Selma Sueli Silva
Muitas vezes, dissemos aqui que o autismo no feminino é diferente. Se a mulher é sensível, a mulher autista é mais, se quando se frustra a mulher chora, a mulher autista chora mais, tem crise. Além disso, no meu caso, se não quiser que eu pense em todos os ângulos daquilo que você está falando, não me conte. No dia a dia, é cansativo assistir a filmes. Contraditório? Não. Apesar de ser entretenimento, o autista (eu e Victor), analisamos o que se quis mostrar e como se mostrou. Victor diria; “Semiótica pura.”
Assim, fomos assistir ao filme Fala Sério, Mãe!, atendendo a um convite do Victor. Ele disse que queria assistir à comédia comigo. Fui. Adoro comédias, sou fã da Ingrid Guimarães e, descobrir todo o talento de Larissa Manoela me fez constatar que ter nome duplo não estraga a vida de ninguém. Viu, Victor Arthur?
O filme, adaptado do livro Fala Sério, Mãe!, de Thalita Rebouças, conta as histórias de Ângela Cristina (Ingrid Guimarães), e de sua filha adolescente Maria de Lourdes (Larissa Manoela). O roteiro traz as venturas e desventuras de uma mãe e da filha adolescente e vice versa. Cristina vive numa montanha-russa de emoções, com medos, frustrações e queixas. Por outro lado, Malu, como a filha prefere ser chamada, também tem suas insatisfações. Determinada, ela sofre com os cuidados excessivos da mãe.
Terminado o filme, Victor ainda se divertindo com algumas cenas, me pergunta: “E então, gostou?” Eu me virei para ele e ele percebeu: eu estava com os olhos úmidos. É que o exagero, próprio da comédia, transformou o sonho de ser mãe, em chavões que embora divertidos para muitos, acaba por depreciar a boa mãe que a personagem tenta ser.
Cristina entra em um caminho sem volta, que a torna mãe de 3 filhos em curto espaço de tempo. E dá-lhe clichê: o marido ‘esquecido’ pela mulher acaba por arranjar uma amante, e passa a representar apenas um papel ao lado da agora, mãe e dona de casa. Não há diálogo anterior, não há o movimento desse homem para tentar ser parceiro e amenizar o furacão que assusta a personagem. Ao contrário, há uma cena em que, pela primeira vez, depois da chegada da filha, o casal sai para dançar e se divertir. Mas a noite acaba com o marido tentando entender porque eles deveriam retornar, após um telefonema da mãe dele dizendo que a neta estava ardendo em febre. Essa foi a primeira e a última tentativa de tirar o casamento do círculo vicioso de agora somos só pai e mãe.
Nas próximas cenas, vemos uma mãe aflita que, orientada pelo pediatra, entra debaixo do chuveiro, com roupa e tudo, para um banho frio. Anos depois, os papéis se invertem. O casal já está separado e a filha, adulta. O filme mostra novamente, a cena do banho frio, agora com a filha cuidando da mãe que tinha chegado bêbada em casa. Isso mesmo: bêbada na primeira vez que ela, incentivada pela filha, resolve sair. Na sequencia, a personagem passa por vários namorados e nenhum amor. Os namoros são ‘flashs’ do tipo ‘sentadinhos no sofá da sala’.
A situação financeira aperta e Cristina tenta resolver a equação de pouco salário e muitas contas a pagar. Afinal, ela não quis pensão e nem a ajuda do ex-marido – mesmo tendo 3 filhos. Sim, ela abriu mão de um direito que não era dela. Nessa hora, a filha MARAVILHOSA, embora a mãe seja apresentada como campeã de micos, percebe que quer ser como ela e sai em busca de um emprego. Pouco depois, Malu leva a mãe a um restaurante chique para contar sobre a perda da virgindade. Cristina fica histérica mas acaba por se esquecer do susto, para se jogar, no outro dia, no palco, ao lado de seu ídolo, Fábio Júnior. É que para compensar, a filha resolveu financiar o sonho de consumo da mãe.
E o pai? Ora o pai que ‘foi desobrigado’ de pagar pensão, leva os filhos, regularmente, para se divertirem. E só! Afinal, ele recompôs a vida. Foi promovido, se casou novamente e vive feliz com a NOVA mulher, num ‘tour’ constante pelo mundo.
Mas como prêmio de consolação, Cristina e a filha são ‘best-friends’, embora as maiores mudanças na vida da garota (perda da virgindade e viagem para Londres), tenham sido relatadas primeiro ao pai. E a mãe? Ora, ela teve direito de voltar para casa e os outros dois filhos, ouvindo Fábio Junior, sendo feliz com a felicidade da filha.
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