Mãe autista, maternidade atípica, mãe atípica, mãe típica. Afinal, o que significa tanta nomenclatura diferente? A mãe típica é aquela que se enquadra no senso comum de normalidade. Assim, se tiver filho típico, exercerá a maternidade típica. Mas se o filho for atípico, fora do senso comum da normalidade? Então, a mãe típica exercerá uma maternidade atípica. Desse modo, a mãe autista com dois filhos, um típico e outro não, será…? Uma mãe atípica exercendo a maternidade atípica e atípica.
Fui chamada de mãe típica mas sou mãe autista, com maternidade atípica
Sempre soube que havia algo diferente com minha filha. Dessa maneira, busquei o diagnóstico, por anos. Ele veio quando ela estava com 11 anos. Nesta época, fui considerada mãe típica com maternidade atípica. Ainda assim, surpreendia os profissionais das áreas da educação e da saúde. Eu sabia explicar muitas reações de minha filha. Mais que isso, eu me reconhecia nelas. Meu psicólogo à época descartou essa possibilidade.
Então, segui a vida. Entretanto, meu cérebro neurodivergente sempre existiu e me apontava soluções. Soluções nem sempre aceitas pela equipe que nos acompanhava. Contudo, sabia que estávamos no caminho certo. Em 2015, passei a compartilhar minhas vivências com o mundo. Nascia, no YouTube, o canal Mundo Autista. Sophia estava com 18 anos.
Mães típicas com maternidade atípica
Em primeiro lugar, de maneira surpreendente, nossos vídeos alcançavam cada vez mais pessoas. Assim, agradeço a todas elas. Era certo que eu e minha menina compartilhávamos nossas vivências. Não tínhamos receitas prontas. Não éramos profissionais das áreas da educação ou da saúde.
No entanto, muitas mães se inspiravam na gente. Somos jornalistas e entrevistámos educadores e profissionais da saúde. O compromisso era, e ainda é, levar informações confiáveis ao nosso público. Se dependesse de mim e de Sophia, nenhuma família se sentiria sozinha, como eu e ela fomos um dia.
Mãe autista, portanto, atípica
Em 2016, recebi meu diagnóstico. Como resultado, veio a revelação. Em suma, eu sou autista grau leve, com transtornos da ansiedade generalizada e obsessivo compulsivo. Ou seja, por um lado, senti-me aliviada. Mas, por outro, fiquei preocupada com as mães típicas que se espelhavam na prova real de meu discurso de maternidade. Minha filha entrava para a fase adulta, com ótima performance. E muito por causa de meu cérebro que sempre foi neurodivergente. Foi assim, que decidi me esforçar ainda mais. Iria levar informações reais, embasadas e confiáveis a todas as mães. Quaisquer que fossem elas.
Ampliando horizontes
Em resumo, depois de muito estudo, de muita prática e de muita vivência, ampliei a atuação do Mundo Autista. Além da inclusão, somamos outras áreas. Agora falamos da educação, comunicação, comportamentos, cultura, construção da paz. E ainda, somos um espaço para todos os ‘lugares de fala’.
Enfim, nos abrimos para a diversidade humana. E, dessa maneira, passamos a colher a riqueza das diferenças que se complementam. O resultado é a construção lúdica e responsável de uma nova sociedade. Igualitária, equânime, humanista e democrática.
Afinal, o caminho da inovação pela criatividade nasce do somatório das riquezas singulares. Para enxergarmos isso, é preciso um ‘outro olhar’ e um ‘outro coração. E, claro, muitas, muitas vozes.
As vozes do fascinante mundo do autismo. Valeu!!!
Obrigada Canal Autismo (Francisco Paiva Júnior) que se une a nós com a mesma visão da força humana a partir das diferenças. Valeu Estado de Minas, pelo diálogo no DiversEM, espaço dedicado a contribuir para uma cobertura mais plural e diversa.
E nossos convidados: Crea Felicidad, uma equipe de líderes interdisciplinares com um trabalho personalizado para criar a felicidade em todas as vidas. Aquela felicidade que só a pessoa sabe como é e aquela que você deseja ter.
E mais: educador e doutor, Márcio Boaventura Júnior. A mestranda em Comunicação Social, Sophia Mendonça. A educadora, professora doutora da UFMG, Mônica Rahme. O psicólogo e professor de Yoga, Renan Kleber. A professora doutora e socióloga, Andreia dos Santos. A psicóloga, Adrianna Reis. A jornalista Gabriela Guedes. A jornalista e terapeuta ericksoniana, Mônica Cabanas. A contadora de histórias, Roberta Colen. A Dra. Kelly Robis, psiquiatra. Além de um time incrível que vem por aí.
Ah, e obrigada a você, que é nosso seguidor. Sem o seu apoio, nada disso se tornaria real.
Selma Sueli Silva, autista, escritora, jornalista, relações públicas, especialista e gestão empresarial. Budista, sonhadora, mãe da Sophia e mulher.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.
mãe atípica? sou autista também e pergunto: esse termo não é capacitista?