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Luto pós-diagnóstico?

Selma Sueli Silva

A palavra luto é, normalmente, sentida pela sociedade como uma coisa pesada, algo ligado à morte. Mas, na realidade, o luto é o momento em que você se dá um tempo para processar algo que vai exigir uma nova visão e você, possivelmente, vai se despedir de um ciclo e iniciar outro.

Nessa transição entre a despedida e o início do outro ciclo, você tem esse momento de luto para processar o que foi e o que será. O autista adulto, normalmente, não gosta quando a mãe diz que entrou em luto ao receber o diagnóstico. Mas eu, toda a vez que ouço esse termo “luto”, eu imagino nesse sentido: a mãe se fechando. Que chore; que grite, que ria, que beba. Ela está tentando processar uma nova informação. O desconhecido, normalmente, parece ser pior do que de fato é. Muitas vezes, pode ser até melhor.

Até então, ela achava que o caminho dela com o filho ia ser ‘assim, assim, que ela estava no controle. Quando é dito que o caminho dela com o filho pode não ser como ela planejou, aí ela tem de processar, planejar tudo de novo. E, falando sério, como eu sou das duas pontas, mãe de autista e sou autista: há muito julgamento dos dois lados. Julgam muito os autistas, mas julgam muito as mães de autistas, também. “Isso pode, isso não pode. Isso fica bem, isso não fica bem. Essa fala é legal, essa fala não é legal”. A gente tem que tomar cuidado porque, de uma maneira geral, somos formados para o preconceito; para ser capacitista

.

Então, como mãe, temos de ter cuidado para não perpetuar esse tipo de coisa. Mas, alguns equívocos a gente vai cometer, e tem de se perdoar. O mais importante mesmo é estudar, compartilhar, absorver, ver o nosso filho para além do diagnóstico. Porque o diagnóstico veio como um norte, mas o diagnóstico não é o nosso filho. O nosso filho é o nosso filho perfeito que vai ter a nossa parceria para descobrir e acreditar em todo o potencial que existe dentro dele, para que esse potencial desabroche para a sociedade e ele se transforme em alguém que valha a pena. Ou seja, um valor humano.

Então, o que eu sei é que a gente tem que ter empatia, cuidado, perdão e, principalmente, pensar: em quê eu posso ajudar para que essa pessoa saia de um lugar que não vai favorecê-la? Porque, olha, uma coisa é certa: de receita mágica, de opinião desnecessária, a família atípica está cheia. O que a gente precisa mesmo é de convivência, inclusiva e humanizada. E assim, o luto dessa transição passa e a gente começa a perceber que sim, com todos os percalços, com todo o sofrimento, (porque o sofrimento faz parte da vida), nós estamos chegando a fascinante mundo do autismo.

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