Médica e Mãe atípica – uma história de amor. Duas vocações que transformaram a vida da Dra Raquel Del Monde. Confira aqui:
Quando eu era criança e me perguntavam “O que você quer ser quando crescer?”, eu nem hesitava. “Médica”, respondia na hora. Certamente, não mudaria minha escolha hoje. Apesar da sobrecarga crônica, da exaustão, das exigências infinitas da profissão, ser médica me proporcionou experiências incríveis. Por exemplo, como descrevi alguns anos atrás: “Um dia você coloca o sorriso de volta no rosto de alguém. E nunca mais essa sensação vai te abandonar.”
Ser mãe era um desejo ainda mais profundo. Assim, não pensava nisso como uma opção – sempre foi uma certeza. Mas foi justamente quando esses dois papéis – o de médica e o de mãe – se cruzaram que a minha vida se transformou de verdade.
Concretizar sonhos exige planejamento e muita dedicação. Dessa maneira, eu tinha o roteiro pronto e segui todos os passos à risca: formar na faculdade, terminar a residência, casar e ter filhos. Já era pediatra há alguns anos quando nasceu meu primeiro bebê. Aliás, um bebê que virou minha vida de ponta cabeça…rsrs
Foram oito anos até o diagnóstico de autismo. Oito anos em busca de respostas; muitos palpites, muita invalidação. Desse modo, bati à porta de muitos especialistas. Lembro de como fiquei inconformada com a falta de conhecimento sobre neurodesenvolvimento na formação dos profissionais da saúde, mesmo os de saúde mental. E se chegar ao diagnóstico foi difícil, saber o que fazer com ele era ainda um outro nível. Como lidar com os comportamentos desafiadores, com os problemas na escola? Mas ninguém sabia realmente me apontar o rumo certo.
Entretanto, minha natureza não permitiu que eu me acomodasse a essa situação.
Eu tinha as ferramentas da profissão e decidi usá-las. Assim, mergulhei no estudo, frequentei cursos e congressos, estabeleci contatos com outras famílias. Em pouco tempo, todo esse esforço começou a render bons frutos.Desse modo, comecei a ser procurada espontaneamente por pessoas que tinham filhos autistas. Fui descobrindo cada vez mais coisas nesse novo universo, tão diverso. Eu me lembro até hoje, do momento em que a ficha caiu e entendi que podia ajudar muitas outras pessoas, não só o meu filho.
Mudar o rumo da minha carreira foi uma decisão consciente e um processo gradual. Assim, trabalhar com neurodesenvolvimento me envolveu completamente. Trilhar esse novo caminho me trouxe muito mais que conhecimento técnico na minha área: abriu meus olhos para a discriminação das minorias na sociedade, o preconceito, a desigualdade de oportunidades, as falácias do sistema. Também me trouxe pessoas maravilhosas e vivências inesquecíveis.
Concluindo, não consigo mais imaginar como teria sido minha vida sem todas essas mudanças. Provavelmente mais fácil e tranquila, mas infinitamente menos enriquecedora e interessante.
Hoje em dia, quando me pedem um mini currículo para me apresentar em palestras e cursos, ser mãe de um rapaz neuroatípico aparece junto à minha formação profissional.
Também não consigo ignorar a sensação – tão real – de que tudo é exatamente da maneira que deveria ser.
Mãe de um rapaz neuroatípico e Neuropsiquiatra | autismo, TDAH, neurodiversidade.
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