Victor Mendonça
Interessa, ancorado pela jornalista e escritora autista Selma Sueli Silva, vai ao ar de segunda a sexta, às 14h, na Rádio Super Notícia FM, 91.7, a partir de segunda, 06 de janeiro de 2020.
Ela é dona da gargalhada mais contagiante do rádio mineiro. Suas participações em programas radiofônicos registram mais de 200 mil ouvintes por minuto. Diagnosticada autista na fase adulta, aos 53 anos, Selma Sueli Silva estreou como debatedora no programa matutino Rádio Vivo, em 1999, da Rádio Itatiaia, dois anos antes de assumir, também, a produção da atração, onde permaneceu até junho de 2015. Formada em Relações Públicas e Jornalismo pela PUC-MG (1986 e 1988), a radialista tem mais de 30 anos de experiência no fazer jornalístico, incluindo uma década como assessora-chefe do INSS. Ela afirma ter debruçado seu hiperfoco sobre a Comunicação Social – incluindo uma pós-graduação em Comunicação e Gestão Empresarial realizada no final dos anos 1990 – como forma de aprender a entender as pessoas e de se colocar no mundo.
Selma, que participou ainda de programas como “Variedades” (2015, da Rádio Autêntica) e “Manhã Super” (Rádio Super, entre 2017 e 2018), se prepara para um novo desafio. Ela será apresentadora de um programa diário pela primeira vez desde 2016, quando deixou a ancoragem de “Em Boa Companhia”, na Rádio Inconfidência AM. “Interessa” vai ao ar de segunda a sexta-feira, às 14h, na Rádio Super Notícia FM, 91.7., a partir de segunda-feira, 06 de janeiro. O programa é baseado na página homônima do jornal “O Tempo”.
Desde 2015, Selma Sueli Silva está à frente, junto ao filho Victor Mendonça, do portal “O Mundo Autista”, onde aborda os impactos sociais do autismo e da inclusão em vídeos, artigos, crônicas e entrevistas. Ela também é autora dos livros “Minha Vida de Trás Pra Frente – A jornalista que se descobriu autista” (2017), onde narra sua trajetória pessoal e profissional, e do livro-reportagem “Camaleônicos – A Vida de Autistas Adultos” (2019), além de coautora, junto a Victor Mendonça, da coletânea “Dez Anos Depois” (2018).
Nesta entrevista, Selma Sueli Silva fala sobre a importância de ser uma voz feminina e autista em um grande veículo de Comunicação, além de seus projetos para o futuro e suas expectativas acerca do programa e do processo de aceitação do diagnóstico de autista recebido em 2016.
Sabemos que você tem uma rotina muito atribulada com palestras por todo o Brasil, devido a “O Mundo Autista”. Por que você se interessou pelo projeto do “Interessa”?
Eu não pensava em voltar ao Rádio, com um programa diário. Mas a proposta me encantou pois sempre fui fã da Seção “Interessa” do jornal O Tempo. Poder ampliar a discussão sobre assuntos tão pertinentes e instigantes sempre foi a minha cara. Não consegui resistir.
O diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista, em 2016, foi difícil de receber para você? Ele te deixou mais madura para assumir a apresentação de um novo programa diário?
Receber o diagnóstico de autismo aos 53 me trouxe a sensação de identidade roubada. Eu sempre tive a impressão de que tudo era mais difícil para mim. Fiquei numa espécie de transe por alguns meses, mas depois, respirei fundo e resolvi retomar minha vida, agora com muito mais legitimidade. O autoconhecimento é tudo. Resolvi celebrar minhas conquistas pós diagnóstico a chorar minhas perdas pela falta dele.
Como sua recente experiência de influenciadora digital impacta na sua atividade como radialista?
Descobrir um público fiel que me seguiria pelas mídias sociais e ampliar esse número foi uma das surpresas mais agradáveis de minha vida. O mundo digital conecta você a uma realidade ampliada que abre os caminhos para o jornalismo e te mantém mais “antenada” para levar a seu ouvinte não só o que ele quer, como o que ele precisa de ouvir.
Você já afirmou em entrevistas anteriores que se sentia como se fosse duas, devido ao papel que teve que assumir, desde muito cedo, no ambiente profissional, contrariando a timidez inerente a sua personalidade. Como você se sente, hoje, em relação a esse sentimento de inadequação?
Confesso que me pego ainda, por vezes, deslocada. Aí me lembro de quem eu sou e me liberto de cobranças desnecessárias. Nada como ser transparente e inteira. A vida fica mais leve e você passa a se doar em cada momento vivido. O resultado não poderia ser melhor: você tem de volta o melhor das pessoas que te cercam.
Em que o “Interessa” se difere dos demais projetos que você participou no Rádio?
O “Interessa” chega em minha vida no momento certo. É como se eu tivesse passado a minha vida toda me preparando para ele. Vou falar de saúde, comportamento, tecnologia, relacionamento, enfim, vou falar de vida, sem achismo, sem pretensão de ser uma sabe tudo. Serei uma facilitadora de assuntos que interessam para convidar o ouvinte a uma reflexão que faça sentido para a vida de cada um.
De que maneira você analisa a representatividade de termos uma autista como apresentadora de um programa de uma hora, diário, em uma grande emissora?
Se meu primeiro título fosse o de autista penso que não teria muita chance. Mas não, chego à Rádio Super com uma bagagem construída em mais de 30 anos de carreira. Com isso, eu espero mostrar ao mercado que o autista é alguém que tem um cérebro diferente, neurodivergente e que isso o coloca em vantagem em várias áreas do mercado de trabalho. É assim com o autista, porque é assim com gente. Cada um é único, com fragilidades sim, mas com potencial ilimitado quando é dado a ele a chance de fazer a diferença no lugar em que ele atua.
Você pratica uma filosofia de vida humanista, o Budismo de Nichiren Daishonin da ONG SGI (Soka Gakkai Internacional). De que maneira isso impacta em seus ideais como comunicadora?
Eu me alicerço nos pilares Paz, Cultura e Educação. Tenho o compromisso de prezar o outro sempre, de ser feliz e de fazer o outro feliz. Acredito que a nossa Revolução Humana diária nos leva a criar valores para a sociedade. E esses valores criados, a partir de nossas ações é que garantem um futuro de luz para toda a humanidade. Para praticar esses anseios na vida diária, nada melhor que ser uma comunicadora, com a responsabilidade de multiplicar opiniões e de construir uma sociedade mais inclusiva e humanizada.
Como é ser uma mulher no ambiente radiofônico? Estamos caminhando para a igualdade de gêneros nas emissoras?
Estamos em processo ainda, embora já tenhamos caminhado muito. A mulher ainda é maioria nas áreas de produção e apuração. Ter o microfone diante de si é um marco que estamos conquistando agora. E isso vai se ampliar quando todos perceberem o óbvio: no final das contas é o ser humano, independente do gênero, que faz toda a diferença.
Você está com 56 anos e permanece na ativa. Quais são seus planos para o futuro, pessoal e profissionalmente? Há algum novo livro em mente?
Não vou parar de escrever nunca. Escrevo diariamente e essa é uma forma de organizar meus pensamentos, minhas emoções e minhas aspirações. Tudo que eu quero agora é ir ao que “Interessa” e inspirar pessoas. Para onde isso vai me levar, só o tempo vai me dizer. Mas uma coisa é certa, lido com pessoas e amo isso. Por isso, o Rádio, os livros, o YouTube, as mídias sociais e o Portal Mundo Autista são tão importantes e significativos em minha vida.
Que mensagem você deixaria para os seus ouvintes e, também, aos seguidores de “O Mundo Autista”?
Não espere o amanhã. Nosso tempo para a ação é aqui e agora. Temos, a cada segundo, a chance de impactar positivamente tudo que nos cerca. Então, que venha 2020. Vamos arregaçar as mangas e seguir juntos. Basta primeiro passo para que possamos mudar toda a História. Vem comigo?
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.
Selma é uma pessoa simplesmente admirável, por diversas razões. Aguardo, ansiosamente, seu retorno ao rádio. Um talento profissional e um ser humano incrível!