Selma Sueli Silva
Tem hora que a gente precisa conversar sim, um papo de mãe para mãe. Vamos fazer isso agora! Hoje, eu estou querendo falar sobre essa coisa de ser mãe atípica: Complicado, às vezes, né? Maravilhoso, outras vezes. Será? Eu me de lembro que, quando eu recebi o diagnóstico do meu filho, alguma coisa diferente aconteceu. Porque é como quando você engravida: você passa a só ver mulher grávida. Quando você está querendo emagrecer: só vê publicidade, coisas de gente que está querendo emagrecer. Ocorre que, quando você recebe o diagnóstico, se vê, se percebe ‘mãe atípica’, aí é complicado.
Porque você começa a perceber que, no primeiro momento que você conta para as pessoas mais próximas a você, ok, elas ouvem. Mas, na segunda vez que você vai falar, aí já não têm tanta paciência. E, na terceira, já te olham, às vezes com pena, às vezes com irritação. É como se não quisessem ser contagiadas (Parece duro, né? Mas, foi o que senti.) por aquela coisa triste que está acontecendo com você.
Acontece que, não necessariamente, é triste. Eu, por exemplo, acabava de vir de uma jornada imensa de busca pelo diagnóstico e receber o diagnóstico foi libertador. Só que eu não sabia nada de autismo. Eu tinha que entender disso. E para entender, eu precisava falar; para você se ouvir, é preciso troca, mas normalmente, você não acha, você não encontra isso. Hoje é diferente a realidade, e ainda bem que é diferente da realidade de 2008. Existem tantos grupos de mães, grupos de apoio, treinamentos de pais etc. Mas, na realidade, você passa também por aquele período em que você começa a estudar tudo sobre o assunto. Você engole as coisas, vai, pesquisa e fica expert , pelo menos, você se acha expert no assunto.
E aí, um belo dia, você percebe que não dá mais um telefonema para a amiga, você quando é casada pode não estar dando atenção para o marido, se tem outros filhos, pode não estar dando tanta atenção para esse filho, e aí, você percebe: “Há quanto tempo eu não vou a um salão?”; “Há quanto tempo eu não arrumo meu cabelo?”, “Há quanto tempo eu não faço as minhas unhas?”, “Há quanto tempo que eu não leio um livro que eu escolhi, que eu quero para mim?” E aí, você percebe que está naquela fase de baixa autoestima e é complicado. Nesse momento, a única coisa de que eu tenho muita certeza é que sentir pena de você não ajuda
. É real, tem hora que a gente fica feia, que a gente se esquece de tudo, que a gente tem que reprocessar isso tudo, mas sentir pena, não. A gente tem que “disciplinar” essa nova fase da nossa vida. Esse novo registro da nossa vida. A gente tem que entender a “regra do jogo” para a gente jogar.Então, você vai se disciplinando: você aos poucos, vai voltando para o salão, dependendo da fase em que seu filho está; se está na terapia, enquanto ele faz a terapia, nos dias em que você não participar junto, (porque é muito importante a presença), ou negocie com o pai, ou com a babá, aí vá fazer uma natação, uma ginástica, arrumar um tempo para você. Ou, ficar ali, na sala de espera, fazendo um artesanato, alguma coisa. O importante é que você não se esqueça do que você gosta, do que te faz feliz, do que te faz sorrir. Porque, muitas vezes, a gente reclama que nossa vida mudou, mas a gente não deu chance para a nossa vida. Se eu falar com você que é fácil, lógico que estou mentindo. Não, não é fácil. Mas quem disse que viver é fácil? Cada um não sabe onde o calo aperta?
Então, é muito interessante, muito importante que a gente aprenda a conviver, a lidar com a nossa vida do jeito que ela é. E, no meu caso, ajudou muito a orientação espiritual. Eu sou budista, tenho o meu mantra (Nam Myoho Renge Kyo.). Meditar ajudou bastante e me ajuda até hoje. O importante é que a gente não se esqueça de nossa religião, católica, evangélica, candomblé, qualquer que seja a sua religião: que você não se perca da sua essência.
Porque, uma coisa é certa: você precisa ser inteira para se doar inteira para seu filho e para que ele colha os benefícios futuros de tudo isso.
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