Lugar de fala não é atestado de sabedoria é tema da coluna de Sophia Mendonça, que aborda o que é o lugar de fala como conceito científico.
A noção de lugar de fala, como conceito científico, é algo relevante para pensarmos a produção de conhecimento sobre autismo. O problema é que, em grande parte dos contextos, essa ideia vem sendo distorcida.
Isso não se refere apenas ao ativismo por pessoas autistas. Aliás, é um problema que aflige praticamente todos os temas que envolvam vulnerabilidade e as discussões na Internet.
No livro “O que é lugar de fala?”, Djamila Ribeiro explica que este conceito não se refere à possibilidade de se representar ou não um determinado grupo social. Na verdade, o termo indica que sempre que falamos sobre algo ou alguém, a percepção que compartilhamos é fruto de interações da nossa observação sobre aquele com todo o repertório e bagagem de conhecimento que fazemos conosco. Portanto, quem fala, faz isso de um lugar. Isso é lugar de fala.
Porém, no senso comum, essa ideia vem sendo simplificada e até mesmo distorcida. Ou seja, para muitos leigos e ativistas, lugar de fala se restringe a quem pode falar sobre determinado assunto. Assim, somente um autista poderia entender as vivências de autistas, por exemplo.
Apesar dessa ideia estar muito em voga, ela desconsidera um aspecto básico da representação. Este tema é estudado desde Platão e, a partir de discípulos, ganha diferentes interpretações. Porém, uma coisa é certa: não é preciso passar por algo para comunicar sobre aquilo. Não é preciso, por exemplo, ser um psicopata pars escrever sobre psicopatia.
Então, o que devemos levar em conta nas discussões sobre lugar de fala talvez seja o aspecto menos observado nos debates acalorados da Internet. Ou seja, devemos ter consciência de que falamos de um lugar moldado por nossas vivëncias e percepções gerais, o que limita a nossa percepção sobre outras vivências. Portanto, para falar sobre um assunto, é necesário humildade.
Em vez disso, vejo muitas pessoas usando o lugsr de fala como um meio para invalidar, justamente, o lugar de fala do outro. Isso conduz a uma série de argumentações que raramente tem a ver com o que de fato se discute. Além do que, o conceito de lugar de fala näo ê um sinônimo de consciência nsm um atestado de que eu sei o que estou falando.
Sophia Mendonça é jornalista e escritora. Também, atua como youtuber do canal “Mundo Autista” e é colunista da “Revista Autismo/Canal Autismo“ e do “Portal UAI“. Além disso, é mestre em Comunicação, Territorialidades e Vulnerabilidades (UFMG) e doutoranda em Literatura, Cultura e Tradução (UfPel). Assim, em 2016, tornou-se a pessoa mais jovem a receber o Grande Colar do Mérito em Belo Horizonte. Já em 2019, ganhou o prêmio de Boas Práticas do programa da União Européia Erasmus+.
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