa, ela não teme abordar temas sérios com leveza e respeito. Ou seja, as mensagens da obra do cineasta Emile Ardolinosão válidas até os dias de hoje, quase 30 anos após o lançamento do longa-metragem. Assim, o diretor e o roteirista Joseph Howard nos lembram de que os ensinamentos religiosos transcendem as barreiras de qualquer instituição. Afinal, igrejas, templos ou centros são passíveis dos erros humanos, e podem resvalar no dogmatismo excessivo e no fanatismo. Contudo, a existência de tais instituições é necessária, pois a função delas é simples. Ou seja, reunir as pessoas para que tenham acesso aos ensinamentos sagrados – católicos, no caso do filme – e possam aplicá-los no dia a dia.
Neste sentido, é muito importante que as igrejas e outros locais religiosos adaptem a linguagem a um público mais jovem sem perderem seu ponto primordial, como forma de manterem a unicidade de mestre e discípulo viva.. Então, a performance de Goldberg é crucial para assimilarmos essa mensagem. Afinal, ela encarna Delories com seu natural talento cômico e como uma mulher que, apesar de ter atitudes “profanas” e muitos defeitos, tem um grande coração e é uma verdadeira criadora de valores.
Enquanto isso, Maggie Smith compõe a Madre Superiora como uma freira rígida, conservadora e autoritária. Porém, ela confere complexidade à personagem ao mostrar que, por mais difícil de lidar que ela seja, seus ideais são nobres e sua capacidade de aprender com o outro permanece preservada. Ainda que seja necessário um pouco de esforço para despertá-la. Também, Wendy Makkena e Kathy Najimy estão bem como duas freiras bastante simpáticas. E o elenco de apoio, assim como a caracterização dos ambientes, se encaixam perfeitamente nesta divertida comédia. Já a trilha sonora une de forma agradável os dois mundos retratados no filme: o da igreja e o do showbizz.
Sophia Mendonça é uma youtuber, podcaster, escritora e pesquisadora brasileira. Em 2016, tornou-se a pessoa mais jovem a receber o Grande Colar do Mérito em Belo Horizonte. Em 2019, ganhou o prêmio de Boas Práticas do programa da União Européia Erasmus+.
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