Selma Sueli Silva e Camila Marques
Continuando o bate-papo sobre comunicação, Selma Sueli Silva e Camila Marques falam sobre os limites entre opinião e opressão e o papel do jornalista em tempos de Cultura do Cancelamento.
Selma Sueli Silva: Nós estamos falando sobre a comunicação, que é uma seara que a gente adora. Eu já vou começar com uma pergunta: Liberdade de expressão é dizer tudo o que a gente quer e tudo o que a gente pensa?
Camila Marques: Outro dia, eu ouvi alguma celebridade falando assim, “Se faz o outro sofrer, para quê insistir?”. Eu acredito muito em liberdade, prezo por isso. Seja no trabalho e até com amigos, como formadora de opinião procuro contribuir para isso. Mas precisamos dissociar o termo liberdade de expressão da ideia de liberdade de opressão. Não é porque algo é livre para mim que eu tenho que oprimir o outro. É aquilo que eu falei antes: “Se faz o outro sofrer, para quê insistir?”. Então, eu acredito muito em liberdade sim.
Selma Sueli Silva: Pois é. Há um tempo somente algumas pessoas podiam atingir um grande público. Hoje, pela internet, algo que falamos cai na rede e tem uma possibilidade imensa de atingir muita gente. E as pessoas começaram a falar tudo o que vêm na cabeça porque “eu tenho direito de falar tudo o que me vem à cabeça, por causa da liberdade de expressão”. Eu também sou contrária a toda e qualquer atitude que possa cercear a liberdade de expressão. Mas isso que acontece na internet não é liberdade de expressão.
Por exemplo, quando eu comecei o curso de jornalismo, já existia a Lei da Imprensa. O jornalista não é aquele cara que pode falar tudo o que ele quer e bem entenda. Ou melhor: ele pode até falar, mas pode ter de responder a um processo. Ele deve ser consciente da sua fala, daquela informação, porque o jornalista não pode trabalhar com os achismos. Ele tem que levantar dados, levantar informações, e passar essas informações de uma maneira fiel. E, com base nisso, ele pode, também, emitir uma opinião. Mas a opinião sempre fundamentada na verdade, nos fatos, só que, no mundo atual a liberdade passou a ser muito relativa, a pessoa fala: “Mas essa é a minha verdade”. Aí temos que fazer o exercício do coletivo. A pessoa que diz “Essa é a minha verdade e eu tenho direito”, ela não tem o costume de fazer o exercício de empatia com o outro. O que eu falo afeta o outro negativamente? Se afeta, eu tenho que repensar. Existe uma maneira de eu falar tudo o que eu quero sem ofender o outro? Claro que existe. Hoje, tem alguns movimentos na internet, em especial nas redes sociais que eu acho muito interessante. Por exemplo, existe no Instagram o @redescordiais
, onde há um debate sobre isso e compartilham a forma de você ter uma participação nas redes sociais de maneira construtiva. Toda vez que algo que você faz ou fala destrói, você tem que repensar. Destruir é muito fácil. Você leva anos para construir um prédio e segundos para colocá-lo abaixo. Outra coisa é quando tem uma pessoa mais inflamada, que deseja fazer um movimento “Nossa, fulano de tal falou isso. Vamos lá na página dele, execrar e protestar”. Em um minuto, aquilo tem uma adesão enorme. Vamos começar a fazer o contrário, que é ser multiplicador das coisas boas? Ser multiplicador das coisas que fazem sentido?A gente está próximo de um pleito (eleição, em novembro) que vai acontecer em uma condição muito especial, que é a condição da pandemia. “Ah, Selma, mas esse povo mente para a gente. Como é que eu vou escolher o melhor candidato?”. Educar filho dá trabalho, construir uma nação, também. Não adianta pensar que vai assistir horário eleitoral político e você vai ouvir o discurso e saber de tudo. Conhecer aqueles candidatos. Não. Nós já falamos do discurso, da mensagem que o político vai passar e que ele quer passar. Você vai ter que checar se aquela mensagem que ele está passando está coerente com aquele partido que ele escolheu: qual que é a ideologia desse partido, qual é a história dele. “Nossa fulano está lá há muito tempo”. Nesse muito tempo, o que ele contribuiu para o crescimento do Brasil? Em que ele foi importante para a nossa representatividade? Muida gente acha que está tudo ruim, que não vale a pena nem tentar acertar e chuta o balde. Eu tenho um amigo que diz que quando você chuta o balde, você derruba tudo o que está lá dentro: coisas boas e coisas ruins. Está na hora de a gente parar e pensar. E a pandemia veio nos mostrar que isso é necessário e é possível.
Camila Marques: É aquilo que eu disse lá no início. “Ah, mas estamos vivendo em tempos de cultura do cancelamento”. OK. Mas, não seria do bom senso de cada um ter responsabilidade sobre o que fala?
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