Família atípica pode ser feliz? - O Mundo Autista
O Mundo Autista

Família atípica pode ser feliz?

Selma Sueli Silva

Selma Sueli Silva fala sobre os meios para buscar uma vida melhor apesar de todos os desafios.

Hoje eu vou esclarecer sobre um questionamento recorrente: “Selma, uma família especial, (como alguns falam) ou uma família atípica, pode ser feliz”? Claro, todo mundo pode e deve ser feliz. A nossa vocação e missão neste mundo é ser feliz. E não para por aí: nossa missão é ser feliz e fazer o outro feliz.

Acontece que muita gente ainda insiste: “Mas Selma, eu tenho três filhos, dois com autismo, um neurotípico que acaba ficando muito rebelde, numa rotina que não é fácil” etc e tal. Essa realidade não acontece somente em uma família, ela pode acontecer em várias famílias. E sim, ter filho com alguma necessidade que o torne diferente do que se convencionou como normal, ter filho que faz parte da neurodiversidade ou ter algum filho que tenha alguma doença, tipo diabetes, enfim, isso exige um pouco mais da gente sim. Traz mais sofrimento? Sim. É mais desafiador? Sim. Agora, a gente pode trocar de vida? A gente pode negociar para tornar as coisas mais amenas, como “Ou me ajuda aí, eu preciso de uma vida mais tranquila aqui em baixo”. Não, a gente não pode. Qual é a nossa vida? A gente tem que olhar para ela e falar: “Como eu posso lidar com essa minha vida de maneira que eu me torne mais leve para ser mais feliz?”

Hoje em dia, com a internet algumas coisas se tornaram mais fáceis. Existe certa comodidade porque a gente tem acesso a vários cursos online e gratuitos, a comunidades de apoio, o que facilita muito. Acontece que, quando a gente quer ficar chorando, quer ficar lamentando, a gente fica ali, amassando o barro, amassando o barro e não sai do lugar. Porque lamentação, apaga a boa sorte. Se sentir com pena de você mesmo, com auto piedade, nos paralisa. Então, não é que a gente não vá sofrer: “Sofra o que tiver que sofrer, desfrute o que existe para ser desfrutado, considere tanto o sofrimento como a alegria como fatos da vida e continue orando, não importa o que acontecer, e então experimentará a grande alegria da Lei.” Essa frase é do Buda Nichiren Daishonin. Então, eu sofri? Respira fundo e repita, “hoje eu não consegui, me perdoo por isso e amanhã será um novo dia.”

Nesse novo dia, eu tenho que verificar se estou inteira para lidar com a vida que tenho. Ou, às vezes, eu tenho que ir no YouTube para verificar uns exercícios de yoga, ou separar 15 minutos para ouvir, aquela que te traz boas recordações. Quer saber? Ou então cante debaixo do chuveiro, que é maravilhoso, bem alto, a plenos pulmões. Você deve estar pensando: “Selma, mas meu filho vai comigo até no banheiro”. Ok, eu vivi isso também. Mas eu também deixei de pedir ajuda porque eu queria que as pessoas percebessem que eu precisava de ajuda. E também tive experiência com aquelas pessoas que falavam “conta comigo, qualquer coisa estou aqui, não esqueça”. E quando eu ia contar, a pessoa não estava ali, do jeito que tinha dito que estaria. “Nossa, logo hoje que eu tenho compromisso”. Mas isso não deve impedir a gente de acenar, de sinalizar, de pedir ajuda. Inclusive nesses grupos, que são tão bacanas, que dão tanto suporte para a gente nesse mundo virtual.

É possível ser feliz? Sempre. É possível buscar essa felicidade e entender que desafios e problemas vão existir na vida de qualquer pessoa, o segredo está em aprender a lidar melhor com essa realidade. Negação não adianta, só chorar não adianta. Lógico que, às vezes, a gente chora sim, a gente fica triste sim. Mas, tem uma música que a minha mãe canta muito que diz assim: “levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”. É isso aí: vamos levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima, sempre.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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