No último dia do mês das mães, uma pergunta ressoa em meus ouvidos: filhos: tê-los ou não tê-los, eis a questão. Na minha geração, não havia essa opção. Era ensinado que ter filhos fazia parte do casamento, numa espécie de refrigério ao sufocamento, vindo com os tempos, da vida a dois. Eu demorei 7 anos para decidir ter filhos. Pensava que tinha de sentir o tal sufocamento. Como ele não veio, resolvi cumprir o que dizia a regra de então: ‘tenha filhos.’
Assim, com a chegada de minha filha, conheci o tal sufocamento que não é, necessariamente, algo ruim. É que educar filho exige muito da gente. Temos de, com o primeiro filho, aprender a sermos pais. Aprender, enquanto o jogo está rolando. Aí, acreditando que já aprendemos senão tudo, pelo menos muito, optamos pelo segundo filho. Doce ilusão. Criar e formar ser humano, não é ciência exata, onde 1 mais 1 são 2. A operação um filho mais um filho, enche uma casa e, dependendo do serzinho, a soma de 1+1 são 2, 3, 4, … ou sabe-se lá.
Mas uma coisa é certa: é tarefa para dois, três, quatro … uma rede de apoio inteira. Pai e mãe são os principais, mais ali, grudadinho, estão avós, tios, cunhados, educadores … enfim, todo o ambiente à volta daquele serzinho que está em formação. Duvida? Então, você nunca ouviu falar de epigenética.
A epigenética e os filhos: tê-los ou não tê-los, eis a questão
A epigenética é um campo de pesquisa que investiga como os estímulos ambientais podem ativar determinados genes e silenciar outros. Ela permite entender como a experiência é capaz de operar transformações profundas no organismo, mesmo que isso signifique destacar o DNA e não implique em mudar o genoma. Complicado mas real.
Além disso, as modificações epigenéticas permanecem à medida que as células se dividem e, em alguns casos, podem ser herdadas ao longo de gerações. Mas não é motivo para desespero se somos motivados a fazer sempre o nosso melhor. O que sai disso, faz parte do caminho para o sucesso final.
Toda mulher deve ter filhos. Será?
Minha mãe é professora. E como tal, eu a via sua preocupação genuína com seus alunos. Aliás, como filha, eu percebia a preocupação materna com eles, para além da preocupação da educadora. Assim, cresci com o exemplo de que todas nós, mulheres, nascemos com o potencial materno. Umas, o desenvolvem tendo filhos biológicos, outras, com os filhos do coração e outras, ainda, cuidando maternalmente dos filhos da sociedade. Mesmo sem os seus próprios filhos, essas mulheres emprestam o coração de mãe a filhos que não são vindos dela própria. Mais que isso, elas emprestam o coração e muitas de suas ações. Eu mesma consigo citar várias mulheres que tiveram importância determinante em minha formação. Como se eu fosse responsabilidade delas.
Por isso, não entendo e não aceito o escárnio quase generalizado destinado a mulheres que optam por não ter filhos. Essa opção não é a desistência de seu potencial materno. Mas a sociedade joga pedras, como se fosse atestado de uma pessoa egoísta. Quem somos nós, afinal, para julgar algum recorte da vida de quem quer que seja? Seria muito bom que nos abríssemos para os novos tempos e aceitássemos:
- “Vossos filhos não são vossos filhos…”
- A formação dos seres humanos não é expertise reservada somente às mães
- É preciso que o discípulo supere o Mestre para que a humanidade avance
- A frase ‘mexeu com o meu filho, mexeu com uma leoa’, deve ser atualizada para: “Mexeu com uma criança ou adolescente, despertou o meu potencial materno que me convida à ação.”
- Vamos agir individualmente, (cuidar de nossa Revolução Humana, no dia a dia) e pensar coletivamente.
Texto de:
Selma Sueli Silva é criadora de conteúdo e empreendedora no projeto multimídia Mundo Autista D&I, escritora e radialista. Especialista em Comunicação e Gestão Empresarial (IEC/MG), ela atua como editora no site O Mundo Autista (Portal UAI) e é articulista na Revista Autismo (Canal Autismo). Em 2019, recebeu o prêmio de Boas Práticas do programa da União Europeia Erasmus+. Prêmio Microinfluenciadores Digitais 2022, na categoria PcD. É membro da UNESCOSOST movimento de sustentabilidade Criativa, desde 2022.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.