Julgamento destrói as mães - O Mundo Autista
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Julgamento destrói as mães

Animação original da Netflix "Enfeitiçados" - (crédito: Skydance Animation/Netflix)

Desde o início do meu exercício da maternidade, sou vítima do julgamento que destrói as mães. Bem cedo percebi o fenômeno. Dessa forma, ter filhos que não seguiam o padrão estabelecido pelo senso geral, rendia muitos rótulos às mães e a eles próprios.

Então, vinha o diagnóstico e a motivação aos rótulos mudava, mas o alvo não. Sempre as mães. Assim, percebi que o tempo de solidariedade em sociedade ou na família, tinha prazo de validade.

É preciso manter distância dos julgamentos

O afastamento social e da família foi um ato de defesa e de sobrevivência. Não havia tempo para ser alvo de julgamentos. Muito menos tempo para o julgamento que destrói. Também não queria macular as famílias ‘perfeitas’ que nos cercam a nós: ‘mães que deram azar.’

Minha filha cresceu, me preocupou bastante, me estressou, me ensinou, trouxe sofrimentos e muitas vitórias também. Eram muitos os motivos para choros sufocados e alegrias cheias de gargalhadas abobalhadas.

Julgamento destrói as mães

Muito tempo depois, acreditei que já poderia nos expor em nossas alegrias e tristezas. Logo, minha filha e eu, já maduras e calejadas, acreditávamos que devíamos confiar mais. Afinal, assim como nós, a sociedade também poderia estar mais madura. Mas que decepção. Em um dia de crise de minha menina, gritei por ajuda. Abri, com confiança, nossa intimidade. Mais que abri, compartilhei.

Foi o que bastou para o contato nefasto com os julgamentos e antigas dores. “Você não pode ceder às crises de sua filha. Ela já é adulta.” “Desse jeito, você morre e o mundo não será tão paciente com ela”. Mas um julgamento em especial, me chamou a atenção e me feriu muito, por alguns motivos:

  1. Vinha de alguém cuja fala pressupõe credibilidade, por ser médica;
  2. Não me foi dita diretamente mas sim aos meus tios;
  3. Estavam outras pessoas no grupo ao qual ela se dirigiu;
  4. Causou preocupação imediata aos meus tios, que confiam muito na pessoa.

Isso tudo sem uma convivência próxima comigo ou com minha filha. Da mesma forma que minha família. Sempre fomos muito reservadas. Compartilhávamos nossas vitórias e administrávamos, solitariamente, a nossa dor.

Mas a doutora, do alto de sua experiência(?), cravou o diagnóstico: síndrome de Munchausen por procuração. Mais não digo. Pesquisem para saber do que se trata. Afinal, estou até agora tentando entender tamanha leviandade. Muito cruel.

Selma Sueli Silva é criadora de conteúdo e empreendedora no projeto multimídia Mundo Autista D&I, escritora e radialista. Especialista em Comunicação e Gestão Empresarial (IEC/MG), ela atua como editora no site O Mundo Autista (Portal UAI) e é articulista na Revista Autismo (Canal Autismo). Em 2019, recebeu o prêmio de Boas Práticas do programa da União Europeia Erasmus+. Prêmio Microinfluenciadores Digitais 2023, na categoria PcD. É membro da UNESCOSOST movimento de sustentabilidade Criativa, desde 2022.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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