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Eu me perdi de mim

Eu me perdi de mim, de repente, embora sorrateiramente. Aliás, desde a pandemia. Assim, sem mais nem menos, numa reviravolta louca. Um convite da vida à humanidade, para a mudança de rumo. Esperneie quem quiser, mas não somos os mesmos e não podemos mais, viver como nossos pais.

O mundo mudou

As humanidade ainda hesita. Mas verdade seja dita, o mundo não é binário. Não somos bipolares. Somos, isto sim, pluripolares. Não é ou isso ou aquilo. Há um espectro de possibilidades. Eu, desde sempre, hiperfoco em gente para, depois, traçar minhas estratégias. Tudo isso, no desejo de me sentir mais confortável num mundo tão inóspito para mim.

Na década de 90, presenciei a informatização chegando, para ficar, no mercado de trabalho brasileiro. A partir daí, o tempo passou a transcorrer de forma acelerada. Avanços em todas as áreas, o nascimento da geração Millennials, também conhecidos como Geração Y. Ou seja, as pessoas nascidas entre 1981 e 1996. Eles são considerados nativos digitais, pois cresceram com o desenvolvimento da internet, dos computadores pessoais e dos primeiros smartphones. 

Adicionadas a tanta demandas do mundo moderno, vieram minha filha, compondo já a geração Z, o TEA, Transtorno do Espectro do Autismo, as condições coexistentes, e o envelhecimento de todos, sem exceção, ao meu redor. Assim, a medida que o tempo voava, eu ia percebendo como a vida nos dá pistas o tempo todo. A partir delas, ou não, fazemos nossas escolhas.

Eu me perdi de mim

Nesse contexto, com o passar do tempo, eu me perdi de mim. Estava esticada entre minha mãe e o marido, depois entre mim, minha filha e meu marido. Claro, entre minha mãe também, causando, inclusive certo desconforto em meu marido. Em 2008, me separei e perdi minha vó. Por isso, fiquei, novamente, entre minha mãe que envelhecia e minha filha que demandava cuidados específicos. E eu? Sei lá. Adiava sempre pensar em mim mesma. Estava ocupada demais trabalhando, estudando, acolhendo, cuidando do outro.

2024 veio e me estapeou, num alerta impiedoso. Era preciso perceber que eu precisava me reorganizar. Cuidar de mim, para cuidar do outro. Sophia correu risco de morrer, o que me fez partir para Pelotas, no sul do Brasil, para cuidar dela.

Minha mãe, aos 83 anos, precisou do cuidado das três filhas, no afeto e na administração familiar, além de quatro cuidadoras. Confesso que o afeto ficou a desejar. Em tempos insanos, de maior tecnologia na medicina e na expectativa de vida, devemos acordar o mais rápido possível para repensar o nosso envelhecimento e o de nossos pais.

Reconectando comigo para me reencontrar

Hoje, aqui, dentro do carro, parada no sinal, inspiro, expiro. Procuro o verde da natureza. Tal e qual a minha psicóloga orientou. Percebo que me perdi de mim, no momento em que não equilibrei minhas asas de águia. Ora, a asa das demandas e das cobranças me parecia pesada demais. Ora a asa do afeto, do meu encontro com a natureza, com as gentes que tanto prezo, me fazia esquecer que era preciso pousar.

Mas, para pousar é preciso ter a consciência dessa ação. Afinal, um voo consciente nos coloca em contato com nós mesmos. Inspira, expira, se equilibra e volte a voar, Selma. Não se esqueça de que o voo da águia pode ser símbolo de força, coragem, visão aguçada e superação de desafios. A águia é uma ave que voa alto, mesmo em meio a turbulências, graças às suas asas articuladas.  Você também, Selma. Não se perca de si. Viva nesse encontro com a força divina de equilíbrio do universo. Inspira, expira e volte a voar!

Selma Sueli Silva é criadora de conteúdo e empreendedora no projeto multimídia Mundo Autista D&I, escritora e radialista. Especialista em Comunicação e Gestão Empresarial (IEC/MG), ela atua como editora no site O Mundo Autista (Portal UAI) e é articulista na Revista Autismo (Canal Autismo). Em 2019, recebeu o prêmio de Boas Práticas do programa da União Europeia Erasmus+. Prêmio Microinfluenciadores Digitais 2023, na categoria PcD. É membro da UNESCOSOST movimento de sustentabilidade Criativa, desde 2022.

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