Militar é preciso, ser entendido não é preciso. Ou antes, é impreciso. Eu já era ativista pelo autismo e inclusão desde antes do meu diagnóstico. Minha filha jogou luz nesse universo que, quanto mais eu estudava, mais me encantava. Depois de meu diagnóstico, o motivo ficou claro. Ou seja, muita coisa passou a fazer sentido em minha vida.
Quando se trata do outro, a opinião, muitas vezes, vem plena de julgamentos. “Para de falar que você é autista, mão precisa.”, “O que? Mas todo mundo é assim.“, “Nossa já deu. Tudo para você é sobre o autismo.” Santa empatia enviesada. Claro que tudo é autismo para mim. Certamente eu não sou o autismo. Mas o autismo me trouxe respostas que eu gosto de repassar à sociedade. Afinal, os estudos atuais apontam que ‘uma em cada 44 crianças aos 8 anos de idade nos Estados Unidos é diagnosticada com o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), segundo relatório do CDC (Centro de Controle de Doenças e Prevenção), publicado em 02 de dezembro de 2021′.
Por mais informações que a sociedade tenha, ela ainda é ágil em julgar o comportamento da pessoa autista e, de maneira geral, condenar suas atitudes. Os últimos meses foram especialmente desafiadores. Minha menina se submeteu à uma cirurgia de grande porte, em outra cidade. Houve uma intercorrência. Mãe e filha somos autistas, logo podemos responder mais intensamente a situações assim.
Os aspectos sensoriais de minha filha, tornam o pós operatório mais cansativo. A falta de conhecimento da área médica sobre o TEA, também. Mas, para os envolvidos está tudo bem já que a parte deles, a cirurgia propriamente dita, foi finalizada. Mas, claro, não é assim para o autista e o familiar que irá acompanhá-lo.
Desde que retornei de Blumenau, estou às voltas com supervisão de ostomia, exercícios pós operatório, administração de casa, trabalho home office, lavação de roupas, muitas roupas. No terceiro dia de retorno, pedi ajuda à minha sobrinha que me atendeu prontamente. Mas a verdade é que depois… eu e minha filha, minha filha e eu.
Eu entendo que seja complicado para a família lidar com minha garota. Ainda mais em momentos assim. Mas, por favor, não cobrem ao dizer que se ela pode escolher se operar ou não,
tem de dar conta de todas as consequências. Não é bem assim.Houve uma intercorrência e diante disso, do trabalho, dos afazeres e de algumas características limitantes, veio um outro diagnóstico. Reação aguda ao estresse, também chamada de choque psíquico. Isso é um estado de crise, fadiga de combate, ou ainda, popularmente conhecido como “estado de choque”. Ou seja, é uma resposta não adaptativa a um acontecimento particularmente estressante ou uma alteração particularmente marcante na vida de uma pessoa. Costuma desaparecer dentro de algumas horas ou alguns dias.
Como minha filha está dentro do TEA e apresenta, ainda, outras condições coexistentes, a severidade dessa reação é maior. Assim, como sua vulnerabilidade e a capacidade de enfrentar situações difíceis. Sendo assim, a mesma catástrofe pode ser muito mais traumatizante para aqueles que apresentam menos habilidades físicas, maturidade, experiência, conhecimentos técnicos adequados e preparo psicológico para lidar com situações de estresse.
A sintomatologia é variável. Mas, de maneira geral aparecem: Estado de aturdimento, caracterizado por um relativo estreitamento de campo da consciência. Também, problemas para manter a atenção ou de integrar estímulos, além de uma desorientação. Então, pode haver um distanciamento do ambiente ou uma agitação com hiperatividade (reação de fuga).
É isso, mãe e filhas autistas, convivendo com este quadro e mais todas as atividades de um dia a dia intenso. Mais amor e menos julgamento, por favor!
Selma Sueli Silva é graduada em Jornalismo e Relações Públicas pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, além de Especialista em Comunicação e Gestão Empresarial. Atuou, como produtora e apresentadora, nas rádios Itatiaia (de 2001 a 2015), Inconfidência, Autêntica Educativa e Super. Foi assessora chefe do INSS/MG, de 1993 a 2001. É autora de cinco livros. Foi diagnosticada com TEA (Transtorno do Espectro Autista) em 2016. Mantém o site “O Mundo Autista” no Portal UAI e o canal do YouTube “Mundo Autista” desde 2015.
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