"Nada sobre nós, sem nós"

Mais empatia com as mães, por favor!

Hoje quero refletir sobre um acontecimento bem recente para pedir: Mais empatia com as mães, por favor!. É que minha mãe relatou em um artigo recente que, em uma conversa informal, uma médica conhecida disse a parentes dela que mamãe poderia ter Síndrome de Munchausen por procuração. A constatação veio após essa amiga de nossos familiares ter presenciado uma crise envolvendo nós duas.

A síndrome de Munchausen por procuração é um tipo de abuso infantil em que um dos pais simula sinais e sintomas na criança. Um exemplo de sinal quando uma mãe mexe na medicação da filha de propósito para mantê-la em posição submissa e despertar a compaixão de outras pessoas. 

Nada do que se diz na hora da crise é válido

Mamãe demorou meses para digerir essa informação, que chegou até ela com ares de preocupação. Porém, quando ela finalmente conseguiu elaborar o assunto e compartilhá-lo comigo, confesso que a minha reação não foi empática. Eu pensei em quando, durante uma crise, ela ligou para o meu pai e disse: “vou ligar para o médico para ter certeza de que a Sophia não tem comportamento persecutório”. Na ocasião, minha psicóloga me orientou que nada do que ela diz na crise é válido. Como eu, mamãe às vezes fala algo agressivo quando está em colapso só para me atacar. Mas ficou a dor do peso daquela palavra em mim.

Então, eu gargalhei quando mamãe me contou essa história de Síndrome de Munchausen. Tanto por achar essa sugestão fora da realidade quanto por lembrar de situações como a que acabei de relatar. Toda essa conversa me soou como uma ironia do destino, ou o feitiço se virando contra a feiticeira. 

Mais empatia com as mães, por favor!

Acontece que a minha reação foi um gatilho para provocar uma nova crise em minha mãe. Então, mamãe percebeu isso e logo saiu de casa. Pouco depois, fui à psicóloga, que me explicou a gravidade daquela situação. A psicóloga não sugeriu o que eu deveria pensar ou sentir com essas novas informações que ela me trazia, mas a descrição que ela me deu foi suficiente para me tornar mais simpática à dor de mamãe.

Na verdade, senti até certo remorso. Percebi o quão doloroso deve ser para uma mãe, que luta tanto para equilibrar o quanto interfere na vida da filha para proporcionar autonomia e qualidade de vida a ela, ouvir um julgamento tolo desses. Isso pode até fazer essa mãe se questionar e trazer a ela um sofrimento ainda maior, depois de uma sensação de vergonha pós-crise. 

Conclusão

Além disso, a psicóloga me disse que minha mãe tem reações muito parecidas com as minhas em momentos de colapso. Isso quer dizer que ela não chega e fala sobre o assunto, diz que está chateada, ela já se altera e faz uma grosseria comigo. Vivendo isso tudo, tive uma nova constatação do quão difícil é o desafio da empatia.  Mesmo assim, sigo firme na tentativa de ter a melhor convivência possível com a mãe amorosa e dedicada que tenho.

Sophia Mendonça é jornalista, professora universitária e escritora. Além disso, é mestre em Comunicação, Territorialidades e Vulnerabilidades (UFMG) e doutoranda em Literatura, Cultura e Tradução (UfPel). Ela também ministrou aulas de “Tópicos em Produção de Texto: Crítica de Cinema “na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), junto ao professor Nísio Teixeira. Além disso, Sophia dá aulas de “Literatura Brasileira Contemporânea “na Universidade Federal de Pelotas (UfPel), com ênfase em neurodiversidade e questões de gênero.

Atualmente, Sophia é youtuber do canal “Mundo Autista”, crítica de cinema no “Portal UAI” e repórter da “Revista Autismo“. Aliás, ela atua como criadora de conteúdo desde 2009, quando estreou como crítica de cinema, colaborando com o site Cineplayers!. Também, é formada nos cursos “Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica” (2020) e “A Arte do FIlme” (2018), do professor Pablo Villaça.

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