Liberdade individual: realidade ou ilusão? Vamos lá: A Constituição garante a todos nós: liberdade de locomoção, de opinião, de comunicação. Até de associação, de expressão, além de outras. Portanto, em tese, eu sou um cidadão livre. Você é livre. Todos somos livres. Será que somos mesmo?
Compreendo que existem duas classes, tipos ou categorias de liberdade: a liberdade, ou melhor, as liberdades que a Constituição nos assegura. E além dela, a liberdade interna, de foro íntimo. Essa última, resultante do conhecimento e domínio que vamos tendo de um verdadeiro mundo que existe dentro de nós. Um mundo cuja porta se abre com a chave do conhecimento. Aliás, um conhecimento não existente nos currículos acadêmicos.
Como garantir que sou realmente livre se dentro de mim existem alguns fatores que que não conheço nem domino? E que mesmo assim, determinam condutas e comportamentos dos quais, por vezes, depois me arrependo? Com uma palavra, um gesto, uma atitude, posso, inadvertidamente, ofender alguém. E, certamente, depois vem o arrependimento! O que é o arrependimento senão aquela sensação de certo desconforto? Um desconforto que experimentamos após uma atitude que tivemos e que nos desagradou. Se eu me arrependi, significa que não gostaria de ter tido aquela atitude. Então, o que me obrigou? Naquele momento fui, sem dúvida, manipulado por fatores que preciso conhecer e que determinam meu comportamento.
Uma pessoa tímida é livre? Compreendo que não! A timidez aprisiona o indivíduo. Além disso, o torna escravo de uma deficiência ligada à personalidade que imprime em sua vida uma limitação em muitos aspectos. Então, e o vaidoso é livre? Também não porque, em realidade, é também escravo de um pensamento que o leva a um comportamento que o torna pouco simpático diante dos demais. Além de levá-lo, até à obsessão, à necessidade de mostrar-se sempre superior aos demais, à ostentação.
Mas quem sabe? O fanático é livre? Sem dúvida que não! A própria condição de fanático já implica em estar atrelado a uma corrente que o aprisiona. E, certamente, o envolve nas teias do seu fanatismo, seja de natureza religiosa ou ideológica. Desse modo, o momento que atravessamos, notadamente no campo político, evidencia tal escravidão. Como uma pessoa fanática pode pensar por própria conta? E os chamados “livres pensadores” que, muitas vezes, se limitam a repetir ideias alheias, como se fossem próprias?
O que dizer, então, das pessoas preconceituosas, que julgam os demais sob as lentes dos diversos tipos de preconceitos?
O nosso mundo interno abriga nossos pensamentos – positivos ou negativos – nossas emoções, nossos sentimentos. Também abriga nossos projetos não revelados e as causas do nosso comportamento. Um mundo pouco conhecido. A liberdade decorre precisamente do domínio dos elementos que formam esse mundo interior. E que precisamos conhecer.
Uma última reflexão:
A liberdade de ir e vir pode ser suprimida de uma pessoa. Entretanto, sua liberdade de pensar, de refletir e de criar pode manter-se intacta. Mesmo que ela esteja na prisão. Por exemplo: o célebre romance, Dom Quixote de la Mancha, de Miguel de Cervantes, foi escrito no cárcere. O ano era 1597, segundo afirma a história. Dom Quixote foi acusado de ter se apropriado de dinheiro público, na condição de coletor de impostos.
Francisco Liberato Póvoa Filho, é educador, autor e co-autor de oito livros de Geografia, para Ensino Fundamental e Ensino Médio e cinco livros na área de Gestão Educacional. Toca violão e piano. Tem 3 músicas infantis incluídas no CD “Ser Feliz”, lançado em 2003.
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