Nos últimos tempos, tem aumentado, cada vez mais, a representatividade de autistas nas mídias. Logicamente, isso se dá por inúmeros fatores, dentre os quais podemos evidenciar principalmente o aumento de diagnósticos, de conscientização e a necessidade de protagonismo e de inclusão.
Importância do protagonismo
Quando consideramos outros movimentos de minorias paralelos ao do autismo ou de pessoas com deficiência, é fácil perceber que apesar dos pesares, são movimentos que estão anos luz à frente da luta de pessoas com deficiência.
Um bom exemplo seria imaginarmos um evento de empoderamento feminino composto unicamente de homens. Mas se esses homens são pais, irmãos, tios, sobrinhos e maridos de mulheres, eles saberiam nos dizer como uma mulher age e pensa, correto?
Errado. Quando fazemos isso, estamos ignorando uma experiência única e rica. Uma visão individual e essencial para a completa compreensão da complexidade do ser humano. É por essas e outras que é comum observarmos autistas reivindicando uma maior representatividade em eventos e organizações.
E pudera! A maioria dos eventos sobre autismo peca em sua própria temática: o autismo (ou a falta de autistas para falarem sobre sua experiência). Felizmente, é algo que não passou despercebido por muita gente. Cada autista é único e tem seu próprio conjunto de características e habilidades, de forma que é impossível encaixar esses fatores em um estereótipo. Além disso, é muito comum que esses eventos abordem apenas o autismo infantil, ignorando autistas adultos e idosos.
Porém, a criança diagnosticada anos atrás cresceu e se tornou adulta. E agora nos resta perguntar: cadê os serviços de apoio ao autista adulto?
E é com essa problemática que começamos nossa primeira coluna. Evidenciando um problema que algumas pessoas já observaram ou até que presenciaram em primeira mão.
Somos uma iniciativa com o propósito de incluir autistas no mercado de trabalho. Nosso embasamento vem de nossas próprias experiências e frustr ações no dia a dia profissional e o intuito é, de fato, realizar uma inclusão humanizada
de um grupo tão negligenciado pela sociedade quanto é o autismo.Com um percentual de 85% de desemprego entre pessoas no espectro, é necessário não somente realizar uma inclusão nas empresas, mas também conscientizar a sociedade como um todo, quanto as características e necessidades de uma pessoa no espectro.
A falta de emprego causa desmotivação e falta de autonomia ao indivíduo, principalmente em uma atualidade tão devastada pela pandemia. Além disso, também pode contribuir e desencadear problemas de saúde física e mentais como ansiedade e depressão, que já são bem comuns em pessoas com TEA.
Como se já não bastasse, ainda há a constante pressão da sociedade que julga como produtivos apenas os cidadãos empregados: você é analisado de acordo com o que trabalha, cargo, empresa e salário. Caso você não trabalhe, muitas vezes, é visto como um “fardo” para a família.
Portanto, adequar ou readequar uma pessoa no espectro para o mercado de trabalho não é apenas achar uma vaga que se adapte ao candidato, e sim verificar todo o ecossistema em volta dessa vaga, e é por isso, que o protagonismo e uma inclusão humanizada são de extrema necessidade.
Graduada em Informática Biomédica pela USP e pós graduanda em Web Full Stack pela PUC Minas. Atualmente trabalha como desenvolvedora front-end. Teve seu diagnóstico de autismo em 2018.
É fundadora da iniciativa “Inclusão Humanizada”, embaixadora do movimento “Autismo Tech” e membra do “AutInc”.
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