Victor Mendonça e Samuel Silva
Victor Mendonça e o psicólogo Samuel Silva falam sobre se assumir LGBTQIA+ para a sociedade, passando pelo processo de aceitação interno primeiro.
Victor Mendonça: No programa “Na real” vamos falar sobre um tema que, nesse mês do orgulho LGBTQIA+, é muito importante. Vamos compartilhar experiências de se assumir como uma pessoa que ainda é vista com um olhar marginalizado pela sociedade. Que, querendo ou não, ainda é vista com um preconceito velado ou explícito que, infelizmente, é muito prejudicial às pessoas, porque a diversidade é o que temos de mais belo. Hoje eu estou aqui com um psicólogo com quem já falei há alguns programas atrás e que eu sou fã, Samuel Silva.
Samuel é terapeuta afirmativo, ele faz um trabalho muito lindo em um projeto chamado Seja Cor com pessoas LGBTQIA+. Eu até conversei com Samuel nos bastidores e expliquei que eu queria uma coisa mais pessoal, sobre como é essa construção, que ele já até falou no último vídeo, de como é sair do armário, a gente se assumir como pessoa LGBT. Porque, no meu caso, mesmo eu vindo de uma família aberta, eu passei por um período de me aceitar e de me descobrir. E depois, de contar para os outros, pois minha família já sabia, mas eu só me assumi publicamente, em 2019. Dei uma entrevista e foi muito interessante. Eu estava conversando e pensei: “Por que não? Sou eu, gente! Posso falar!” . E falei.
Samuel Silva: Isso é curioso porque é um processo muito difícil para a gente, né Victor? Eu não sei você, mas desde pequeno, eu me percebia diferente em uma coisa que não sabia bem o que era. E geralmente são outras crianças, outros colegas que vão apontando isso na gente, às vezes de maneira não muito interessante, com algumas piadinhas, alguns xingamentos, então você vai se percebendo. O meu processo também não foi tão simples, tão rápido assim. Eu considero que me aceitei assim mesmo por volta dos 17 anos, já saindo do ensino médio. E aí, eu comecei naquele processo doloroso de primeiro se aceitar, se perceber, mas isso aconteceu. E, depois, de se assumir aos poucos, primeiro para uma amiga muito próxima, que eu também achava que era lésbica. Depois, para alguns outros amigos, alguns parentes que eu tinha uma afinidade um pouco maior e, por último, a gente assume para os pais. O meu processo aconteceu assim e meus pais tem uma certa sorte de ter um filho psicólogo que aí eu fui preparando eles por um tempo. Durante a graduação eu fui meio que dando uns indícios para ser mais tranquilo esse processo. E hoje eu estou aí, assumido publicamente, faz parte inclusive do meu trabalho.
Victor Mendonça: Você falou uma questão muito importante. A primeira, é a questão do bullying, que a gente sofre desde a infância, que eu sofri também. Eu falo que eu sofri muito mais bullying por ser gay do que por ser autista, eu tenho essa ideia. Sendo autista, as pessoas ainda têm alguma condescendência, mas ser gay, as pessoas acreditam que é uma escolha. Isso é muito enraizado culturalmente, é como se fosse uma coisa errada e não é.
Samuel Silva: É condenável, socialmente falando.
Victor Mendonça: Ainda mais na minha época, não sou tão velho assim. É uma coisa mais difícil, talvez. Mais do que seria hoje. E, outro ponto que você tocou que eu acho super relevante foi a rede de apoio ao LGBTQIA+. Eu tenho amigos e amigas que são bissexuais, homossexuais, e a gente troca experiência porque a gente tem uma vivência que são com os nossos pares. Como você disse, os nossos pais são os últimos a saber e geralmente são mesmo, e você foi preparando eles para isso. Tem um pouco da vivência que é com quem a gente tem essa troca, com quem tem empatia nessa questão por viver as mesmas situações que a gente, se não, semelhantes.
Samuel Silva: Exato! Por isso que é tão importante essa questão assumir-se, especialmente conhecer pessoas LGBT que estão posicionadas em espaços distintos. Às vezes, as pessoas acham: “Por que que as pessoas precisam ficar se assumindo e falando o que são?”, isso nos ajuda a nos identificar, a nos reconhecer nesses espaços. Às vezes, a gente passa por esse sofrimento na adolescência, infância, achando que a gente é esquisito, que a gente não está encaixado em nada, que é o único. É um sofrimento muito pesado. Então, quando a gente percebe que outras pessoas compartilham de um sentimento muito parecido é libertador. E os amigos acabam sendo essa rede de apoio fundamental nesse processo.
Victor Mendonça: Isso mesmo. Muito obrigado, Samuel por essa partilha muito rica. Viva o orgulho LGBT. Por quê? Para nos empoderar dessa condição.
Samuel Silva: A gente é mais ensinado, Victor, de que a gente não precisa expor isso, que é a nossa intimidade. Balela esse papo. Pessoas cis (cisgênero) e hétero, não expõem porque já é presumido que elas são hétero. Então, elas não precisam expor mesmo. A gente precisa, senão a gente fica silenciado. Então dizer que “eu sou gay” é igual dar bom dia: faz parte da cordialidade da minha apresentação. Já que não está na cara porque, às vezes, não está mesmo, então eu gosto de falar. É preciso ter orgulho, mesmo de quem nós somos, como você bem disse.
Contatos Samuel Silva
WhatsApp: (31) 9 9926 3265
Instagram: @seja.cor
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